ÁREA DO ANTIGO RIO DECOR DE NITERÓI, DEMOLIDO, DEU LUGAR A TERRENO OCIOSO DE PURO MATO. FALA-SE QUE SE INSTALARÁ UM CONDOMÍNIO NO LOCAL, QUANDO UM SHOPPING CENTER SERIA A MELHOR SOLUÇÃO.
Os niteroienses deveriam ter um pouco de humildade, deixarem de serem "analfabetos" em mobilidade urbana e lerem e divulgarem textos sobre problemas mais complexos vividos pela cidade de Niterói, antiga capital fluminense que hoje vive tempos de profunda decadência.
É fundamental que os niteroienses não boicotem textos que falem de problemas além da sua rasa compreensão solipsista, que só reconhece problemas importantes, porém óbvios, como tiroteios em certos locais (como Viradouro e Engenhoca), congestionamentos nos acessos à Ponte Rio-Niterói e falta de ciclovias .
É essencial evitar a arrogância e conhecer problemas que escapam do cotidiano pessoal. Ver que Rio do Ouro e Várzea das Moças vivem a novela da falta de uma rodovia própria - existe um terreno entre o fim da Estrada Velha de Maricá e o entorno da Estrada Ewerton Xavier, pronto para uma rodovia, mas ele corre o risco de ser ocupado pela especulação imobiliária - e boicotar textos sobre esse problema é sinal de muita arrogância e falta de respeito. Ler só o título do texto e ir embora sem entender o assunto é de uma falta de sensibilidade aberrante.
O problema não existe porque a pessoa vivencia pessoalmente essa situação. Os problemas da mobilidade urbana, em Niterói, não se resumem a buracos nos asfaltos, falta de ciclovias ou congestionamentos em que se espera, de braços cruzados, que o Papai Noel de adultos conhecido como Deus possa resolver o problema por si só. Mas tem gente que pensa que mobilidade urbana, em Niterói, é gol do Flamengo e cerveja gelada na mesa!...
OUTRO ÂNGULO DA ÁREA DO ANTIGO RIO DECOR.
Dito isso, vamos a mais um problema espinhoso que os niteroienses se recusam a reconhecer, tão indiferentes a problemas complexos que perturbam seu sossego de se deslocar, de Niterói ao Maracanã, no Rio de Janeiro, para ver, com cerveja gelada na mão, o Flamengo fazendo mais um gol. No seu egocentrismo, problema é só aquele vivido na própria carne, os problemas dos outros se deixa pra lá.
Em 2020, o antigo Rio Decor foi fechado por causa da pandemia. O Rio Decor se mudou para o bairro de São Lourenço, na frente do Supermercado Guanabara, na Av. Jansen de Mello. Com isso, o predio, da Av. Feliciano Sodré, que já abrigou, no passado, as Lojas Maveroy, virou reduto da cracolândia, com ocorrência de incêndios e assassinato.
A área tornou-se perigosa e ameaçadora para quem espera por ônibus municipais e intermunicipais que param no local, e a área foi demolida, depois que os viciados foram recolhidos para outros lugares, eu mesmo não sei onde. Até porque há dois anos já não moro em Niterói.
E aí tem-se uma antiga fábrica que continua abandonada, enquanto a área do antigo Rio Decor virou mato puro, um local grotesco que eu pude fotografar quando estive no Grande Rio em dezembro do ano passado e revisitei Niterói.
A burrice da Prefeitura de Niterói, que quer reativar o Mercado Municipal, há décadas abandonado, mas em contrapartida deixa abandonados um prédio do antigo Supermercado Extra - que em outros tempos viveu fase gloriosa como Supermercado Disco, que eu pude conhecer quando criança - e a área do antigo Rio Decor, contrastando com uma filial da loja de sorvetes Eskimo e da rede de supermercados Dom, impede de se desenvolver um importante pólo comercial nos acessos para a Ponte Rio-Niterói.
