O que a jornalista Leda Nagle fez ontem é coisa de fazer careca arrancar os cabelos que não tem.
A coisa é da mais extrema gravidade e sinaliza a preocupação que se deve ter no cenário político do Brasil.
O céu não está para brigadeiro, como eu havia escrito, e as esquerdas não podem comemorar só porque o Supremo Tribunal Federal inocentou Luís Inácio Lula da Silva.
Isso porque o próprio STF virou vidraça pelos robôs reacionários que, como vermes, se multiplicam nas redes sociais.
Ontem, a jornalista Leda Nagle compartilhou um vídeo no qual um bolsonarista que se disse ser delegado alegava um suposto plano de Lula assassinar Jair Bolsonaro.
O que aflige é que Leda Nagle é dotada de muita visibilidade e, até pouco tempo atrás, parecia uma jornalista competente, antes de virar uma reacionária doentia.
Ela foi um dos apresentadores do Jornal Hoje, da Rede Globo, programa que comemora 50 anos este ano, e também foi marcada por ter apresentado o programa Sem Censura, na TVE / TV Brasil.
Leda também é sogra de Sabrina Sato, casada informalmente com o filho da jornalista, o ator Duda Nagle, com quem tem uma filha, Zoe.
Só a Sabrina Sato, em parte, empresta sua visibilidade e carisma à imagem da sogra, por mais que a ex-BBB nada tenha a ver com o reacionarismo da mãe de Duda Nagle.
Isso faz com que Leda Nagle seja uma lacradora em potencial. O nome dela apareceu nos trend topics, a lista das palavras-chave mais usadas no Twitter.
A repercussão foi tão negativa que Leda gravou, depois, um vídeo pedindo desculpas por ter compartilhado uma notícia falsa. Mas foi tarde demais, porque o vídeo já havia viralizado.
É o segundo ataque contra Lula feito por uma personalidade da mídia, curiosamente vinda da Globo. Dias atrás, Pedro Bial propôs entrevistar Lula ao vivo, sob a condição de usar um polígrafo, aparelho detector de mentiras.
Bial jura que não foi grosseiro, como acusarem de ter sido. Usou uma desculpa esfarrapada: "grosseiro é ousar impor condições como 'só faço ao vivo, não confio na edição'". E ainda ironizou, dizendo que mais honesto seria chamá-lo de "jocoso" e "irreverente", "mas talvez não fosse tão chamativo".
E é irônico que Pedro Bial, que denunciou o charlatão e criminoso João de Deus, passou pano quando uma Maria Paula talentosa, mas em baixa na carreira, citou o farsante "médium espírita" que viu a mãe e a atriz, então bebê, numa rua em Uberlândia.
O "médium", pioneiro na literatura fake e reacionário incorrigível, apenas elogiou a menina, dizendo que ela iria "trazer alegria a milhares de brasileiros". Maria Paula até fez, mas num momento de semi-ostracismo, ela tentou a carteirada do "bondoso médium" para tentar voltar a estar em alta.
E o "médium" era um sujeito muito mentiroso. Usou nomes dos mortos para enfeitar textos pessoais cujo conteúdo era um igrejismo medieval e altamente reacionário, que o fez ser colaborador da ditadura militar, defendendo o AI-5 e anestesiando o povo com a farsa das "cartas mediúnicas".
Esse "médium" causou euforia na imprensa sensacionalista, identificada com seu tipo pitoresco, e o religioso, tido como "símbolo de paz e fraternidade", foi condecorado pela Escola Superior de Guerra (!), o que confirma que o esperto mineiro colaborava com o regime dos generais.
Isso por uma razão muito simples: cérebro da ditadura militar, a ESG nunca iria em momento algum oferecer espaço e tempo, gastando dinheiro com medalhas e diplomas, para dar homenagens e permitir palestras de quem não fosse colaborador da ditadura militar.
Imagine se, naqueles anos de chumbo, a entidade que concebeu o golpe militar e a logística ditatorial iria condecorar alguém que uma parcela de iludidos acredita ser "moderno e progressista". Nem em sonhos.
Voltando à Leda Nagle, o que ela fez pode ameaçar a vida de Lula, porque, num raciocínio invertido, poderá haver um plano para matar Lula, vindo de bolsonaristas fanáticos.
Jair Bolsonaro está criando condições para armar os seus seguidores. Já teve empresário disposto a atirar em Lula.
O julgamento do projeto de flexibilização do comércio e porte de armas proposto por Bolsonaro, no STF, está suspenso, por decisão inspirada no parecer da ministra Rosa Weber.
A situação está gravíssima. As esquerdas estão brincando com fogo. As forças conservadoras não estão intimidadas.
A candidatura de Lula para a Presidência da República, em 2022, continua em risco.
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