Eu juro que não boicotei o Movimento pela Democracia ocorrido no Largo de São Francisco, aqui em São Paulo. Mesmo criticando Lula e a forma como ele conduz sua campanha, eu iria sim, como jornalista, para um evento que pode ser tendencioso, afinal esse "movimento" foi a forma que Lula encontrou para justificar sua aliança com seus opositores, antes engajados no golpe de 2016, mas que repercute na sociedade.
Acordei numa manhã fria e custei a me levantar. Ao sair de casa, já era meio-dia e o auge do evento já havia passado. Passei a manhã toda em casa, embora já no meio-dia estivesse me arrumando para sair. E quando já ocorria o evento, eu ainda estava na cama, coberto por causa do frio, embora acordado.
Fui até para as proximidades, resolver problemas pessoais próximo à Praça da Sé, a poucos metros da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), onde se realizou a manifestação, que contou com a presença do professor e jurista Godofredo da Silva Telles Jr., presente nas manifestações pró-democracia em 1977, época de crise da ditadura militar. Na época foi lançado o documento "Carta aos Brasileiros".
Embora boa parte dos envolvidos, do lado democrático e progressista, tenha boas intenções, eu desconfio deste evento porque boa parte dos artífices do golpe político de 2016 participa desse movimento, entre políticos da direita moderada e empresários e banqueiros associados, os mesmos que em 2018 abriram caminho para Jair Bolsonaro e agora o execram.
No evento, Lula e Geraldo Alckmin não compareceram. Embora o Movimento e sua correspondente Carta pela Democracia - apelidada jocosamente pelo presidente Bolsonaro de "cartinha", enquanto se gabava de que o assunto "mais importante" é ele ter baixado o preço do diesel - sejam considerados apartidários, os lulistas não conseguem esconder que Lula é um dos protagonistas dessa campanha, tendo sido ele e sua esposa Rosângela da Silva, a Janja, assinado a lista do documento há poucos dias.
Membros da campanha de Lula, como o candidato a governador de São Paulo, Fernando Haddad (PT), o economista e presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloízio Mercadante (PT), o candidato ao senado e ex-cotado para o governo paulista, Márcio França (PSB) e o coordenador de campanha pró-Lula em São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), estavam presentes.
Claro que eu defendo a democracia, que considero que Jair Bolsonaro é uma ameaça ao país, tanto que eu alertei sobre esse risco já em 2018. Mas há o tendenciosismo nos dois lados em torno desta campanha pela redemocratização - na verdade, uma volta à normalidade institucional que Bolsonaro rompeu, apesar de seu governo formalmente "democrático" - , tanto nas esquerdas médias que querem protagonismo, quanto pela direita moderada que quer esconder seus pecados de 2016-2018.
Em todo caso, é melhor haver eventos assim do que não haver. E, pelo menos, pude fotografar os atos de estudantes, trabalhadores e outros membros de movimentos sociais na Av. Paulista. Esse ato ocorreu do final da tarde à parte da noite, ontem.
Pode ter tido um clima de micareta, mas foi válido, pelo contexto de isolamento político tardio de Bolsonaro. Antes tarde do que mais tarde, como diria Hélder Maldonado, dos Galãs Feios. Eu resolvi tirar algumas fotos do ato por volta das 17 horas e alguns minutos.
O evento da Av. Paulista não foi tão cerimonioso quanto o do Largo de São Francisco e foi marcado pela espontaneidade juvenil e pela visão dos movimentos sociais, alertando para o risco do Movimento pela Democracia atender aos interesses das elites, como a FIESP que em 2016 se mobilizou contra Dilma Rousseff.
Em todo caso, manifestar-se em favor da democracia tem o ponto inevitavelmente positivo de pedir normalidade institucional, fim de repressões, ameaças e outros abusos políticos, ou seja, combatendo o desequilíbrio social e pedindo maior harmonia no convívio da maioria dos brasileiros, através de um cenário político-institucional minimamente saudável. Abaixo estão as fotos minhas do evento.
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