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AS ESQUERDAS, IMPOTENTES, SÓ QUEREM LACRAÇÃO

 


Há um grande problema nas esquerdas. Elas estão infantilizadas.


Se apegam a brinquedos culturais da centro-direita: funqueiros, "médiuns de peruca", jogadores de futebol com bens luxuosos, com direito a diorama e tudo, e mulheres-objeto que repetem como bonecas de brinquedo "Eu sou solteira e feliz. Mas os homens fogem de medo de mim".

Não largam desses brinquedos. Não jogam no lixo. Não querem admitir se enjoar deles e publicar isso na Internet. Quando muito, deixam no armário, para um uso futuro sem gente incomodando.


As esquerdas que insistem em dizer que estamos em 2002 querem a festa da lacração.


Recentemente, quando Caetano Veloso, em uma entrevista a Pedro Bial, disse que se desiludiu com o neoliberalismo e largou essa ideia assim que entrou em contato com Jones Manoel.


Foi a deixa para Jones Manoel virar o "herói" da temporada. Não por potencialmente querer agir em prol das forças progressistas, mas porque foi citado por Caetano.


Que Jones seja lá um influenciador digital expressivo, como o casal do Meteoro, como Henry Bugalho, como Galãs Feios, como Sabrina Fernandes (Tese Onze), na seara progressista, vá lá.


Mas Jones Manoel tornou-se um "herói" por nada, apenas porque foi citado por um veterano compositor de música brasileira. E isso sem liderar uma mobilização.


As esquerdas andam decepcionando porque pensam apenas em lacração, em repercussão imediata nas redes sociais, em festa, em zoeira.


E isso acaba animando Jair Bolsonaro, porque todo aquele humor esquerdista satírico, salvo exceções, em vez de desqualificá-lo, acaba trocando a irreverência pela reverência acidental.


Recentemente, vi um vídeo em que uma galinha corre atrás de um cachorro dentro de um quintal. O cachorro brinca de esconde-esconde, e, assim que a galinha o vê, ela o persegue.


Bolsonaro e as esquerdas acabam tendo uma relação daquele tiozão careta que é zoado por um bando de moleques xeretas. "Você tem cara de melão", gritam os meninos, ou melhor, as esquerdas.


Me lembro, dez anos atrás, que o Mingau de Aço, ao criticar as pautas popularescas das esquerdas, tornou-se um "patinho feio" da blogosfera progressista.


Naquela época, enquanto as esquerdas festivas exaltavam o "funk" e se preocupava com a Palestina como se fosse a vizinhança daqui de casa, Mingau de Aço abordava os problemas culturais que as forças progressistas ignoraram, mas a direita revoltada fingiu ter solidariedade.


Esse estranho maniqueísmo, que também é abordado no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes..., acabou permitindo o golpe político de 2016.


Hoje as esquerdas preferem lacrar com os trend topics do Twitter, aumentar curtidas, monetizar canais do YouTube, por ninharias do nível de emas mordendo Jair Bolsonaro e cobras naja.


Enquanto isso, esquecem os esquerdistas que a reforma trabalhista precarizou o emprego, que emergiu a nova categoria de trabalhadores, os entregadores a serviço de aplicativos, que já fazem um trabalho precarizado, e ninguém fala.


Nem mesmo as esquerdas, salvo exceções, que se utilizam desses serviços.


Falam apenas timidamente que o auxílio emergencial deveria ser de R$ 600 e não a metade, como quer Jair Bolsonaro.


É muito pouco para reverter a precarização que virou lei com a reforma trabalhista.


Os trabalhadores se sentem abandonados pelas esquerdas. Os camponeses, as populações indígenas, os portadores de deficiência física.


As pessoas pobres acolhem a novidade da causa LGBTQ de forma desigual, uns apoiando, outros não, mas todos eles apreciam o assunto sob condição vulnerável.


E ninguém se cuida. Os formadores de opinião das esquerdas, em sua maioria, até fazem parte da classe média, na concepção trazida por Jessé Souza, mas pelo menos poderiam ter um pouco mais de sensibilidade com os mais pobres.


O bolsonarismo está forte mais pela impotência das esquerdas que só querem lacração. Afinal, Jair Bolsonaro era um político inexpressivo, deputado medíocre, as esquerdas, com sua omissão, é que deixaram ele crescer.


E temos denúncias da aliança "bolsolula" - o estranho crossover do bolsonarismo com o petismo que equivale, hoje, à antiga "aliança Jan-Jan" (Jânio Quadros e João Goulart) de 1960 - e, fora isso, os flertes crescentes do PDT de Ciro Gomes com o DEM de Rodrigo Maia.


Aliás, não só o DEM de Rodrigo Maia, mas o de Onyx Lorenzoni e, também, de um Eduardo Paes que, no Rio de Janeiro, é apoiado por setores das esquerdas não se sabe uma vírgula de um porquê.


Até o mundo mineral sabe que Eduardo Paes é direitista "boa praça", mas direitista do mesmo jeito. Um centro-direitista yuppie, que fala o mesmo idioma de Luciano Huck.


As esquerdas precisam se mexer e se unirem. Devem furar a bolha, mas não pelo lado errado. E também fora da "bolha" digital das redes sociais.


Qual a solução para isso? Não sei. A situação é complexa, existem várias pessoas envolvidas, eu sou incapaz de trazer uma proposta porque, evidentemente, há pessoas diferentes e uma sugestão pessoal não tem a dinâmica de vários pensamentos e vários interesses.


O que se deve fazer é retomar as pautas trabalhistas, ouvir o povo pobre, mas não só ouvi-lo, mas abraçar suas questões de maneira mais profunda. É o que eu posso sugerir, como muita gente também sugere.


Não se pode subestimar Jair Bolsonaro nem fazer o jogo reativo que só o fortalece, como que numa brincadeira de meninos malcriados contra o tiozão bonachão.


As pautas reacionárias de costumes, incluindo o porte de armas, estão sendo tramadas pela bancada bolsonarista no Congresso Nacional. 


A BR Distribuidora está desaparecendo e os postos de gasolina com o nome Petrobras já são uma pegadinha para fazer todo mundo esquecer que se trata de um controle estrangeiro.


A precarização do trabalho se consolida enquanto Paulo Guedes dá generosas e estratosféricas gorjetas para o setor financeiro do qual ele mesmo faz parte.


E as esquerdas brincando de "causar" nas redes sociais? Com o Brasil sob riscos diversos, a hora é de deixar a brincadeira, largar os brinquedos e voltar para a luta.

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