O Brasil anda muito complicado. Culturalmente precarizado, quer porque quer ingressar no clube de países desenvolvidos, apenas por uma questão de circulação de dinheiro e redistribuição de renda, pelo menos dentro da bolha da elite do bom atraso, a "frente ampla" social que inclui do pobre remediado que faz festa na laje todo fim de semana ao super-rico famoso mas sem poder de decisão político-econômico, nos níveis de um membro do Banco Mundial, por exemplo.
Diante da façanha fácil demais da "nona economia", em que, de pibinho em pibinho, se insere o Brasil no Primeiro Mundo, temos que desconfiar de qualquer coisa, principalmente porque Lula voltou estranho após sair da prisão de Curitiba.
Lula renegou a competitividade eleitoral apostando na "democracia do eu sozinho" em que ele decide e seus seguidores vão brincar o carnaval identitário da felicidade tóxica, num país que dá direito para pessoas fazerem barulho estridente durante a madrugada do que o trabalhador dormir cedo para trabalhar no dia seguinte.
E aí temos Lula, em pretenso pragmatismo, abrindo mão de seus princípios ao aceitar o lado "menos ruim" do legado de Michel Temer, e muitos acreditando no pensamento desejoso de que o atual mandato do petista seria "o mais esquerdista de todos".
Misturando neoliberalismo com assistencialismo, Lula 3.0 está diferente do primeiro mandato, quando o petista, pelo menos, soou uma versão contida do projeto abortado de João Goulart. Hoje Lula está mais para um misto de FHC com Sarney e apenas um arremedo de dois mandaros anteriores.
Como numa farsa, Lula repete os dois mandatos anteriores em aspectos genéricos. Achou que era dispensável apresentar um programa de governo para aer eleito. E isso só conseguiu fazer sentido num país positivamente tóxico e precarizado, com uma população desavisada guiada por uma elite megalomaníaca e pretensiosa.
Culturalmente o país está deteriorado. O cenário de hoje não difere muito do "milagre brasileiro", talvez esteja até pior. A manifestação do senso crítico está proibida de ser feitas nos documentários de cinema e TV e nas teses acadêmicas, setores em que se usa mais a flanela do que o cérebro para produzir uma tese.
Na música brasileira, a cada emepebista que morre surgem ou se ascendem milhares de ídolos brega-popularescos a dominar o mercado e a viciar até mesmo os ouvidos de um público outrora exigente. Na literatura, a regra é fugir de obras que priorizem o pensamento crítico. No cinema e no teatro, o foco são as temáticas americanizadas.
Pessoas jogam comida fora, jogam lixo no chão, confundem Conhecimento com um engodo místico-religioso e pseudocientífico, ouvem sempre as mesmas músicas de sucesso, exageram no fanatismo pelo futebol e no consumo de cerveja (bebida em quantidades diluvianas) e por aí vai. Como é que essa "boa" sociedade vai se achar dona do mundo, e que país desenvolvido se faz com multidões tão problemáticas?
Tudo isso é bom para a elite do bom atraso cheio de dinheiro no bolso, a velha ordem social que busca agora o botox da felicidade tóxica, depois de seus antepassados terem feito horrores no Brasil. Daí que só essa elite, só ela, acha que nosso país está vivendo o esplendor sociocultural e político. E não quer ler textos que contradigam essa ilusão.
Mas, infelizmente, tudo isso é apenas um momento provisório. A festa permanente, a suposta autossuficiência do lulismo e de uma democracia para poucos, em que o "povo é um só" desde que esteja dentro da bolha lulista, que se autoproclama "contra a polarização". Só que isso pode acabar porque todo mundo está achando tudo fácil demais, e acha que esta festa da imprudência e das emoções tóxicas nunca vai acabar.
Tá. Mas fora da bolha lulista brasileiros reclamam do presidente e os mais miseráveis estão enlouquecidos e furiosos por não terem a quem recorrer.
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