Pular para o conteúdo principal

A "LIBERDADE" ILUSÓRIA DE MARIA ZILDA BETHLEM E CLEO PIRES

 


É um incômodo criticar duas musas que admiro, Maria Zilda Bethlem e Cléo Pires. Mas tenho que fazê-lo.


As duas, em casos diferentes, apelaram para supostas liberdades que, de tão ilusórias, nem são tão libertárias assim.


Comecemos com Maria Zilda Bethlem, que num bate-papo com Fábio Porchat afirmou que fuma cinco cigarros por dia.


"As pessoas reclamam muito que eu fumo. Amo meu cigarro. Em meio a uma pandemia, em que não se pode namorar, abraçar os amigos, não posso ver neto, não vou poder fumar um cigarrinho? Vai torturar sua avó. Vou fumar meu cigarro de palha. Fumo cinco cigarros por dia", disse.


Fábio respondeu: "É, cinco são bastante. Se multiplicar por 365 dias…".


Maria Zilda respondeu: "Na minha idade não vai dar para viver muito mais anos".


É triste isso. Só porque ela completará 67 anos no mês que vem, isso não é desculpa para continuar fumando.


Aliás, esse é o problema de quem tem mais de 50, 60 anos, que muitas vezes deixam tantos hábitos juvenis, como se divertir num festival de música contemporânea, mas consomem álcool e cigarro como se ainda tivessem 25 anos de idade.


Lamentável essa apologia ao cigarro. Triste ver Maria Zilda assim, fumando entre uma conversa e outra.


Ela já foi internada, no passado, por um problema de saúde. Ela sofre hoje com uma doença degenerativa no olho. Mas isso não é desculpa para ela sair fumando aqui e ali. É uma pena, porque ela foi uma das musas da minha adolescência.


Quanto a Cléo Pires, ela declarou recentemente que tem saudades de fazer tatuagem, de "ter o corpo rabiscado".


Eu até não critico o fato dela ter ganho peso físico. No Reino Unido, a apresentadora Kelly Brook também ganhou peso e continua muito atraente (e, claro, não fica um período sem namorado). E Cléo continua com o rosto muito bonito.


Cléo, que por sua vez está solteira, tem o problema da tatuagem. Ela não faz o tipo da moça que enche o corpo de tatuagens. Mas encheu.


Ela já deveria remover tatuagens em vez de colocar mais uma.


Engana-se que tatuar o corpo é sinônimo de liberdade e transgressão. Tatuar o corpo tem mais a ver com gado sendo marcado a ferro, essencialmente são a mesma coisa.


Atualmente, corpo tatuado anda associado, na mídia, a bolsomínions, milicianos e subcelebridades masculinas ou femininas.


Não é por acaso que o Brasil pós-golpe de 2016 e os EUA da fase macartista de 1949-1957 mostravam um aumento de pessoas tatuadas, como se seus corpos fossem como murais de faculdades.


A moda das tatuagens vai passar, mas ninguém dá bola. Em vez disso, se comportam como crianças birrentas dizendo "meu corpo, minhas regras", o "porque sim" do hedonismo vazio identitário.


Ninguém se tatua para si mesmo, se tatua para se mostrar aos outros. Existe um grave equívoco de achar que a "liberdade do corpo" é questão de autoestima quando se trata do mesmo vício de, através do corpo físico, querer atrair "curtidas" na vida real, à altura do que ocorre nas redes sociais.


Eu gosto muito da Cléo Pires, já a elogiei num evento da Playboy de 2009, acho ela muito bonita e muito atraente, mas torço para que ela desfaça dessas tatuagens.


Já basta a decepção dela, na sua tentativa de ser cantora, soar como uma sub-Lana Del Rey mais datada e com ranços de Anitta e Gaby Amarantos.


Neste sentido, quanta falta faz Brittany Murphy, que estava apostando num pop mais orgânico. E imaginar que Brittany e Cléo quase se encontrariam no filme Mercenários (The Expendables), uma porque foi convidada e outra por ter feito teste. As duas não entraram no filme.


A onda das tatuagens está passando, cada vez mais associada ao mundo brega e a personalidades fracassadas.


No meu livro de contos e crônicas O Balão e Outras Estórias há um conto no qual pessoas estão numa longa fila para cirurgias ou tratamentos de remoção de tatuagens.


Esse será o futuro. Até porque ser tatuado não é ser a própria pessoa, a pessoa precisa afirmar pela sua personalidade, pelo que é por dentro de si, e não por desenhos e escritas no corpo que, aliás, são resultados de uma intervenção de outra pessoa, que é o tatuador.


Não é a falta de tatuagens que representa a ditadura dos padrões. É tatuando o corpo que, isso sim, representa uma ditadura dos padrões, de uma suposta transgressão que está mais de acordo com o "sistema" do que contra ele.


Cigarro e tatuagem não representam liberdade alguma. Representam apenas zonas de conforto, que apenas usa o "preconceito" como pretexto para ficar como está e não querer mudar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

OS CRITÉRIOS VICIADOS DE EMPREGO

De que adianta aumentar as vagas de emprego se os critérios de admissão do mercado de trabalho estão viciados? De que adianta haver mais empregos se as ofertas de emprego não acompanham critérios democráticos? A ditadura militar completou 60 anos de surgimento. O governo Ernesto Geisel, que consolidou o Brasil sonhado pelas elites reacionárias, faz 50 anos de seu início. Até parece que continuamos em 1974, porque nosso Brasil, com seus valores caquéticos e ultrapassados, fede a mofo tóxico misturado com feses de um mês e cadáveres em decomposição.  E ainda muitos se arrogam de ver o Brasil como o país do futuro com passaporte certeiro para ingressar, já em 2026, no banquete das nações desenvolvidas. E isso com filósofos suicidas, agricultores famintos e sobrinhos de "médiuns de peruca" desaparecendo debaixo dos arquivos. Nossos conceitos são velhos. A cultura, cafona e oligárquica, só defendida como "vanguarda" por um bando de intelectuais burgueses, entre jornalist

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul

MAIS DECEPÇÃO DO GOVERNO LULA

Governo Lula continua decepcionando. Três casos mostram isso e se tratam de fatos, não mentiras plantadas por bolsonaristas ou lavajatistas. E algo bastante vergonhoso, porque se trata de frustrações dos movimentos sociais com a indiferença do Governo Federal às suas necessidades e reivindicações. Além de ter havido um quarto caso, o dos protestos de professores contra os cortes de verbas para a Educação, descrito aqui em postagem anterior, o governo Lula enfrenta protestos dos movimentos indígenas, da comunidade científica e dos trabalhadores sem terra, lembrando que o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) já manifestou insatisfação com o governo e afirmou que iria protestar contra ele. O presidente Lula, ao lado da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, assinou, no último dia 18, a demarcação de apenas duas terras para se destinarem a ser reservas indígenas, quando era prometido um total de seis. Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT) foram beneficiadas pelo document