Ontem o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva ganhou sinal verde do Supremo Tribunal Federal para concorrer às eleições em 2022.
Isso porque a sentença que o ministro do STF, Luís Edson Fachin, deu para anular as condenações e inquéritos da Operação Lava Jato contra Lula foi confirmada pela votação de ontem.
O recurso movido pela Procuradoria-Geral da República para reverter a anulação foi rejeitada por oito votos contra três.
Quem votou a favor da anulação foram os ministros Fachin, Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Luís Roberto Barroso.
Já quem votou contra foram Nunes Marques, Marco Aurélio Mello e Luiz Fux.
A medida praticamente sepulta a era Sérgio Moro, isso oficialmente falando.
Da mesma forma, o resultado de ontem traz a segurança jurídica que havia sido ameaçada pelo lavajatismo. E, segundo afirma a defesa de Lula, restabelece a credibilidade da Justiça.
Se bem que, segundo alerta o semiólogo Wilson Roberto Vieira Ferreira, o ex-juiz pode voltar como um outsider político.
Recentemente revelou-se que Moro está negociando com empresas estadunidenses, sob o intermédio do Departamento de Estado dos EUA, para a exploração da Amazônia brasileira.
A votação do STF pode significar uma vitória jurídica para Lula, ao passo que representa uma derrota para Moro.
Mas o momento ainda não é para comemorar. A democracia venceu a batalha, mas não a guerra.
O anti-petismo é ainda muito forte, e no mesmo dia da votação Pedro Bial veio com um comentário bastante grosseiro contra Lula. Disse que só o entrevistaria se tivesse munido de um detector de mentiras.
Anteontem, aqui em São Paulo, teve um "cidadão de bem" que jurava que Lula "é ladrão" e ainda ridicularizou um rapaz que expressava sua dúvida quanto a isso.
Mas aqui é fichinha. Lá em Niterói, onde se coloca cartaz de propaganda de Jair Bolsonaro, a coisa é pior ainda. Os anti-petistas da cidade onde morei até pouco tempo atrás são, em boa parte, bolsomínions que ladram, mordem, arranham, ofendem e atiram.
O Grande Rio não é lá um paraíso de esquerdistas, como as esquerdas médias - por ironia, centralizadas em São Paulo - tanto sonham.
Pensam que o Rio de Janeiro é "socialista" por causa da... linda orla marítima, de belas praias.
E Niterói? Niterói é tida como "socialista" porque... porque sim. O fato da antiga capital fluminense ter sido local de fundação do Partido Comunista Brasileiro, em 1922, não diz muito aos dias de hoje.
A vitória de Lula no STF é apenas um pequeno passo de um longo caminho.
Quem quer Lula governando no Brasil vai ter que reescrever o nome dele trocando o "l" pelo "t".
Como vai ser essa luta por Lula, no contexto da pandemia de hoje, eu realmente não sei, porque a complexidade social não me permite dar minhas propostas pessoais nesse âmbito.
Afinal, existe debate e mobilização para que outros indivíduos, outros setores da sociedade, possam fazer para assim saberem como defenderão Lula, diante do furacão do anti-petismo.
A atuação do STF sinaliza que uma boa ideia é a proteção e a vigilância institucionais para que Lula possa governar sem risco algum.
Usar as leis para, sobretudo, punir quem se opusesse de maneira violenta - não se confunde com a oposição democrática, da crítica a Lula dentro dos limites do respeito, ainda que essas críticas sejam enérgicas - , a ponto de despejar calúnias e mentiras contra o petista.
Uma coisa é achar que, em dada atitude, Lula cometeu um erro. Outra é chamá-lo gratuitamente de "ladrão" e fazer montagens ofensivas e mentirosas contra ele, tipo tentar defini-lo como "mafioso".
A época atual não é um céu de brigadeiro para as esquerdas.
Devemos moderar na emoção, porque a posse de Lula não está garantida.
Jair Bolsonaro quer permanecer no poder e pode agir de forma mais agressiva. Já fez ameaças ao Supremo Tribunal Federal há poucos dias. Sinalizou que irá tomar uma "atitude".
Relacionando fatos como o processo de impeachment contra Bolsonaro e a vitória de Lula no STF, o presidente disse:
"Eu não quero me antecipar, mas só Deus me tira da cadeira presidencial. E me tira tirando a minha vida. Fora isso, o que nós estamos vendo acontecer no Brasil não vai se concretizar. Mas não vai mesmo!".
A coisa ainda está complicada.
Não dá para as esquerdas festivas e emotivas - principalmente aquelas que veem Lula não como ele é, um ex-operário que se tornou grandioso governante, mas um reboot de Dom Pedro II - ficarem achando que agora tudo está garantido para ver o petista governando o Brasil em 2023.
O momento é de prudência, usar mais a razão que a emoção.
O que ocorreu no STF não é um milagre. Não são preces que elegerão Lula. Não é o misticismo que fará isso.
O que garantirá a Lula a sua estabilidade no poder é a atuação das instituições, dos movimentos sociais e da sociedade democrática em proteger e garantir até a integridade física dele.
É com luta e não com emotividade que se garantirá a volta e a permanência de Lula no poder.
Caso contrário, poderemos sofrer um golpe ou, na melhor das hipóteses, a direita moderada voltará ao poder.
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