É muito fácil e confortável se guiar pelo próprio carisma para fazer o que quiser, cometer erros e omissões, porque para seus admiradores mais exaltados, a pessoa que age assim está sempre correta. "Estratégia" virou eufemismo para aqueles erros cometidos na teimosia cujas consequências não parecem, à primeira vista, danosas.
Em seu mandato decepcionante, aquém dos dois anteriores, o presidente Luís Inácio Lula da Silva, enquanto começa a aumentar sua rejeição dentro das esquerdas, procura alimentar e realimentar sua promoção pessoal, como se seu governo fosse um festival de marketing político.
Na 4ª Conferência Nacional da Juventude, em Brasília, Lula celebrou a aprovação do futuro ex-ministro da Justiça, Flávio Dino, como membro do Supremo Tribunal Federal, enquanto o Ministério da Justiça corre o risco de ser mais uma pasta ministerial a cair nas mãos do Centrão.
Lula tornou-se um neoliberal enrustido, um pelego, um ilusionista político, o presidente que governa mais para o fanfarrão que consome cerveja em quantidades diluvianas e faz barulheira em plena madrugada do que o trabalhador que precisa dormir cedo para trabalhar no dia seguinte. E o presidente tenta manipular os fatos a seu favor, como um menino mimado que acha que o Destino tem sempre que agradar o petista.
Depois de tudo que fez traindo as esquerdas, abandonando o verdadeiro povo pobre - que está mais para Eles Não Usam Black-Tie do que para Vai que Cola - , não se empenhando de forma adequada para reconstruir o Brasil e viajando à toa fazendo turismo político no exterior, Lula ainda tem o descaramento de se vender para o público jovem como "esquerdista autêntico" que ele não é mais nem voltará a ser. E olha que, quando Lula era de fato esquerdista, ele era muito moderado nesta posição.
Lula, que destacou a participação de sua esposa Rosângela da Silva, a Janja, na conferência, por ela fazer o papel de "tiazona dos identitários", de "musa da esquerda festiva", investiu no faz-de-conta do tipo "eu brinco de ser esquerdista e vocês brincam de serem o proletariado militante". Vejam o que Lula disse para os jovens ingênuos e domesticados no evento:
"A juventude teve um papel importante para a retomada da democracia no Brasil. A juventude teve muita coragem em não acreditar nas mentiras contadas por um setor da elite que queria impedir a nossa volta para a presidência da República. Com isso, as juventudes têm o direito e o dever de ajudar o governo federal a fazer mais".
Lula ainda completou, alegando que "vai politizar a juventude brasileira": "Vamos formar novos socialistas nesse país, mais gente de esquerda nesse país".
Nada disso. O público de Lula não é politizado. É um público que só quer festa, jogar conversa fora, e, em vez de se preocupar com os grandes problemas sociais brasileiros ou locais, prefere se ocupar na vida pessoal e nas piadas sobre o cotidiano que fazem seus pares caírem em gargalhadas histéricas.
Não é, portanto, um público politizado, até porque anda despolitizado acreditando que basta o "tio Lula" (não seria "vovô Lula"?) ser presidente para ele sozinho agir pelos brasileiros. O PT tenta apelar para a militância do partido, mas hoje não se milita coisa alguma, não se tem senso crítico, tudo está bem, tudo está maravilhoso, o entretenimento está pleno, com muitos festivais, muitas atrações internacionais, muita diversão.
A despolitização é tanta que hoje a Legião Urbana é demonizada por essa juventude que pensa que a banda de Renato Russo é um cosplei do Ultraje a Rigor dos piores tempos. A juventude lulista quer felicidade, quer ouvir a MPB carneirinha com clima de luau de Anavitória, Melim, Tiago Iorc, e o que vier por aí. Com o "sistema" transformando o "povo pobre" numa versão real life do Vai que Cola e a juventude num genérico do seriado Malhação, até o neoliberal mais enrustido pode se passar por esquerda.
É lamentável essa demagogia, esse faz de conta. Lula, neoliberal e pelego, falando para a juventude domesticada. Ele, fingindo ser ainda aquele esquerdista de antes. Os jovens, se achando "politizados" só porque ouvem também o tenebroso trap, espécie de franquia do "funk ostentação" com batida de lata de ervilha e que é mais um gênero a promover, ao lado do "funk" propriamente dito, a espetacularização da pobreza.
Tudo muito postiço, ilusório, fantasioso, falso. Enquanto isso, fora dessas bolhas sociais do lulismo, o pessoal sofre horrores, com gente passando fome de verdade num país em que a "democracia" lulista se orgulha de jogar comida fora, sem o menor pingo de escrúpulos.
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