LULA NO COMÍCIO EM SÃO BERNARDO DO CAMPO, NO ABC PAULISTA, EM 16 DE AGOSTO DE 2022, PRIMEIRO ATO DA ATUAL CAMPANHA PRESIDENCIAL.
Lula começou a campanha deixando de lado as promessas mirabolantes, mas também muito mais moderado do que se imagina. Para quem espera um candidato esquerdista, ou centro-esquerdista, sairá bastante decepcionado, por mais que circunstâncias soltas apontem sempre para a permanência da imagem do antigo líder operário de cinco décadas atrás.
Isso acabou. Lula se aliou a elites da direita moderada, à "democracia" defendida pelos mesmos golpistas de 2016 que viram que os tempos de Temer e Bolsonaro não lhes garantiram os tão sonhados lucros exorbitantes. Com isso, Lula teve que abrir mão de muitos pontos importantes de seu projeto político e tende a fazer um governo neoliberal, apenas temperado com medidas assistencialistas que levam a marca do PT, como Fome Zero, Bolsa Família e Cotas Universitárias.
Ontem Lula iniciou sua campanha para o Planalto em São Bernardo do Campo, depois que se cogitou uma fábrica em Belo Horizonte e, depois, uma fábrica da MWM em Jurubatuba, aqui em São Paulo. A campanha é uma lembrança da antiga trajetória sindical de Lula, mas, em que pese a associação afetiva do petista com o seu passado operário, o comício sinalizou que os tempos sindicais foram deixados para trás.
Lula enfatizou as propostas genéricas de seu governo, como combater a fome, ênfase do seu discurso como candidato desde o fim do ano passado, e o desemprego. Nada de mostrar um diferencial que indique algum projeto progressista, seu único diferencial é apenas fazer o que Jair Bolsonaro, irresponsável por natureza, não se interessa em fazer, apesar de medidas grosseiramente oportunistas como o Auxílio Brasil e o pacote de bondades dos últimos meses.
Lula apenas fez ataques duros a Jair Bolsonaro, chamando-o de "genocida" devido aos mortos pela Covid-19 devido ao descaso do presidente, e afirmando que o direitista está "possuído pelo demônio", num aceno para o petista atrair os evangélicos. No mais, as pautas progressistas não foram muito enfatizadas, mesmo estando Lula "mais à vontade" no ABC paulista, se bem que o proletariado atualmente anda muito decepcionado com o petista.
Neste comício inaugural, Lula apenas não levou Geraldo Alckmin, companhia constante que o petista já afirmou que irá ter poder de decisão e de opinião em seu governo. A ideia é fazer um comício em São Bernardo que desse a impressão de que é o "Lula raiz" que estava no palanque. Apenas o candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann e o candidato do PSB ao Senado, Márcio França, estiveram presentes ao lado do presidenciável.
Hoje Lula se reuniu com pequenos e médios empresários, no Novotel Jaraguá, também aqui em São Paulo. Lula discutiu, entre outras coisas, os critérios de impostos e o teto de gastos públicos, preocupações do empresariado. O ponto positivo é que Lula é de facilitar também a situação dos micros, pequenos e médios empresários, já que a economia liberal tem lá suas virtudes e, num cenário economicamente saudável numa normalidade social, política e institucional, é sempre bom haver diversidade empresarial, controle de preços e estímulo ao consumo.
Geraldo Alckmin compareceu a esta reunião, e mais uma vez não convenceu como um esquerdista de primeira viagem que ele tenta parecer ser. O discurso do vice da chapa de Lula parece tão ensaiado que soa mais como uma leitura de um teleprompter. O bordão "um bom governo não se faz com motociata" foi repetido, acompanhado de clichês como "quem ouve, tende a errar menos", dentro daqueles paradigmas do "diálogo":
"Um bom governo democrático não se faz com motociata. Se faz ouvindo as pessoas, ouvindo quem cria riqueza, trabalha, empreende, constrói a grandeza deste país. Quanto mais a gente ouve, menos vamos errar. Essa é uma característica do presidente Lula, é um homem do diálogo", disse Alckmin.
O começo de campanha anda muito cauteloso, mas já mostra que Lula não avançará em relação a este perfil moderado. O problema é que, com o passar dos meses, as alianças com forças conservadoras serão realçadas e somente o apelo emocional que o mito de Lula traz no imaginário de seus seguidores é que pode garantir sua vitória eleitoral. Vamos ver se ela se dará no primeiro turno, o que será difícil.
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