Sabe-se que o passar do tempo é que demonstra o equívoco de certas posições e atitudes. A onda do "combate ao preconceito", todo aquele discurso choroso trazido por jornalistas, intelectuais e similares, deu com os burros e com a Eguinha Pocotó na água.
Aquela choradeira desesperada do tipo "você não é obrigado a gostar, mas é obrigado a aceitar", da intelligentzia que se dizia "a mais legal do Brasil", nunca trouxe benefícios além do aumento de reserva de mercado para os fenômenos popularescos, por ironia mais à vontade nas festas do grand monde do que nas festas das favelas, porque há muita gente pobre desconfiada com esse culturalismo popularesco que trata o povão como se fosse uma multidão de imbecis.
Como corvos invadindo milharal, a intelectualidade pró-brega que poderia se encostar na rede não só da Rede Globo, mas da Folha, Estadão, Veja e Caras, preferiu voar para a mídia de esquerda, como Caros Amigos, Carta Capital, Fórum, Brasil de Fato, beijando o bigode do Altamiro Borges e lambendo a gravata do saudoso ansioso blogueiro Paulo Henrique Amorim.
Nada era de graça. Intelectuais e jornalistas que poderiam muito bem acariciar o nariz de Luciano Huck estavam defendendo a bregalização cultural na midia de esquerda porque titio Luís Inácio e titia Dilma Vana iriam dar mesada para a turminha. Isso fez com que, lá nas Minas Gerais, um Eugênio Raggi, com seu humor de Luciano Hang e seu direitismo de Diogo Mainardi, se autoproclamasse "esquerdista". Milagres do corporativismo de um professor com amigos filiados ao PT e à CUT.
Aliás, muita gente neoliberal que, só porque parece hippie ou semi-hippie - como muitos professores universitários, jornalistas culturais, cineastas etc - , não quer ser considerada de centro-direita, porque pega mal na fita e na foto. E aí todo mundo foi bajular Lula, Dilma Rousseff, clamar pelo eterno Che Guevara e justificar sua preguiça em ler os grossos volumes de O Capital inventando que um sucesso de axé-music, "Xibom Bom Bom", é inspirado na obra de Karl Marx.
Só que essa defesa toda da bregalização, julgando que os fenômenos popularescos seriam "uma poderosa rebelião popular sem precedentes na História do Brasil", caiu por terra quando o povo, ocupado em rebolar o "funk" e o tecnobrega, foi surpreendido pelas marchas da direita verde-amarela de 2015-2016.
Professores de ensino médio tentaram bancar os engraçadinhos chamando Valesca Popozuda e Márcio Victor (Psirico) de "filósofos" mas isso não adiantou. O magnata do "funk", Rômulo Costa, fez uma emboscada com as esquerdas, aquele "baile funk" quinta coluna em Copacabana, em abril de 2016, e os esquerdistas saíram tão anestesiados que acharam que o "funk" foi a maior revolução bolchevique e bolivariana surgida depois da Revolução Cubana. Deram uma rajada de metralhadora Uzi nos pés.
Essa intelectualidade pró-brega foi mirar no preconceito e acertaram no Ministério da Cultura. A bregalização anestesiou o povo e esvaziou os movimentos sociais. Os debates progressistas se limitaram a reuniões de cúpula. A direita sem freio pegou para si o senso crítico que as esquerdas ludibriadas jogaram no lixo. E, depois, 90% dos ídolos popularescos deixou a máscara cair e se assumiram de direita, reacionários e, em certos casos, bolsonaristas.
E aí a intelectualidade pró-brega não perdeu dinheiro, vivendo do conforto da burguesia de sandálias, mas perdeu a chance de ganhar mais porque suas retóricas fajutas acabaram criando condições diretas e indiretas para o golpismo que derrubou o Ministério da Cultura.
Daí que o pessoal está louco para ver Lula eleito para voltar a receber verbas para seus coletivos culturais ou para os colegiados de faculdades. Só que a participação de Geraldo Alckmin na chapa petista também fará com que o empresariado e os rentistas também queiram receber verbas públicas ou abatimentos fiscais.
Aí vem o problema. A pequena burguesia descolada e identitária quer receber verbas da Lei Paulo Gustavo e Lei Aldir Blanc. A grande burguesia quer abatimentos fiscais e auxílios governamentais. E o povo pobre só vai receber R$ 600 de Auxílio Emergencial, R$ 600 de Bolsa Família, salário de apenas uns R$ 1.400 e, criando meninos ou meninas de até seis anos de idade, uns R$ 150 a mais por cada criança. Tudo isso é o custo de todo aquele carnaval falacioso do "combate ao preconceito"...
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