Ás vezes, as coisas parecem boas demais para serem verdade.
Há cinco anos, havia um anti-petismo histérico, uma fúria anti-Lula que influiu na queda da presidenta Dilma Rousseff, sucessora do ex-presidente e que tentava um segundo mandato.
Houve o golpe político de 2016, com Michel Temer e Jair Bolsonaro, motivado pelas armações da Operação Lava Jato.
Houve o cancelamento dos direitos trabalhistas, o enfraquecimento das estatais e empresas privadas nacionais, e todo um pacote de retrocessos.
Veio o radicalismo bolsonarista, com tanta gente querendo que o "bunda suja" do Exército fosse eleito na marra, com tantas opções até para quem era de direita!
E aí, com a tragédia da pandemia, veio a crise do bolsonarismo.
E aí, de repente, Lula ganhou adesões inimagináveis.
Claro que não se fala do Reinaldo Azevedo, que já foi petista, depois virou anti-petista histérico, se decepcionou com a Operação Lava Jato e decidiu entrevistar Lula.
Vamos, sim, furar a bolha, acolher gente que, aparentemente, não parecia aliada e passou a ser.
O problema é que não dá para furar a bolha como se quer. Gente de fora efusiva demais, prometendo da paz mundial ao rodízio de cerveja, não é confiável.
Só que 2002 teima em se repetir. E Lula fala em aliar-se com o "centro".
Um "centro" que agora ficou disforme, se dividindo em três.
Tem o "Centrão" que em primeiro momento flertou com Jair Bolsonaro mas trama nos bastidores sabotar seu governo pressionando pela queda dos ministros.
Tem o "grupo dos seis", dos quais só Ciro Gomes não votou em Bolsonaro (ele se absteve no segundo turno de 2018), e que tem Eduardo Leite, Luciano Huck, João Dória Jr., João Amoedo e Luiz Henrique Mandetta.
E tem um "centro", com setores "orgânicos" do PSDB dentro, que agora dizem apoiar Lula.
Estranho. Um golpe que se reverte e se desfaz como se não tivesse existido.
Igual ao da Bolívia, quando houve o golpe contra Evo Morales, que havia sido reeleito novamente, e Jeanine Añez governou com repressão e retrocessos. E, de repente, o golpe foi desfeito, o discípulo de Evo, Luís Arce, foi eleito e a centro-esquerda voltou a governar o povo boliviano.
O que houve? Golpe que deu em nada? As elites primeiro derrubam o governo, para depois abandonar o barco?
Ou será que elas tramam se infiltrar nas esquerdas, podando sua agenda progressista, minando-a por dentro?
Lula preocupado em agradar o mercado, desiludido com o "posto Ipiranga" Paulo Guedes.
Rumores de que a Caixa, a Eletrobras e a Petrobras terão suas fatias vendidas para a iniciativa privada.
Uma "frente ampla" aparentemente entusiasmada com a possibilidade de Lula voltar a governar o Brasil.
Parecia que era ontem que havia um anti-petismo raivoso.
Seria ótimo Lula voltar a governar o país? Sim, sem dúvida. Mas não com esse risco da agenda progressista ser podada para quase nada.
Já não se fala mais em reverter os retrocessos trabalhistas e até a Bolsa Família, de tão banalizada, caiu no esquecimento.
Em compensação, enfatiza-se tanto o auxílio emergencial que, na prática, ele virou "auxílio permanente". Ou uma espécie de "prima pobre" do Bolsa Família. Bolsa Família 2.0?
Michel Temer, Sérgio Moro e Jair Bolsonaro estão desacreditados. Mas seus legados, de certa forma, estão preservados.
O que se teme é isso. Que 2002 voltou, com Lula 2022 mais moderado que Lula 2002, que já era mais moderado que João Goulart 1963 (o Jango presidencialista derrubado pelo golpe de Primeiro de Abril, em 1964).
Enquanto isso, o gado de Internet promove o boicote ao revelador livro Esses Intelectuais Pertinentes..., potencial candidato a título mais polêmico de 2021.
E as esquerdas apenas botando seus "brinquedos culturais" da centro-direita no armário, esperando uma nova oportunidade para brincar com eles sem alguém para lhes dar bronca.
E tudo isso tem mais a ver com distopia do que de utopia por um Brasil melhor.
Tempos malucos, os do Brasil dos últimos anos.
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