WALDICK SORIANO, ZEZÉ DI CAMARGO, LEANDRO LEHART, MC FIOTI E JOELMA - Quando a retaguarda brega-popularesca tenta ser empurrada para a vanguarda.
No Brasil terraplanista de hoje, vemos o quanto ser cool foi deturpado no contexto da imbecilização cultural de hoje.
Num mercado saturado de subcelebridades e artistas medíocres, não há constelação para todo mundo, conforme alertaram Raul Seixas e Marcelo Nova em 1987.
O problema é que o brega-popularesco virou o "novo normal" da cultura brasileira, uma suposta cultura popular que se tornou mais do que hegemônica. Ficou totalitária, com todo seu superficialismo e mediocridade gritantes.
E é tanto sub-artista, tanta subcelebridade, que já tem muita gente se achando, enquanto a intelectualidade também fica com seu pensamento desejoso, atribuindo suposta genialidade e pretensa vanguardice aos bregas apenas por uma simples questão de vaia e críticas negativas.
Temos desde o pensamento desejoso de uma intelectualidade "bacana" - para entender esses intelectuais, ver Esses Intelectuais Pertinentes... - , atribuindo "vanguardice" a Waldick Soriano e Odair José até a delirante visão de Leandro Lehart que se autoproclama "artista alternativo".
Todo mundo fazendo Semana de Arte Moderna num copo d'água, num verdadeiro atestado de profunda desconexão da realidade.
Tentam creditar Waldick Soriano como um provocador artístico e um suposto cantor de protesto.
Tentam creditar Odair José como vanguardista, psicodélico, quando tudo o que ele fez foi um bubblegum inócuo e calcado no rock italiano do começo dos anos 1960.
E aí temos Zezé di Camargo, devido ao filme Os Dois Filhos de Francisco, vivendo seus quinze minutos de fama ao lado de emepebistas, intelectuais e cineastas.
E temos Leandro Lehart se achando a "salvação" da cultura de vanguarda brasileira.
E temos MC Fioti recebendo, de graça, os "superpoderes" de uma opinião pública deslumbrada: sem o menor esforço, ele virou "historiador, cronista, modernista, educador, cientista e revolucionário bolivariano", para não dizer a reputação de "ser o João Gilberto brasileiro".
"João Gilberto brasileiro"? Ahn?! Mas são os poderes do "bumbum tantã" dessa moçada identotária, lacradora e terraplanista, mesmo os ditos "isentões" ou "de esquerda".
E temos a Joelma,, ex-Calypso, cujas plásticas tentam fazê-la parecer com a Brittany Murphy no final da vida - mas sem o vozeirão da saudosa atriz e cantora - , querendo posar de heroína de quadrinhos visando "atingir novos públicos".
E Joelma, meses atrás, usou uma jaqueta punk com estampa dos Misfits.
A propósito, Brittany fez (anti)heroína de HQ no filme Sin City - Cidade do Pecado (Sin City), que teve o ex-Misfits Glenn Danzig no elenco.
Num dos poucos momentos de sensatez, o bolsomínion Digão, dos Raimundos, ícone do rock engraçadinho dos anos 1990, pelo menos foi feliz quando falou que, para usar vestuário punk, tem que ouvir e amar os artistas do gênero.
E, como não há coisa ruim que não pode ficar pior, temos o caso da "Dança do Carpinteiro", do ídolo do brega maranhense Elias Monkbel e com versão interpretada por Orlandinho, pernambucano ícone da "pisadinha" (derivado do forró-brega).
A fonte é "O Carpinteiro", que o hoje apresentador de TV Ronnie Von gravou em sua fase psicodélica. A música é uma versão de "If I Were a Carpenter", do cantor folk Tim Hardin, que se apresentou no Festival de Woodstock de 1969.
Esculhambaram com as duas versões. Ronnie Von nessa época vivia uma fase comercialmente mal-sucedida, mas que surpreendeu com influências de psicodelismo e rock de garagem, de altíssimo nível.