Quando passei pelos shoppings Bay Market e Plaza Shopping, vi que estabelecimentos de alimentação como Bauducco e Giraffas foram embora e, não fosse um restaurante localizado na Rua Dr. Bormann, no Rink, seria difícil comprar um almoço a cerca de R$ 22. Mas até uma lanchonete careira como a Fifties também foi embora e os dois shoppings não conseguem suprir a demanda gastronômica que, nos aspectos gerais, têm que optar entre um almoço e um combo de lanche caríssimos, custando R$ 30.
Um rumor que li na Internet é de que a área do antigo Rio Decor se destinará a um condomínio convencional, embora rotulado de "resorte" (resort), supostamente inspirado a um novo modelo de condomínios em construção nas capitais nordestinas.
O seja, será um condomínio "à moda antiga", que só terá piscina e pequenos estabelecimentos comerciais, leia-se algum espaço fitness, umas pequenas lojas de roupas ou calçados e bares qualquer nota, "restaurantes" sem filial cujo público-alvo são pessoas que se embriagam e só veem futebol na TV, da qual há muita gente inadimplente cujo calote compromete as custas do aluguel do estabelecimento, que participa do orçamento de sustento financeiro do condomínio.
Imagine se houver uma briga de torcedores, depois de um "clássico" carioca do Brasileirão. Gente que não só "pendura" a conta da bebedeira como se envolve em briga, e essa briga de repente resulta numa confusão que não só assusta os passageiros do ponto da Av. Feliciano Sodré, como, na hipótese de resultar em algum tiroteio, causar insegurança, pavor e mortes.
Seria melhor que se colocasse um pequeno shopping, com segurança especializada e restaurantes de grife, que não funcionem como "botecos" e se destinem a um público mais eclético e inofensivo. De que adianta substituir a cracolândia por um boteco de condomínio, se o perigo e a insegurança serão mantidos em sua gravidade?
Quanto a um outro aspecto de Niterói, os aberrantes parquiletes (parklets), grotescas "praças de rua" que dão um aspecto forçadamente "americano" nas áreas de lazer das cidades brasileiras, estão mantidos, sob o silêncio do niteroiense médio que pensa que esses espaços são válidos, só porque supostamente são lugares públicos para qualquer pessoa sentar (uma mentira redonda, pois os espaços são privados e só são reservados para qualquer um enquanto não houver freguês para ocupá-los).
Na hoje Rua Ator Paulo Gustavo, o parquilete próximo à esquina com a Rua Otávio Carneiro é um desperdício de espaço. Há um calçadão enorme no qual poderiam ser colocadas cadeiras, mas insiste-se em colocar uma praça pseudo-pública no meio-fio porque soa "mais americano", lembra "Califórnia", "Texas", "Chicago", "Route 66", mesmo com aquele aspecto de curral bovino que vários parquiletes apresentam.
Ficar indiferente a tais problemas é um crime contra a consciência humana. Mobilidade urbana não é só aquilo que as sensações solipsistas das impressões pessoais de cada indivíduo percebem. Mobilidade urbana é muito mais do que pensar em ciclovias, recapear asfaltos - ainda que se usem nomes pomposos como "macrodrenagem" e "palotragem" - e combater congestionamentos apelando para a força divina.
Esquecem os niteroienses que dá para usar o espaço urbano e construir uma rodovia e túneis ligando a Av. Jansen de Mello ao Vicoso Jardim, passando dentro de São Lourenço, Fátima e Cubango. Como dá para construir a rodovia Rio do Ouro-Várzea das Moças no fim da Estrada Velha de Maricá até o entorno da Estrada Ewerton Xavier e ainda construir um bom terminal de ônibus para os dois bairros.
Ficar indiferente a essas necessidades não dá. É inadmissível o niteroiense boicotar textos que falem mais do que os problemas solipsistas. Índice de Desenvolvimento Humano não é presente de Deus, e uma cidade vive sempre em modo beta para resolver seus problemas de mobilidade urbana. Se este texto que aqui se encerra não estiver entre os mais lidos na Internet, é sinal que tem muita gente ignorante, conformista e acomodada, pelo menos, no Estado do Rio de Janeiro.
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