Dá mais medo viver em prédios de classe média na Barra da Tijuca do que andar pela Av. Cruzeiro do Sul, aqui em São Paulo, nos fins de semana.
Nos últimos meses, houve episódio de feminicídio, e, depois, de assassinato de vizinho.
E agora, um assassinato de uma criança, vítima de agressões constantes. E o mais chocante é que justamente as crianças nada têm a ver com as tensões pessoais dos adultos e acabam perdendo a vida por isso.
O menino Henry Borel, de apenas quatro anos, foi morto depois de tanto ser agredido pelo padrasto, Dr. Jairinho, sob o consentimento da mãe e namorada deste, Monique Medeiros.
Dr. Jairinho é um vereador carioca do partido Solidariedade, desses partidos nanicos de direita que agora têm o nome de "não-partidos".
Ele e a mãe do menino alegam que ele morreu de hemorragia devido a um suposto acidente doméstico.
Mas há indícios de que ele sofria agressões e, uma vez, Dr. Jairinho trancou o quarto para ele agredir o menino, em sessões de tortura, com o som de televisão em alto volume para abafar o som das agressões.
Essa sessão teria sido narrada pela conversa entre Monique e a babá Thainá de Oliveira, que trabalhava para o casal e com o qual tinha uma relação de intimidade.
Os dois foram presos esta semana, e as invetigações falam em "provas fundadas" que foram reunidas para incriminar o casal.
Esse episódio está no contexto dos abusos dos chamados "cidadãos de bem", que na verdade são pessoas com algum privilégio que não aceitam as mudanças dos tempos.
Essas pessoas se empoderaram a partir da crise do governo Dilma Rousseff e se empenharam para tirá-la do poder.
E aí vemos o quanto essas pessoas, que surtaram diante das transformações sociais que não aceitam, virarem moralistas sem moral.
E isso vem desde a fase do pseudo-esquerdismo, quando o baixo clero da direita política estava na base aliada do governo Lula e os reacionários da Internet representavam o que eu defino como "marx-cartistas".
Eram pessoas que bajulavam Lula e diziam odiar o imperialismo, mas adotavam um comportamento, um modo operandi e uma defesa de ideias que variava entre uma direita moderada em momentos de hidrofobia ou na já raivosa por natureza extrema-direita.
E aí vemos pessoas fazendo linchamento digital até para defender uma gíria como "balada" (© Jovem Pan), à maneira que foi depois se conheceu entre os bolsomínions.
E vemos pessoas defendendo o porte de armas e a surra em crianças, a tal "palmadinha".
Era um horror. Entre 2005 e 2007, vi tanta gente assim reacionária que fingia apoiar Lula, o que é uma advertência para essa "frente ampla demais" que se pensa hoje em dia.
Afinal, são pessoas que agem e pensam como reacionárias, que votaram em Lula em 2002 e 2006, apenas para parecer bem na fita.
Em boa parte, votaram em Bolsonaro em 2018, quando tiveram vontade de saírem do armário.
Mas o risco deles voltarem a apoiar Lula só para agradar a sociedade é grande e isso não pode ser visto como positivo para as esquerdas.
Afinal, esse apoio não fará com que se recuperem pessoas assassinadas nem se reparem assassinatos de reputação extremamente graves.
Há um Brasil reacionário e obscurantista sob o qual morrem diariamente vários Henry Borel, Agathas e tantas crianças sem culpa, ricas ou pobres.
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