A campanha oficial de Lula, ou seja, a campanha presidencial propriamente dita, começa hoje, depois de meses com o petista colecionando tantas contradições e equívocos. No entanto, houve cancelamento de um compromisso de campanha previsto para esta manhã, o comício na frente da fábrica da filial brasileira da MWM Motores, em Jurubatuba, aqui em São Paulo.
O evento seria uma lembrança das origens sindicais de Lula, das quais se distanciou completamente, pois, desde que passou a se aliar com a direita moderada em prol da "democracia", o petista rompeu com o que lhe restava de esquerdismo, apesar das promessas de fidelidade ao seu projeto político progressista.
O comício teria a participação de Geraldo Alckmin, agora um acompanhante constante dos eventos do titular da candidatura presidencial. O encontro, no entanto, foi cancelado por medida de segurança, porque o lugar não oferece rotas de fuga no caso de haver algum incidente, como um atentado.
Na véspera desse encontro, o ex-presidenciável André Janones, do Avante, apareceu ao lado de Lula e do economista Eduardo Moreira, do Instituto Conhecimento Liberta, para lançarem a "Carta do Povo", um complemento à Carta pela Democracia lançada em 11 de agosto passado, agora falando do "povo que come arroz e feijão".
Lula se contradiz muito, mas por sorte os brasileiros confundem contradição com uma combinação de equilíbrio com versatilidade. Enfatizando a escolha de Geraldo Alckmin como vice na chapa presidencial, sem que o ex-governador de São Paulo prestasse contas com a sociedade brasileira, Lula acredita que poderá convencer as pessoas da ideia de que seu projeto progressista sairá intato.
Mas quem lê este blogue sabe que não. Lula agora está fazendo promessas que, se não são tão mirabolantes quanto as de dez meses atrás, agora são vagas e superficiais. A ênfase exagerada no combate à fome não é uma ideia negativa em si, mas seu caráter superficial mostra o quanto o projeto progressista de Lula se desidratou.
Lula vai cuidar do Bolsa Família, do Fome Zero, do Minha Casa Minha Vida, das Cotas Universitárias, do SUS. Projetos sociais, com algum progresso, mas sem transformações profundas, embora com benefícios inegáveis para a população.
Mas sabe-se que Lula não mexerá no lado técnico do seu governo, voltado ao neoliberalismo do vice Alckmin. Só que Alckmin não é Juscelino Kubitschek, um dos raros casos de político liberal com inclinações progressistas. A coisa tende a ser capenga, sob o ponto de vista progressista, apesar das esquerdas médias acreditarem que Lula fará um governo formidável.
Lula não vai, porque Alckmin é o freio de mão do carro lulista. Em que pese o favoritismo ser realimentado pelas supostas pesquisas eleitorais - vivemos no "Brasil dos institutos de pesquisa" - , que, depois de apontar queda de diferença para seis ou sete pontos de Lula sobre Jair Bolsonaro, o índice voltou a aumentar, através das ajudas de instituições como BTG e IPEC, que retomaram a "esperança" de vitória do petista no primeiro turno.
Num país sem tradição de esquerdismo autêntico, a maioria dos brasileiros acha que ser de esquerda é ser alegre, contra a raiva da direita bolsonarista. Um maniqueísmo bobo, diga-se de passagem, do qual haverá o consentimento de uma política que, por baixo dos panos, não irá reverter privatizações e muito menos cobrar impostos dos mais ricos, porque aí seria ingratidão de Lula para aqueles que o ajudarem a ser eleito no primeiro turno.
Com isso, o que resta é ver Lula abraçado aos apóstolos do Estado mínimo, enquanto o povão tem arroz, feijão, carne e salada na mesa, alheio aos privilégios dos rentistas que continuarão mantendo suas fortunas exorbitantes em paraísos fiscais. A turma do golpe político de 2016, inclusive o empresariado e o setor financeiro, está com Lula, que afirmou que em seus governos as elites enriqueceram mais. Enquanto isso, o Auxílio Emergencial e o Bolsa Família ficam, cada um, com R$ 600 e o salário mínimo não vai além de R$ 1.400. Vai ser difícil ser feliz de novo...
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