"Se a gente não tiver rapidez entra uma outra praga de gafanhoto e destrói tudo. Quem está na presidência tem pressa. O mandato é muito curto, já está acabando". Foi o que disse Lula, durante o 20º Natal dos Catadores, realizado em Brasília.
Lula poderia ter razão nessa declaração se não fosse por um detalhe. Lula começou o mandaro mais preocupado em viajar para o exterior e fazer política externa do que reconstruir o Brasil. A impressão que se teve é que Lula estava mais preocupado em reconstruir a Ucrânia do que o Brasil.
Nem mesmo o combate à fome, que fez Lula se comportar como um bebê chorão nos comícios de campanha, foi prioridade. Uma ação neste sentido só foi anunciada em março. Em maio, os trabalhadores só conseguiram ver uma medida em seu favor a partir de maio.
Portanto, não faz sentido Lula dizer que está com pressa se não agiu imediatamente. Eu, considerando o que deve ser uma estratégia política de verdade, defendi que Lula deveria ter feito um ano sabático ao Brasil e adiado a política externa para um ano depois. Primeiro o Brasil deveria se melhorar internamente para depois retomar o prestígio internacional.
Da forma que fez, Lula acabou se expondo de maneira negativa, se envolvendo em polêmicas desnecessárias e irritando o povo brasileiro. Supostamente grande estrategista, Lula praticamente entregou o ouro a bandidos, fornecendo munição para a oposição criticá-lo duramente.
Sobre os trabalhadores, Lula demonstrou também que se tornou um grande pelego ao firmar com o presidente dos EUA, Joe Biden, um programa de (suposto) fortalecimento dos sindicatos dos trabalhadores. Os lulistas não gostaram da acusação de peleguismo e Biden viveu seis quinze minutos de fama brasileira tratado como se fosse um líder revolucionário bolivariano.
Isso se deu a tal ponto que houve até texto na mídia de esquerda alegando que Biden era "amigo dos trabalhadores". Biden gozou da reputação esquerdista no Brasil até que o conflito entre Israel e o povo palestino devolveu as nossas esquerdas à realidade.
Voltando a Lula, outro aspecto que chama a atenção é seu desejo de se prolongar no poder. Na mais recente transmissão do programa Conversa com o Presidente, Lula afirmou o seguine: "Se é verdade que eu tenho sorte, o povo deveria me eleger para sempre".
Junte-se a isso a queixa do presidente brasileiro de que seu mandato é"curto". E juntemos as peças do quebra-cabeça da constatação desagradável de que Lula quis se impor como candidato único numa inadmissível "democracia de um gomem só". Lula chegou a faltar debates de TV, algo impensável na campanha de 1989, renegando ou subestimando a chance de outros candidatos poderem se lançar como alternativas ao bolsonarismo.
Independente de poder apoiar ou mesmo repudiar severamente Ciro Gomes, o que se viu entre os lulistas foi uma prática de valentonismo (bullying) temperada com a projeção psicológica freudiana. Ou seja, Ciro Gomes era humilhado e caluniado por lulistas que, apelando pelo vitimismo, se diziam atacados pelo pedetista.
Com todo o repúdio que mereça ter a linha editorial do grupo Estadão, aberta e explicitamente reacionária, ficamos imaginando se Lula não deseja mesmo ser, se não um ditador no sentido repressivo do termo, um aurocrata a governar por décadas um país.
Nota-se que a "democracia" de Lula consiste em apenas ele governar e o povo só ficar festejando e consumindo. Para a elite do bom atraso cujos avós rosnaram em ver João Goulart discursando na Central do Brasil em 1964, fica confortável cruzar os braços e acreditar que Lula está no comando, que Lula acerta até quando está errando e que ele reconstrói o Brasil até quando ele curte uma viagem à Europa com sua Janja.
Para a elite do bom atraso, essa bolha social que se acha maior que o universo, fica fácil pensar de forma contraditória e confusa quando se trata em defender Lula. Para quem está bem de vida e de bem com a vida, fantasias têm que estar acima da realidade, quando soam bastante agradáveis.
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