Pular para o conteúdo principal

BURGUESIA EM SURTO E ESQUERDAS COM "BRINQUEDOS" DA CENTRO-DIREITA

 


O Brasil anda numa situação muito complicada.


Dois incidentes mostraram o quanto a alta sociedade anda surtando, pondo fim ao mito de serem as elites bastante refinadas e comedidas.


Primeiro foi um incidente na Rua Dias Ferreira, no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro, quando duas moças estavam num carro Peugeot conversível, que, curiosamente, tinha iniciais "FIK" na chapa, o que indica um emplacamento "raiz" do Detran de São Paulo.


As duas moças, Sheila e Priscila, estavam se bejiando na boca, no veículo conduzido por um homem, chamado Will, quando, ao passar perto de um restaurante, uma bolsomínion assumida se levantou e jogou copos de água contra as moças, atingindo uma delas.


A que foi atingida saiu do carro e, ao ser chamada de "vagabunda", deu um soco na agressora, uma arquiteta chamada Aline. 


Um homem, que estava com Aline, reagiu puxando a parte de cima do biquíni da outra mulher, que ficou de topless e foi embora, esnobando, cheia de si, em poses de sensualismo narcisista.


Já em São Paulo, um médico chamado Carlos Iglesias, sócio do grupo Rubayat, foi ao restaurante Gero, nos Jardins, que, curiosmamente, tem filial no mesmo Leblon do outro incidente, para jantar. 


A filial dos Jardins fica na Rua Haddock Lobo, homônima a uma rua do Estácio, no Rio de Janeiro, por onde passa a linha 415 que, vinda da Usina (região da Tijuca), tem como destino final o Leblon.


O rapaz chegou ao restaurante às 21 horas, mas só encontrou os amigos dez minutos antes do fechamento do estabelecimento, previsto para as 22 horas, imposição resultante dos tempos de pandemia. Os amigos teriam se atrasado no encontro marcado. 


Carlos ficou possesso, ao saber, de um garçom, que não poderia mais ser atendido. O restaurante estava cheio e o médico teria agredido o atendente, além de ter reagido aos gritos, causando escândalo. A dona também pediu para Iglesias ir embora, mas ele não o foi sem tê-la ofendido, também.


O médico continuou aprontando na saída do restaurante, e ligou para o celular para um amigo definido como "delegado", e esbanjou carteirada ao declarar que fazia questão de ser atendido, pouco importando os limites de horário.


As pessoas ao redor, ao saber do caso, fizeram coro ridicularizando o queixoso, gritando, por ironia, "CRM, CRM!", iniciais do Conselho Regional de Medicina. Era uma forma de pedir ao surtado que provasse que era mesmo um médico.


Estamos num momento em que o Brasil está tomado de confusões, carteiradas e coisa e tal.


Mas também nossas esquerdas mantém-se apegadas aos "brinquedos culturais" da centro-direita.


Seus ídolos religiosos, musicais, comportamentais e esportivos são aqueles trazidos pela Globo, pela Folha de São Paulo e pelo hoje bolsonarista SBT, entre outros veículos da mídia venal.


Que a pessoa tenha sido educada pela mídia direitista e, depois, decide ser de esquerda, tudo bem. Mas manter os referenciais do culturalismo conservador não dá.


A questão não é de romper o dirigismo ideológico ou a bolha social das esquerdas, mas de ter um mínimo de coerência.


De vez em quando, vemos esquerdistas, por exemplo, exaltando Madre Teresa de Calcutá, o que é um gravíssimo contrassenso. É como, por exemplo, um sindicato ligado à CUT convocar manifestações tocando Ultraje a Rigor.


Segundo o jornalista Christopher Hitchens, Madre Teresa nunca foi sequer 1% da bondade a que ela é associada, mesmo por esquerdistas desavisados. Ele a desmascarou com livro e documentário lançados em 1997, o filme com o título contundente de Anjo do Inferno (Hell's Angel, no original).


Essa narrativa foi montada pelo jornalista reaça Malcolm Muggeridge, em 1969, criando a "filantropia" como mercadoria e espetáculo para a "masturbação pelos olhos" que é a comoção humana rebaixada a um mero divertimento, às custas do sofrimento dos outros.


O modelo de Muggeridge foi aproveitado no Brasil para promover um tal "médium espírita" que usava peruca, fez literatura fake, era tão reaça quanto Madre Teresa e virou "símbolo de paz e fraternidade" com as esquerdas também passando pano neste que até colaborou com a ditadura militar.


Um canal de humor e críticas políticas equiparou Madre Teresa e Júlio Lancelotti de maneira equivocada. 