Já Tim Hardin faleceu de overdose em 1980, somando-se a Ian Curtis, Darby Crash, John Bonham e Bon Scott, cujas tragédias, por mais que repercutissem muito, foram ofuscadas pela de John Lennon, naquele ano.
Essa apropriação de um antigo folk é mais um episódio do brega-popularesco se vendendo como mercado falsamente indie (prestem atenção na mentalidade gananciosa dos "humildes micro-empresários" das gravadoras "independentes" e cairão da cadeira), falsa vanguarda etc.
E isso num tempo em que tenta-se inverter os valores do não-comercial com o do comercial, com o ídolo comercial bancando o "coitadinho que se esforça" e o não-comercial "demonizado" por proteger os direitos autorais de suas músicas.
E descreve-se esses episódios todos lamentando que, para ser "legal" no Brasil, tem que se ouvir Anitta, gostar de "funk", ser fã do Big Brother Brasil. É "tomar no cool", mesmo.
E isso é lamentável, é triste, é de partir o coração.
Não vou aderir a isso. Não quero ser mais um no gado, não caio na ilusão de que, para ser "verdadeiro" na vida, tem que tatuar (ou "gaduar"?) boa parte do meu corpo.
Liberdade, isso? De tatuar o corpo porque aquele programa vespertino da Rede TV! disse que ser tatuagem "é legal"? E as pessoas que juram que só veem Netflix e não assistem à televisão mas veem Rede TV! com submissão religiosa, aderindo a tudo como se fosse o mais livre dos mundos?
E essa "liberdade" cujos gurus são William Bonner, Sílvio Santos, Luciano Huck, Marcelo de Carvalho, Fausto Silva, Galvão Bueno e, lá do além-túmulo, Otávio Frias Filho?
Neste Brasil terraplanista-lacrador, negacionista, senão às restrições da pandemia, ao menos aos alertas da Razão, ser supostamente vanguardista é apreciar a retaguarda do establishment brega-popularesco.
Ser "livre" é seguir o gado, falando mal do "vaqueiro" (os tais "gurus" acima citados) mas seguindo, com fidelidade bovina, o caminho que ele determinar.
O gado vai para o precipício? "Vamos lá, vai todo mundo para o abismo, quem não ir junto vai ficar de fora de tudo". Até o gado se esborrachar morto no chão, aquele que não seguir o gado será alvo de humilhação ou, na melhor das hipóteses, de desprezo aborrecido da boiada.
E aí ser "vanguarda" virou o mesmo de ser um mainstream enrustido e metido à besta, nos cenários lacradores das redes sociais que são o novo establishment travestido de "mídia alternativa".
E isso sobretudo num reduto de mediocridade incurável que é o brega-popularesco, que não tem o direito de forçar a barra se vendendo como "alternativo" ou "vanguarda" às custas de nada além de mera pretensão de ser aquilo que não é.
É tudo um ambiente de comercialismo, de mainstream até a medula, e o pessoal fica se achando, querendo sonhar demais e achando que pode ser algo diferente de si mesmo.
E isso sob os aplausos de um público arrogante, que em nome do "estabelecido" é capaz de fazer linchamento virtual contra quem discorda do que acreditam. É o tal Tribunal da Internet, uma coisa terrível e medieval vinda de gente descolada e supostamente moderna.
Virou tudo um cenário em que o "normal" tenta tanto se passar por transgressor e excêntrico que hoje o mainstream hoje é uma festa estranha com gente esquisita.
O Brasil está culturalmente péssimo, decadente. Afinal, Jair Bolsonaro conseguiu ser eleito, não é mesmo?
Nessa situação toda, eu decidi que não sou mais nerd, não sou mais loser e não quero saber em ser um "gique". E troquei Niterói por São Paulo, para provar que mudei para valer.
Daí que não vou seguir o gado que vai animado para o abismo, mesmo o abismo simbólico do "estabelecido" travestido de "transgressor". Se o gado sucumbir, pelo menos eu não serei uma das vítimas. Triste país.
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