Hoje já se reconhece, oficialmente, que o grupo Sambô cometeu uma insanidade ao fazer uma versão alegre de "Sunday Bloody Sunday" do U2.
A canção do U2 não é uma música alegre, e sua letra narra um massacre de tropas britânicas contra manifestantes pelos direitos civis, na cidade de Derry, na Irlanda do Norte, episódio ocorrido em 1972 e foi conhecido como Domingo Sangrento.
Portanto, o sangue derramado nesse domingo não é o sangue do churrasco suculento dos almoços animados pela desavisada versão do Sambô.
Mas esse alerta nem sempre foi reconhecido e quase todo mundo passou pano nesse problema quando o Sambô arriscava as paradas de sucesso, em 2012.
Vamos lembrar que o Sambô é uma espécie de Virguloides pelo avesso, mencionando aqui este grupo que havia feito sucesso com "Bagulho no Bumba", por volta de 1997.
Os Virguloides faziam pop rock (aquele roquinho fácil que a 89 FM lançou nos anos 1990 depois do estouro dos Raimundos e Mamonas Assassinas) mesclado com sambrega, o samba pasteurizado e brega dos anos 1990 conhecido, também, como "pagode romântico".
Já o Sambô faz a mesma coisa, só que no sentido contrário, e enfatizando covers oportunistas e ruins de músicas de gente séria como U2 e Led Zeppelin.
Na época do sucesso do grupo, a mídia passava pano e definia o grupo como "uma fusão de sambalanço com rock", como se fosse algo sério.
Quem não ouviu o som do Sambô e tomou conhecimento da banda pela imprensa, vai pensar que o grupo misturava Jorge Ben Jor com Led Zeppelin.
Mas o som do Sambô, assim como foram os Virguloides, era um desastre só. Mas até aí nada demais.
O grande problema é que eu percebi, antes de quase todo mundo, que o Sambô cometeu um gravíssimo erro com a versão sorridente de "Sunday Bloody Sunday", tratada como se fosse um hino carnavalesco.
Cantar sorrindo uma letra em inglês sobre uma tragédia é algo bastante constrangedor e grave, mas creio que o Sambô fez isso por boa fé, talvez por sua falta de intimidade na língua inglesa.
Afinal, o inglês de cursinho, até razoavelmente bem pronunciado, no entanto soam letras mortas numa pronúncia em que não se percebe o significado, se limitando apenas a mera reprodução de sons.
Pronunciar corretamente o inglês não garante às pessoas a escadaria para o céu e muito menos uma estadia em Nova York.
E também a boa dicção em inglês não garante a locutores pop serem considerados preparados para trabalhar em rádios de rock. Thiago Mastroianni, lá da Bahia, e Demmy Morales, no Rio de Janeiro, são exemplos disso.
E aí vemos a falta de compreensão que melou o sucesso do Sambô, embora as pessoas só tenham percebido o problema de "Sunday Bloody Sunday" tarde demais.
Eu já escrevia esse problema em 2012, mas ele só foi oficialmente reconhecido quase dez anos depois, quando o Sambô havia caído no esquecimento.
Não seria melhor o pessoal passar a adquirir o Esses Intelectuais Pertinentes... antes de se chocarem com novos incidentes?
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