Não vou dizer o canal de humor para não criar cancelamento, e, além disso, já mandei mensagem alertando o rapaz que fez o comentário, também jornalista.


Nada a ver. Madre Teresa acolhendo os pobres era ação de marketing, ela que, quando houve a explosão de uma fábrica da Union Carbide em Bophal, Índia, em 1984, passou pano para os empresários irresponsáveis, que deixaram a tragédia ocorrer.


Ela não ajudou os doentes e pobres, alojados à própria sorte, expostos a doenças e recebendo injeção de seringas reutilizadas, algo comparável aos junkies mais mórbidos.


É muito diferente uma suposta caridade feita apenas para forjar protagonismo para pretensos benfeitores e uma caridade genuína, feita para melhorar a vida dos mais necessitados.


Há uma diferença enorme entre as ideias de "aliviar a dor" e de "transformar vidas". A primeira não traz cura e disfarça sensações dolorosas, a segunda traz melhorias profundas e mudanças que deixam para trás o problema sofrido.


A "caridade" de "madres megeras" e "médiuns picaretas", não muito diferente das "filantropias" feitas espetáculo por Luciano Huck, nunca mexeu nos privilégios dos mais ricos e até aristocratas bolsomínions exaltam esses "caridosos" de fachada.


Júlio Lancelotti, não. Ele, por acompanhar o tempo todo os miseráveis, sofre o ódio e o rancor dos reacionários e privilegiados, a partir do triste exemplo de Arthur do Val, o "Mamãe Falei".


As esquerdas deveriam abrir mão dos seus "heróis" direitistas, não darem palco para reaças que parecem fazer pobre sorrir. 


Com bem menos dificuldade, os esquerdistas descartaram o jornalista Fernando Gabeira, outrora um símbolo clássico do ativismo de esquerda. Por que não fazem isso com gente claramente de direita, com apetite comparável ao de um bolsomínion, mas é supostamente associado à alegria do povo pobre?


Foi mantendo os "brinquedos culturais" da centro-direita, com funqueiros, "médiuns reaças", "madres megeras", craques milionários, mulheres-objetos e bregas veteranos que as esquerdas deixaram não só o golpe politico de 2016 ocorrer, como permitiram a ascensão do bolsonarismo.


E abriram caminho para as surtadas da burguesia que só servem mesmo para mostrar a face patética de uma parcela de brasileiros que se empoderaram com as trevas pós-2016.


E hora de jogar esses brinquedinhos no lixo do direitismo obscurantista, antes que ele se empodere cada vez mais.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

OS CRITÉRIOS VICIADOS DE EMPREGO

De que adianta aumentar as vagas de emprego se os critérios de admissão do mercado de trabalho estão viciados? De que adianta haver mais empregos se as ofertas de emprego não acompanham critérios democráticos? A ditadura militar completou 60 anos de surgimento. O governo Ernesto Geisel, que consolidou o Brasil sonhado pelas elites reacionárias, faz 50 anos de seu início. Até parece que continuamos em 1974, porque nosso Brasil, com seus valores caquéticos e ultrapassados, fede a mofo tóxico misturado com feses de um mês e cadáveres em decomposição.  E ainda muitos se arrogam de ver o Brasil como o país do futuro com passaporte certeiro para ingressar, já em 2026, no banquete das nações desenvolvidas. E isso com filósofos suicidas, agricultores famintos e sobrinhos de "médiuns de peruca" desaparecendo debaixo dos arquivos. Nossos conceitos são velhos. A cultura, cafona e oligárquica, só defendida como "vanguarda" por um bando de intelectuais burgueses, entre jornalist

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul

MAIS DECEPÇÃO DO GOVERNO LULA

Governo Lula continua decepcionando. Três casos mostram isso e se tratam de fatos, não mentiras plantadas por bolsonaristas ou lavajatistas. E algo bastante vergonhoso, porque se trata de frustrações dos movimentos sociais com a indiferença do Governo Federal às suas necessidades e reivindicações. Além de ter havido um quarto caso, o dos protestos de professores contra os cortes de verbas para a Educação, descrito aqui em postagem anterior, o governo Lula enfrenta protestos dos movimentos indígenas, da comunidade científica e dos trabalhadores sem terra, lembrando que o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) já manifestou insatisfação com o governo e afirmou que iria protestar contra ele. O presidente Lula, ao lado da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, assinou, no último dia 18, a demarcação de apenas duas terras para se destinarem a ser reservas indígenas, quando era prometido um total de seis. Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT) foram beneficiadas pelo document