BANDA? TENTE PROCURAR UM INSTRUMENTISTA ENTRE OS MEMBROS DO BTS.
O uso do termo "banda" virou um cacoete de nossa imprensa decadente, não só no Brasil, mas também em Portugal.
Essa aberração, vigente desde os anos 1990 - a "década perdida" que virou os "anos dourados" para a sociedade lacradora de hoje - , é uma ofensa ao trabalho da classe dos músicos em geral.
Existe uma diferença entre o esforço de um instrumentista em ensaiar acordes, treinar canções etc e um grupo de jovens rapazes ensaiar danças juntos e treinar os vocais que serão processados pela computação.
Alguém sabe quanto tempo um instrumentista tem para treinar canções? Tem músico que treina a noite inteira, isolado no estúdio, só para compor uma canção e achar os acordes certos.
Pesquisando sobre o k-pop para uma possível análise de sua opressiva indústria do estrelato, eu vi páginas chamando os grupos vocais de "bandas", sobretudo o BTS, que só num evento teve que colocar um integrante "tocando bateria" para mostrar algum serviço.
Pelo menos no Reino Unido grupos de rapazes, como Take That e One Direction, têm que, no decorrer da carreira, mostrar que seus membros são também eventuais instrumentistas.
Mas no k-pop e no j-pop (similar japonês), as ditas "bandas" são rigorosamente grupos de meros vocalistas e cantores controlados por empresários que têm, a seu serviço, produtores, compositores e instrumentistas ocultos neste espetáculo de pleibeque e coreografia.
Como na maioria desses grupos juvenis, há faixas em que um membro vaz o vocal solo e os outros integrantes simplesmente fazem... nada. Nos clipes, os demais membros ficam cruzando os braços, olhando a paisagem, pensando noutra coisa...
É horrível essa depreciação da teoria musical feita por "jornalistas" contratados pela mídia do entretenimento sem um preparo.
Nossa imprensa contemporânea é incapaz até de garimpar informações e apurar notícias.
Ainda não engoli uma matéria do UOL falando do "ator americano" Art Garfunkel, quando ele foi marcado pela parceria com Paul Simon, a dupla Simon & Garfunkel, mundialmente conhecida!
Que jornalismo é esse que está desinformado até do óbvio?
THE DIAMONDS - GRUPO VOCAL É "CONJUNTO", NÃO "BANDA".
Quanto ao termo "banda", eu fui a um sebo de discos em Copacabana, Rio de Janeiro, em 2014, e vi um disco de um antigo grupo vocal do Canadá, The Diamonds, de 1957.
É a edição brasileira do disco America's Number One Singing Stylists, que ganhou o título de "O mais estilizado conjunto vocal da América". CONJUNTO, entenderam?
Até se chamasse o BTS, o Menudo, os Backstreet Boys etc de "coral" soaria bem mais pretensioso e até faria doer os estômagos dos musicólogos eruditos, mas seria bem mais realista que "banda".
Fico imaginando os Beatles, que eram até ídolos adolescentes entre 1963 e 1966, mas eram músicos de verdade.
Preocupados com a histeria das fãs, o quarteto de Liverpool tomou uma atitude bastante drástica, depois de irritarem os fãs com a única música em que os membros participam sem tocar instrumento: "Eleanor Rigby", de 1966.
NO ROCK BRITÂNICO, TEMOS O EXEMPLO DOS BEATLES CANCELANDO TURNÊ PARA SE VALORIZAREM COMO MÚSICOS, E PETER FRAMPTON ENFRENTANDO DOENÇA DEGENERATIVA PARA DEIXAR SEU LEGADO COMO GUITARRISTA.
Paul McCartney, em entrevista, disse que ele não conseguia ouvir o que ele estava tocando, tamanha a gritaria das fãs. E falou que, se os Beatles não tocassem música e os membros ficassem gritando apenas "Yeah!", as fãs continuariam histéricas do mesmo jeito.
O grupo terminou uma turnê em 1966 e resolveu virar um grupo de estúdio, criando um repertório que virou de cabeça para baixo a carreira do quarteto de Liverpool.
A primeira fase dos Beatles era ótima e cheia de grandes canções, mas o grupo deixou a zona de conforto e foi se aprimorar musicalmente para não sucumbir à mesmice.
Os Beatles poderiam continuar nas turnês, bancando o quarteto de marionetes musicais, até sem tocar instrumento, garantindo o espetáculo que hoje alimenta os BTS da vida.
Mas não. Os Beatles eram MÚSICOS e tinham respeito a essa atividade, preferindo sacrificar a estabilidade confortável de seu sucesso para se evoluírem como instrumentistas, arranjadores e compositores.
Vemos também o trabalho que outro músico britânico, Peter Frampton, está fazendo hoje.
Aos 71 anos, Frampton sofre uma doença degenerativa, que poderá incapacitar brevemente seus movimentos. Ele está dando tudo de si para gravar seus discos, porque em breve ele poderá estar inválido e, infelizmente, talvez até morto.
Frampton é um grande guitarrista. Já lecionou guitarra e é um grande nome do rock e um excelente compositor de músicas como "Show Me The Way", "I'm In You", "Baby I Love Your Way" e "Breaking All The Rules", além de um repertório fora do hit-parade, cheio de clássicos escondidos.
O músico também é conhecido por ter integrado a banda de garagem The Herd e grupos como o Humple Pie, ambos excelentes.
E aí vemos o que é um trabalho de músico, que a classe dos músicos no Brasil aprecia muito, mas seu solipsismo os impede de ver os problemas relacionados ao pop juvenil atual, que depreciam a classe dos instrumentistas.
Nesse pop juvenil, até parece que a música é um teatro de marionetes, com bonequinhos se movimentando e dublando enquanto um músico oculto, que não integra a suposta "banda", toca um fundo instrumental escondido do palco.
As pessoas hoje pensam que música é uma questão de uma ideia na mão de um sintetizador na cabeça, é como uma fábrica de linhas de montagem. Às vezes, é um violãozinho qualquer nota "esfregado" pelas mãos de algum músico de luau "bacaninha".
Ninguém vê a realidade do músico. Mas também os músicos não ajudam, eles no Brasil ficam no seu solipsismo, para o seu umbigo, enquanto a realidade pega fogo aos seus pés.
Num contexto em que até as dançarinas do É O Tchan são consideradas "musicistas", os músicos só se inquietam com os arbítrios de eventuais chefes da Ordem dos Músicos do Brasil.
Mas não se incomodam quando grupos de um vocalista e vários dançarinos são considerados "bandas" e levam reputação de "músicos".
Daqui a pouco o dançarino que só leva cinco dias para conseguir sincronizar seus passos com os de outros dançarinos vai ganhar registro na OMB e o músico que leva o mesmo tempo para compor cinco músicas ou talvez menos será passado para trás.
Pensemos nisso. Já bastam os intelectuais brasileiros passarem pano na degradação cultural brasileira e estrangeira.
Comentários
Postar um comentário