Haja pretensão. Num tempo de sociedade hipermercantilizada e hipermidiatizada, tem gente que ignora isso e acha que sua bolha é um mundo aberto.
Pois o cantor Leandro Lehart, do Art Popular, veio agora com sua pretensão: achar que ele é um "artista alternativo".
A "pérola" foi descrita em matéria do portal Quem Acontece, anos depois de Lehart também ter virado queridinho das esquerdas identitaristas que apreciavam, via Pedro Alexandre Sanches (o "filho da Folha" e um dos "astros" do meu livro Esses Intelectuais Pertinentes...).
Entre outras declarações, Lehart chama o Art Popular, ícone do sambrega ou "pagode romântico" dos anos 1990, de "samba de raiz".
Lehart, sem explicar essa sua definição, diz que o que ele entende como "samba de raiz" está "totalmente ultrapassado, porque acredita na contrariedade".
Que ele vá lá criar o seu som como quiser, tudo bem. Mas ele anda sonhando demais, tentando ser aquilo que ele não é, o "artista alternativo" que finge ser para parecer bem na fita.
Ele acha que basta "contrariar e fazer aquilo que parece impossível de dar certo" que será um músico de vanguarda ou anti-mercado e isso é um terrível equívoco.
Afinal, o próprio ultracomercialismo pop de hoje tenta ser "alternativo": lá fora, Demi Lovato, Miley Cyrus ou mesmo o sul-coreano BTS são reflexos disso.
Não tem graça alguma essa pretensão de ser "alternativo" porque isso também é comercialismo. Um comercialismo avesso, um empreendedorismo musical na qual o cantor comercial possui autonomia para fazer seu trabalho.
Em primeiro lugar, a gigantesca indústria do pop internacional, cujo dono é o produtor e compositor Max Martin - que está por trás de 99,99% do que se consome de pop juvenil nos últimos dez anos - , permite essas "autonomias" e "transgressões" de que Leandro Lehart tanto fala.
Ele mais parece próximo do atual contexto da música comercial de hoje em dia do que de qualquer música de vanguarda da qual Lehart deseja, em vão, ser incluído.
Musicalmente, ele nada faz de novo em relação ao que se fez de samba, e, quando tentou apresentar uma proposta "inédita", foi apenas a de virar um pálido imitador do hoje esquecido sambista Monsueto (1924-1973).
Além disso, Lehart nem rompeu com o comercialismo do Art Popular e seu "arrependimento" por esse comercialismo nem chega a ser visceral nem convincente.
Repetindo: que Lehart vá levar adiante o que ele entende como suas novas propostas musicais, que ele esteja à vontade para fazer isso.
Mas que ele não banque o pretensioso, se achando "músico de vanguarda" ou outros exageros. Mesmo sendo autônomo como cantor, músico e compositor, ele continuará sendo um cantor comercial, que foi a marca que ele deixou em sua carreira e não se apagará jamais.
Além disso, supostas transgressões artísticas não o fazem menos comercial, num contexto em que, no pop comercial, temos Demi Lovato fazendo clipe baseado na overdose de drogas que quase a matou.
Tudo é hipermercantil, hipermidiático. Não dá para ser alternativo nem vanguardista e nem indie nessas condições. Quem está nessa será um eterno morador da bolha irremovível do comercialismo, mesmo bancando o seu extremo oposto.
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