Paremos para pensar. Se o Rio de Janeiro contribuiu com peso para as manifestações conservadoras dos últimos anos, então a imagem supostamente libertária do "funk" foi um grande blefe.
Desde que Bia Abramo, ex-jornalista da Bizz, foi, no seu texto sobre "funk" publicado na Fundação Perseu Abramo, defender a "Enfermeira do Funk" em detrimento das profissionais de enfermagem, as esquerdas caíram na falácia de que o "funk" era uma "rebelião de caráter libertário".
Esqueceu Bia que a "Enfermeira do Funk" era empresariada por ninguém menos que o ex-ator Alexandre Frota, hoje bolsonarista eleito deputado federal por São Paulo.
Frota, no entanto, nem chegou a ser esquerdista, como tantos direitistas chegaram a ser outrora.
O "funk" foi uma colcha de retalhos que envolveu paradigmas sonoros, temáticos e comportamentais herdados pela mídia popularesca consumida pelos jovens suburbanos.
Essa mídia popularesca, sobretudo retransmissoras de emissoras de TV paulistas, sempre foi de caráter conservador.
Tanto que é a mesma mídia que apoiou com muito entusiasmo a candidatura e a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro.
Enquanto o "funk" vendia uma imagem falsamente libertária que seduziu a mídia esquerdista, nas redes sociais o ritmo era mais apreciado pelos chamados sociopatas.
E como é que o "funk" poderia ser libertário se ele refletia também a guinada provinciana e conservadora do Rio de Janeiro desde os anos 90?
Foi na década de 1990 que o Rio de Janeiro deixou sua vocação de modernidade e diversidade para trás, para mergulhar num pragmatismo que aceitava retrocessos e limitações sociais, com aquele papo do tipo "não é aquela maravilha, mas está bom demais".
A mania do "melhor que nada" fez o Rio de Janeiro produzir internautas reacionários que faziam valentonismo contra quem não aceitasse esse tipo de visão.
Quem discordasse de certas "novidades" motivadas por esse pragmatismo, como ônibus padronizados e rádios pseudo-roqueiras, era alvo de humilhações e até de páginas de difamação e calúnias.
No entanto, essas "novidades" não davam tão certo que acabaram sendo abandonadas.
Mesmo assim, prevalece ainda muito pragmatismo, daí o projeto político conservador de Bolsonaro, eleito com mais gosto pelos cariocas.
O "funk" sempre foi a trilha desse Rio de Janeiro conservador que perdeu o frescor dos antigos tempos áureos.
E agora que uma parcela do "popular demais" assumiu seu bolsonarismo, as esquerdas médias ficam desnorteadas com tamanha decepção.
As esquerdas médias superestimaram as plateias, mas ignoraram o que realmente estava no palco.
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