Acabei de ler o livro Macunaíma (1928), a obra de enredo surrealista de Mário de Andrade, leitura que fiz para comemorar os 100 anos da Semana de Arte Moderna. Felizmente conheci pessoalmente o Teatro Municipal, na Praça Ramos de Azevedo, no centro de São Paulo, e a antiga Avenida Auro de Moura Andrade (sem parentesco com o escritor e pesquisador modernista), na Barra Funda, passou a se chamar Mário de Andrade, nome da extensão da referida avenida quando se torna uma ladeira de acesso para as vias que passam sob o Viaduto Pres. João Goulart, o Minhocão.
Agora começo a ler A Privataria Tucana, de 2011, livro que já pensava em ler desde quando foi lançado, em 2011, época em que eu morava em Niterói e fazia os blogues Mingau de Aço e O Kylocyclo. Era o apogeu da mídia progressista, cujo pior pecado era acolher o culturalismo viralata da bregalização.
Descontada a passagem de pano na bregalização, que envolvia desde os ídolos cafonas do passado aos funqueiros que já viviam da carteirada da pobreza, a mídia progressista procurava recuperar o verdadeiro jornalismo, a ser descartado por uma mídia empresarial facciosa, cujo auge de suas mentiras se deu na época do golpe político de 2016.
Quando foi lançado, o livro A Privataria Tucana foi celebrado e, naquela época, o tucanato era hostilizado pelas esquerdas. Quem puxava o coro anti-tucano era o saudoso Paulo Henrique Amorim, cujo senso de humor faz falta hoje em dia.
Parecia que era ontem. O tucanato era criticado pela visão privatista, pelo poder abusivo que fazia com que as privatizações fossem feitas de forma a trazer dinheiro ilegal para os cofres dos políticos do PSDB e seus familiares.
Amaury Ribeiro Jr., autor do livro, tornou-se um dos nomes destacados do jornalismo investigativo, atividade que se tornou decadente em tempos de fake news e passagens de pano, pois hoje em dia os jornalistas deixaram de escrever pelo teclado de computador e passaram a escrever pela flanela.
Lamentavelmente, hoje, esquerdas e tucanos estão juntos, unidos por um suposto projeto de recuperação da democracia, que contribui para enfraquecer o projeto político de Lula, agora refém das exigências dos aliados conservadores, como o empresariado e os banqueiros.
É constrangedor ver Lula se aliando aos golpistas de 2016, os mesmos que derrubaram Dilma, e que agora põem o ônus do golpe para personagens considerados menores que vão de Sérgio Moro, Eduardo Cunha a Kim Kataguiri, que até tiveram grande presença na preparação deste golpe, mas são menos expressivos do que personagens também associados ao evento, como Geraldo Alckmin, Fernando Henrique Cardoso, Aloísio Nunes e Geddel Vieira Lima.
Nenhum deles mudou de verdade, salvo um e outro, e eles condicionam a aliança com Lula a amenização de seu projeto político. Membros do esquerdismo de raiz tentam até pedir para o povo ir às ruas, eleger um Legislativo de esquerda que inclua mais negros, índios, mulheres e trabalhadores nos quadros parlamentares, mas isso parece sonhar demais, diante do atrelamento da direita moderada ao lulismo que contribuirá para velhos políticos carreiristas tomarem as rédeas da "redemocratização".
Vendo a distância do tempo, vejo o quanto A Privataria Tucana continua atual, embora eu esteja no começo da leitura. Datado está o método de Lula voltar ao poder, através dessa tendenciosa "democracia" que será decidida de cima, pelo empresariado, pelo setor financeiro e pelo agronegócio, com os lulistas sonhando conformados e de braços cruzados e os esquerdistas de raiz berrando ao vento, pedindo ao povo uma mobilização social que é difícil de acontecer.
Para piorar as coisas, boa parte dos antigos privateiros agora são amigos de Lula. E Geraldo Alckmin, sem demonstrar uma gota de autocrítica, virou vice de Lula e o petista, além do mais, dá voz e vez ao ex-governador de São Paulo, o que poderá representar um grande e rígido freio às ousadias políticas do ex-operário.
E ver que os golpistas de 2016 e a nata do neoliberalismo político e econômico estão com Lula. Que democracia é esta patrocinada pelos donos do dinheiro? Fico imaginando, sem apelar para os clichês do antipetismo alucinado, se o livro de Amaury Ribeiro Jr. se chamasse Os Amigos do Presidente Lula...
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