Que a gente tenha que se divertir, isso é inquestionável. Que devamos ser alegres, isso não tem a menor dúvida e não se discute isso. Mas a infantilização da sociedade faz com que o nosso Brasil, que mal acabou de sair do pesadelo de Jair Bolsonaro e da pandemia da Covid-19, não entendesse direito o que realmente é reconstruir o país, o que vamos explicar na próxima postagem.
Aqui o que vamos citar é que o Brasil virou um grande parque de diversões. Nada contra haver uma enxurrada de atrações internacionais vindo tocar aqui, mas vamos combinar que isso não é típico num país que se diz em reconstrução. Aliás, nem se diz isso, porque ninguém explicou direito se o Brasil ainda será reconstruído ou se já está pronto para entrar no Primeiro Mundo.
Nosso país está culturalmente deteriorado. Subcelebridades, ídolos musicais popularescos, influenciadores de quinta categoria, entretenimento vazio rotulado de "cultura" para enganar as pessoas. Um cenário tão idiotizado que nem a chuva de dinheiro do Ministério da Cultura resolve. Colocar "bailes funk" e a Farofa da G-Kay no mesmo patamar de manifestações folclóricas é inaceitável.
Mas o Brasil está entregue à supremacia a quem realmente interessa essa imbecilização cultural: a elite do bom atraso, a aristocracia enrustida com muito dinheiro para consumir tudo e com pouco interesse no aprimoramento intelectual. Só se trata de uma elite esperta, cujos ancestrais eram escravocratas e exterminavam tribos indígenas sem dó. Seus avós defenderam o golpe contra João Goulart, mas agora essa geração, com seu "socialismo de botique e de boteco" pensa até em reeleger Lula.
Lula decepcionou porque seu governo atual está mais espetacularizado do que atuante. Não se vê uma administração política de verdade. Eu admirei Lula até 2020, mas vendo que ele jogou fora seus princípios em nome de um suposto pragmatismo político me fez frustrar completamente. Tanto que eu tive o prazer de NÃO ter votado em Lula na campanha de 2022.
Lula começou o ano viajando e levou meses para lançar as primeiras medidas sociais para o Brasil. Apesar disso, os lulistas fingem que o presidente trabalhou duro dia após dia, quando nenhum fato concreto foi realmente divulgado.
Paciência, eu sou jornalista, busco fatos, penso e questiono. Não posso viver no mundo da fantasia. O Brasil não é o país da Barbie. Mas fui avisado que agora os cargos de Comunicação que normalmente se reservariam para jornalistas acabaram se voltando para comediantes que, com base no "efeito CQC", agora viraram dublês de jornalistas com seu "jornalismo de pirarucu". É só fazer enquete de rua, fazer perguntinha de duplo sentido e ter a arrogância de exigir um Prêmio Pulitzer por tal tarefa.
O próprio mercado de trabalho já não valoriza tanto o talento quanto antes. Parece, agora, preferir, além das exigências etaristas absurdas do "profissional com pouca idade e longa carreira profissional", pessoas mais "divertidas".
Enquanto isso, os concursos públicos parecem não encontrar o candidato ideal, com tantas provas complicadas que mal permitem pensar uma questão e, no limite horário combinado com o rigor meritocrático, mal dá para fazer 60 questões de longos enunciados em quatro horas, daí que quem passa são os "atletas de concursos" que, depois, vão reclamar do emprego que conquistaram.
O governo Lula 3.0 tenta fazer o possível para soar igual ou melhor do que o primeiro mandato. Em vão. Até porque Lula, hoje, não governa para as classes populares, pelo menos de forma prioritária, pois seu foco maior agora é a classe média enrustida, cheia da grana mas "escondida" num visual de "gente simples", de vez em quando tomando cerveja num boteco mais ordinário.
Os progressos do primeiro governo Lula foram pequenos. Até os preços não baixam como deveriam, apenas voltando aos patamares anteriores ao de Bolsonaro. O desemprego também não caiu como devia, e os critérios, como mencionei, continuam sendo os mais deploráveis. Afinal, os profissionais talentosos vão depender de empregadores arrivistas para conquistar um posto de trabalho?
A elite do bom atraso emergiu como um monstro social, por ser uma "burguesia de chinelos" que agora tem seu protagonismo brasileiro em mãos. Sua megalomania, sua arrogância e seu narcisismo, impondo valores privativos dessa classe como se fossem "universais", "atemporais" e "populares", incluindo o juízo de valor que dão ao povo pobre - "presenteado", de forma espartana, por "médiuns" e funqueiros que gourmetizam e espetacularizam a miséria humana - , tratado como um bando de animais domésticos.
Lula preferiu viajar, priorizar, sem necessidade, a política externa, e no fim acabou fracassando, pois lá fora as autoridades estrangeiras, sabiamente, viram um governante político tirando onda, querendo intervir em conflitos estrangeiros, sem influência direta no Brasil. E foi, também, constrangedor Lula discursar no encontro do G-7 pois ele foi apenas convidado para ser um observador, um ouvinte. Querer roubar a cena no evento é de um pretensiosismo sem tamanho.
Mas a elite do bom atraso, que domina as narrativas oficiais que prevalecem nas redes sociais, adorou Lula ter viajado. Até porque a própria elite sai viajando por aí, tirando onda enquanto o pessoal lá fora fala mal desses vira-latas culturais exigindo pedigree.
A elite do bom atraso está bem de vida e de bem com a vida, para ela tudo está certo no Brasil de hoje, porque esta é a única elite que consegue viver com alguma próspera estabilidade, se autoproclamando "sociedade do amor" para esconder seu egoísmo marcado pelos preconceitos sociais de seus antepassados, que ainda fazem seus descendentes, mesmo tidos como "a sociedade mais legal do planeta", imporem papéis deterministas para os excluídos sociais, prisioneiros na inferioridade.
Por isso não se pode ter senso crítico. E aí falamos do AI-SIMco, no "milagre brasileiro" repaginado e passado a limpo, sem militares mandando, prendendo, torturando e matando. Assim o burguês pode curtir sua praia exótica com seu "baseado" e seu desbunde, que na volta não precisará ir para a cadeia com sua "merenda" confiscada pelos policiais (que depois vão curtir o "objeto" que tiraram do hippie sujo, como ocorreu há 50 anos). Tudo agora é "democrático".
E é uma "democracia de um homem só", com Lula decidindo e o povo brasileiro se divertindo. Sem debate, sem questionamento, todos sem dar um pio para que nosso país chegue fácil, fácil ao Primeiro Mundo. A não ser que o pio seja por meio de piadas sem graça sob altas risadas e sobre as vidas particulares de gente que festeja de madrugada, incomodando as classes trabalhadoras que precisam dormir.
O Brasil virou um parque de diversões. Muito consumismo, muitas emoções baratas, com até o beijo na boca transformado em mercadoria de espetáculos ao vivo com ídolos dublando pleibeque. Uso frenético de redes sociais, uso e abuso de "dialetos" portinglês que geraram até neologismos (doguinho e lovezinho) e da gíria farialimer "balada". Tudo dentro de um clima de felicidade tóxica que tenta fazer acreditar que o Brasil é a sucursal do Paraíso na Terra.
Com esse quadro social e cultural, que inclui ainda a franquia do "funk ostentação" do trap estadunidense, com a introdução "bem brasileira" da batida com som de lata de ervilha, o nosso Brasil se manteve na mediocridade, mas acreditando que o Primeiro Mundo é do nosso país. Felizmente, o mundo desenvolvido não leva a sério essas criancices tirando onda de maturidade.
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