CARTAZES DE DUDA BEAT ESPALHADOS PELAS RUAS DE SÃO PAULO - Exemplo de que o mercado brasileiro passou a dominar, mesmo com atraso, a estética do pop comercial dos EUA.
Brasil abre mão de sua rica cultura musical para assimilar uma gramática do pop comercial, uma obsessão de uma elite de empresários e produtores desde os primórdios da bregalização cultural, há cerca de 65 anos.
A elite do bom atraso, através da intelectualidade "bacana" - que saía dos porões da Globo, Folha e PSDB para fazer proselitismo na mídia de esquerda - , desqualificava a nossa cultura musical como "velha e ultrapassada", propondo a "modernização" através dos ritmos popularescos, ritmos comerciais e caricatos que eram defendidos sob a desculpa do "combate ao preconceito ".
Verdadeiros surtos hidrófobos eram feitos contra a MPB autêntica, "velha e ultrapassada ", enquanto muita choradeira era feita em defesa dos ritmos brega-popularescos, gourmetizados por uma retórica pretensamente etnográfica e militante.
Na verdade, é uma burguesia intelectual paulista, com similares em outras partes do Brasil, que parece sentir vergonha do legado musical brasileiro. O problema nem é assimilar o que há de fora, mas de defender, tanto do lado nacional quanto do estrangeiro, a precarização cultural, criando um discurso legitimador da bregalização e, num plano um pouco mais organizado, o pop imitação do que se faz nos EUA.
Desde mais ou menos 1975, quando mesmo dentro do brega se tentava forjar um pop "moderno", com novos cantores pisando com jeans como se fossem modelos da marca US-Top, aparecendo com as mãos nos bolsos nas estações de trem, é que o mercado musical brasileiro tetnou implantar uma gramática pop.
E aí vimos nomes como Gilliard, José Augusto, Adriana, Fernando Mendes, Harmony Cats e os exóticos Sidney Magal e Gretchen, além de um genérico do Boney-M chamado Genghis Khan - depois Brazilian Genghis Khan - , que introduziram o pop de hit-parade, junto ao romantismo dos cantores "exportação" (Morris Albert, Terry Winter e os hoje "brasileiros" Michael Sullivan e Christian) e de nomes como Década Romântica, que faziam covers de música estrangeira.
Ao longo do tempo, nomes como Sublimes, Maurício Manieri, Rouge, Jota Quest e outros também representaram essa estética pop que o mercado assimilava nos fazendo crer que essa atitude era algo como a invenção da roda no Brasil. Não era, mas é tanto viralatismo cultural no Brasil que 99% desse culturalismo é posto debaixo do tapete, enquanto o "viralatismo cultural" oficialmente se limita a Jair Bolsonaro, Sérgio Moro, Carla Zambelli, Monark e companhia.
Desde que o pós-brega - a geração da música brega-popularesca que, a partir do fim da década de 2000, assimilou a "estética MTV", gerando tendências como a sofrência, o piseiro, o trap brasileiro, o "funk ostentação" etc - tornou-se sucesso estrondoso, e, paralelamente a isso, o pop brasileiro tornara-se dominante a ponto das gerações recentes de MPB fazer apenas "música de luau na praia", tipo Anavitória, Melim, Tiago Iorc etc, fazer um som e uma atitude mais "cordeirinhas".
Com tudo isso, o mercado finalmente assimilou a gramática do pop comercial dos EUA, ainda que com certo atraso - Anitta, por exemplo, faz hoje o que Britney Spears fez há mais de 25 anos - , como quase tudo que acontece no Brasil. O nosso país vive a supremacia do comercialismo musical em todos os sentidos, o que faz acostumar mal os ouvidos de muita gente, presa nas zonas de conforto dos grandes sucessos em geral.
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