A famosa rede Lojas Americanas, que frequento muito, nos últimos anos, para comprar várias coisas, seja em Niterói, Rio de Janeiro e São Paulo, está passando por um escândalo financeiro, com um rombo de cerca de R$ 40 bilhões. A empresa, que está em recuperação judicial (espécie de UTI das empresas), tem como sócios de referência Marcel Hermann Telles, Carlos Alberto Sicupira e o "rei da cerveja", Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil.
Magnatas acabam intervindo no culturalismo do nosso país, manipulando jovens e pobres no âmbito do entretenimento, domesticando seus instintos potencialmente rebeldes e conduzindo-os para o consumo plenamente impulsivo de produtos.
Há o caso do empresário da Esfera Brasil, João Camargo, da família dona da 89 FM, a dita "rádio rock" (não seria A Rádio Rockefeller?), um magnata que é líder das elites empresariais da Faria Lima, e que, em tese, investe na dita rebeldia roqueira do jovem considerado padrão na sociedade paulista. Se bem que os ouvintes da 89, ultimamente, mais parecem vaqueiros de Barretos, só que com trajes mais urbanos.
Jorge Paulo Lemann é outro, que, como sócio majoritário da Ambev, financia o entretenimento da maioria das pessoas, ao som de tudo quanto é ritmo musical brega-popularesco, com muitos dos seus sucessos mal-disfarçados jingles de cerveja e outras bebidas alcoólicas.
Tudo isso é aceito sob a blindagem intelectual, através de uma elite que vai de jornalistas culturais a antropólogos, de músicos pós-modernos a cineastas de documentários, que na sua choradeira "contra o preconceito", pede para a sociedade em geral aceitar a bregalização cultural e, sobretudo musical, e isso se dá não porque seus sucessos são como um néctar sonoro, mas porque tem muito comércio em jogo.
Até que ponto se permite que, a pretexto de financiar fenômenos e eventos culturais, se recorra a poderosos magnatas? E, por outro lado, como admitir a despretensão de fenômenos e eventos de cultura brega-popularesca, se eles escondem interesses estratégicos envolvendo de empresários bilionários a barões da grande mídia?
As Lojas Americanas, durante muito tempo, usavam como trilha sonora de suas instalações a música popularesca, tocando sucessos de "pagode romântico" e "sertanejo", e, eventualmente, de axé-music, principalmente na época do Carnaval. Só nos últimos anos a rede de lojas preferiu tocar, em suas instalações, simpáticas músicas eletrônicas semi-anônimas oferecidas pelas bibliotecas de músicas da Internet.
Vamos combinar que a choradeira intelectual que apelava tanto "contra o preconceito" tinha interesses meramente comerciais. O "povo pobre" que nossa intelligentzia tanto exaltava eram as caricaturas trazidas por programas humorísticos, filmes de comédia e núcleos pobres (e cômicos) de novelas da TV, o que fazia o "combate ao preconceito" ser carregado de muitos (e piores) preconceitos.
Jorge Paulo Lemann seria então o magnata do "popular demais"? Um empresário "transbrasileiro"? Um mecenas do consumismo etílico da música "popular demais", dos "sucessos do povão"? Tantas músicas brega-popularescas, de Reginaldo Rossi a Jorge & Mateus, passando pelos "sofisticados" Chitãozinho & Xororó, têm como temática a bebedeira, mas até mesmo o "funk" marcado pelo vitimismo e pela carteirada da "pobreza e negritude", também se servem desse recreio alcoólico.
Aliás, dentro de um culturalismo "sem raiva" do Brasil pós-Bolsonaro, a bebedeira agora retomou o clima de festa, com "pagode romântico", "funk" e axé-music afastando a poeira da sofrência bolsomínion, mesmo quando sabemos que não há diferença fundamental entre uns e outros.
Em que pesem a bandeira política diferente, Latino, Amado Batista e Netinho (da axé-music) fazem parte do mesmo universo brega-popularesco de Valesca Popozuda, Odair José e Péricles. E, junto a isso, todo um mercadão de cerveja para embriagar os ouvintes de toda essa breguice. Com Jorge Paulo Lemann e sua Ambev patrocinando os "sucessos do povão".
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