De que adianta a imprensa internacional falar que Jair Bolsonaro é uma ameaça para o Brasil e o mundo?
De que adianta o jornal Le Monde (sim, Le Monde, não o quase-xará de esquerda, o Le Monde Diplomatique) falar que Sérgio Moro agiu em nome dos Estados Unidos da América?
De que adiantam pesquisas dizendo que Lula venceria até mesmo Jair Bolsonaro na simulação da corrida eleitoral que ainda acontecerá daqui a um ano e meio?
O governo Jair Bolsonaro parece continuar de pé, por mais isolado que esteja o presidente e desprovido de carisma a não ser pelos seus fãs, que, histericamente, fizeram no último domingo as "Marchas da Família Cristã", negacionistas e anti-legalistas (a "vidraça" agora é o Poder Judiciário).
Jair Bolsonaro é católico, serve aos interesses dos neopenteques, mas parece ser protegido de um famoso "médium espírita" (sim, aquele da "profecia da data-limite") com trajetória cheia de atos desonestos e traiçoeiros e ideias radicalmente reacionárias.
Afinal, no Espiritismo brasileiro - que deve vir aí como ferramenta da guerra híbrida após o desgaste das seitas neopentecostais, abraçados aos Big Techs e à direita moderada - , as pessoas boas são atingidas por mau agouro, mas as más são protegidas.
Juscelino Kubitschek foi agradar o tal "médium" e perdeu tudo em sua vida e carreira. Apesar de direitista moderado, Kubitschek divergia por suas vocações pessoalmente progressistas.
Fernando Collor recebeu o voto do "médium" e sua vida foi, se não um céu de brigadeiro, um verão de Sol e pancadas de chuvas amenas e sem trovões nem raios. Perdeu direitos políticos por oito anos, mas os recuperou totalmente. E aqueles que iriam atrapalhar seu caminho estão quase todos mortos.
Jair Bolsonaro foi segurar um livro cujo título é parecido com um lema seu ("Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", traduzido na língua bolsomínion, significa "Brasil, acima de tudo, Deus, acima de todos") e é blindado até nas piores encrencas.
Nem o Coronavírus derrubou Bolsonaro. Os piores escândalos de seus filhos também não lhes significou sua ruína. O governo decai, mas parece que há muito melindre em tirá-lo do poder.
Um incidente a se somar na coleção de "graves" incidentes que não abalam a figura do "mito" é uma conversa feita entre o presidente e o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), tramando golpe contra o Supremo Tribunal Federal.
Kajuru é o mesmo que, como radialista esportivo, queria melar a programação de MPB da Nova Brasil FM para impor o que ele chamava de "CBN dos esportes". O que era um acinte.
O dial FM de cada região de cidades só conta, quando muito, com uma rádio de MPB cada, que já não supre o básico da MPB autêntica e só prioriza os hits de medalhões "carneirinhos", tipo Ana Vitória e Tiago Iorc. E tudo tomando como parâmetro as trilhas de novelas da Rede Globo.
Mas tem de quatro a oito FMs transmitindo futebol, com o número aumentando durante as copas.
E olha que nem tem demanda para ouvir transmissão esportiva em FM, que sempre foi o lanternão do Ibope.
Tanto que as FMs ficam subornando taxistas, donos de bares e estabelecimentos comerciais diversos para sintonizá-las durante transmissões esportivas, irritando a vizinhança, que não tem a recorrer (em nome do corporativismo, a imprensa não credita tais sintonias como poluição sonora).
Não adianta internauta em comunidade de rádio no Facebook dizer que "a rádio tem boa audiência porque eu ouço ela todo dia", dentro daquela linha "o Ibope sou eu".
Kajuru, um opinionista que teve momentos de pseudo-esquerda - junto a outros "alunos brilhantes" de Karl Marx como Fernando Collor, Mário Kertesz e Jaime Lerner - , também é conhecido por um comentário machista contra Luciana Gimenez.
O senador e radialista chamou a apresentadora de "garota de programa", fazendo um trocadilho pejorativo da função que ela exerce com a prostituição, e ironizando o passado de namoradeira quando a filha de Vera Gimenez era modelo.
Bolsonaro pedia para Kajuru mobilizar o Legislativo federal a decretar impeachment de ministros "problemáticos" do STF, como Gilmar Mendes, por exemplo, ou talvez os mais liberais, Alexandre de Moraes ou Luís Roberto Barroso.
Essa denúncia, aparentemente, mobilizou a opinião pública e as instituições a pensar, e só pensar, em articular um pedido de impeachment contra Bolsonaro.
Quando muito, será um impeachment de pelica.
O Brasil caminha para 400 mil mortos por Covid-19, e outros milhares de mortos por outras causas (como feminicídios e extermínios de negros, LGBTQ e camponeses), dentro de uma lógica necropolítica que existe há mais de 50 anos, e Bolsonaro não cai.
Enquanto isso, pessoas estão felizes nas redes sociais, achando que "liberdade" é rabiscar o corpo inteiro de tatuagens (ou "gaduagens").
Nunca se viu uma parcela da sociedade, em tempos distópicos como os dos últimos seis anos, viver uma realidade paralela transformando as redes sociais num grande parque de diversões.
Fácil posar com as mãos em gesto de prece, diante do pôr-do-sol, enquanto a legenda mostra uma frasezinha de "lições de vida".
Se for a do "médium" arrivista que, informalmente, abençoa lá do "Nosso Lar" o "afim" Jair Bolsonaro (o "lápis de Deus" e o "bunda suja do Exército" são muito mais afins do que se pensa), então, mais ilusório fica, sobretudo por atores decadentes que recorrem a esse religioso para salvar suas carreiras.
Só que essa realidade paralela, que insiste em ver Rio de Janeiro e Niterói como "paraísos", mesmo com as duas cidades vivendo decadência em níveis dantescos, não se aplica na prática.
O Brasil está em situação vulnerável e não dá para as esquerdas saírem comemorando quando Bolsonaro e seus filhos levam chacota na Internet e escândalos estouram no lado do "mito".
As esquerdas identotárias (não é erro de grafia) interagem com bolsomínions a ponto de, às vezes, seguir com eles em surtos de linchamento digital, mesmo que seja para defender uma simples gíria ("balada" - © Jovem Pan).
Fica um clima Fla X Flu essa oposição entre bolsomínions e identotários, ambos compartilhando as mesmas trilhas sonoras - música popularesca - , as mesmas cervejas, a mesma paixão por tatuagens, que os milicianos seguem religiosamente.
E é por isso que há o temor das esquerdas identotárias, mesmo de forma indireta, contribuírem para a reeleição de Jair Bolsonaro. Ainda que pelo meio invertido de fingir bajulação total a Lula.
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