O empoderamento de uma elite de intelectuais de direita, vários deles propagandistas do bolsonarismo, é uma consequência inesperada da campanha pró-bregalização de outra elite de intelectuais.
Enquanto a "santíssima trindade" de Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna pregavam as "maravilhas" de morar em favela, viver de prostituição, vender produtos piratas e, sobretudo, ser artisticamente medíocre, gente sem ter o que dizer aproveitou isso e deu o contraponto.
Pessoas como Rodrigo Constantino e Guilherme Fiúza se ascenderam respondendo ao culturalismo conservador de apelo populista para o qual a intelectualidade pró-brega tentou fazer as esquerdas se converterem.
É certo que tinha gente com um comportamento porralouca, como um Milton Moura na Bahia mais parecendo um Abraham Weintraub do folclore brasileiro, prometendo um "future-se" às custas da mediocridade musical e comportamental do "pagodão" baiano.
Ou um "véio da Havan" pós-tropicalista do tipo Eugênio Arantes Raggi ridicularizando quem contestasse os fenômenos popularescos com um misto de hidrofobia com populismo demagógico de centro-direita.
E tinha Roberto Albergaria achando que o ideal do povo pobre deveria ser assumir o papel de ridículo.
Tudo sob o pretexto do "combate ao preconceito". E, descontando Albergaria, Moura e Raggi fingiam serem progressistas para fazer sua pregação, com apetite edirmacediano, no esforço de converter as esquerdas para o culturalismo conservador brega.
E isso seguindo o Evangelho pró-brega do papa Pedro Alexandre Sanches, se lembrando que o nome brega veio de um resto de placa de rua quebrado que tinha o nome do padre Manuel da Nóbrega, queridinho até dos "kardecistas" (outros adeptos do culturalismo conservador).
Com toda essa liturgia pró-brega e todo o discurso choroso - ou risonho feito hiena, no caso de Raggi - , vieram então os intelectuais de direita inexpressivos, que aproveitaram a deixa para lembrar que a bregalização tratava o povo pobre como um idiota.
Virou coisa surreal. As esquerdas endossando a bregalização que foi um subproduto da ditadura militar. As direitas considerando que a bregalização ultrajava o povo pobre.
O que era um "combate ao preconceito" acabou despencando para o golpismo. Detalhes no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes....
Depois dos tremores de terra envolvendo ECAD, Procure Saber etc, vieram as pregações reacionárias das quais Rodrigo Constantino e Guilherme Fiúza foram porta-vozes mais agressivos, junto com Diogo Mainardi e, hoje fora dessa ciranda, o Reinaldo Azevedo.
Eles eram figuras ligadas ao Instituto Millenium, que tinha um Nelson Motta e um Pedro Bial exaltando a bregalização, e um José Padilha que tirou o funqueiro MC Leonardo do ostracismo.
MC Leonardo fazia suas pregações na trincheira esquerdista, mas se não fosse o padrinho José Padilha, o funqueiro não teria vaga sequer para o Ploc 80.
E aí temos Constantino e Fiúza passando vergonha esnobando a Covid-19, neste caso "coincidindo" com os funqueiros que, com apetite bolsonarista pelo dinheiro, também botaram o isolamento social às favas e liberaram "bailes funk" com aglomeração e tudo.
Na hora do aperto, os funqueiros, pelos quais as esquerdas sentem uma paixão platônica, como losers desejando cheerleaders, apunhalam os esquerdistas pelas costas e vão comemorar suas conquistas junto à sociedade "coxinha".
Vejamos como Constantino e Fiúza, ambos astros da Jovem Pan, tentaram ridicularizar os ensinamentos pela prevenção da pandemia.
Foi na virada de agosto para setembro.
Primeiro foi Fiúza, que, em 31 de agosto passado, no seu perfil no Facebook, disparou o seguinte comentário, esculhambando o jornal O Estado de São Paulo, que não é aquele primor de progressismo, diga-se de passagem.
Foi sobre a aglomeração na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, num tempo em que os litorais enchiam de gente mais do que formigueiro sobre um monte de açúcar:
"O Estado de S. Paulo publicou foto ANTIGA da praia de Ipanema lotada como se fosse de ontem. Os cariocas foram à praia mas o jornal foi buscar no arquivo uma aglomeração muito maior (esse mar de barracas grudadas NÃO EXISTIU) p/ilustrar sua fake news viral".
Fiúza foi alertado que a foto da aglomeração, tirada pelo repórter fotográfico Wilton Júnior, era do dia anterior à postagem do articulista que, ridicularizado nas redes sociais, teve que baixar a lenha e pedir desculpas.
Já Constantino, no último dia 03 de setembro, quando soube, na Jovem Pan, do seu colega Josias de Souza (hoje direitista moderado)citou 123 mil mortos e informou que o Brasil é o segundo maior país com mortes por Covid-19 no mundo, simplesmente riu.
Sim. Rodrigo Constantino caiu na gargalhada, em rede nacional, como se achasse a informação uma grande piada.
Nem Josias de Souza, conhecido pelas hidrofobias contra o PT, gostou das risadas histéricas do autor do livro Privatize Já.
Que temos uma direita moderada, com Reinaldo Azevedo atuando com um pouco mais de profissionalismo, que temos bolsonaristas arrependidos como Diogo Mainardi, é verdade.
E temos um "meio bolsonarista", "meio isentão", como Marcelo Tas, que parecia bem moderno como humorista na São Paulo dos anos 1980, mas hoje parou no tempo.
Mas nada se compara com o bolsonarismo histérico de Rodrigo Constantino e Guilherme Fiúza, com seus chiliques anti-prevenção.
E tudo isso porque seu colega cineasta do Instituto Millenium relançou uma dupla de funqueiros que antropólogos tucanos foram colocar a serviço do proselitismo nas esquerdas, tentando convertê-las para o culturalismo conservador que, através da bregalização, enfraqueceu culturalmente o povo pobre.
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