Num país em que as pessoas jogam comida fora depois das refeições, valentões da escola agora se autoproclamam "nerds", 'psicografias" permitem a aceitação bovina de fakes trazendo "mensagens cristãs" e o viralatismo cultural está mais para o cachorrão da mansão do que para um vira-lata propriamente dito, coisas muito estranhas acontecem aqui e ali.
É o Brasil em que Lula é reabilitado como o "ursinho de pelúcia" dos neoliberais, preocupando os esquerdistas autênticos - espécie rara, como eu que faço este blogue, já que a maioria das "esquerdas" pula no Carnaval identotário - que acham que o petista, no fundo, mais parece um cabo eleitoral do insosso e neoliberal irredutível Geraldo Alckmin. Um Lula que já não promete demais como há alguns meses, mas que também garantiu que não vai fazer governo progressista, de tão empenhado está em interagir com o empresariado, a "Faria Lima".
Neste cenário em que filmes "espíritas" fazem pessoas se desabarem em lágrimas por nada - não é milagre, é idiotice mesmo - , temos muitos absurdos, em consequência desse culturalismo conservador que continua com sua tosqueira desde a ditadura militar
Um novo fenômeno é a gourmetização do comercialismo musical, a glorificação do hit-parade, que na sua versão brasileira faz a gente assistir a espetáculos consgrangedores, como vender o compositor ultracomercial Michael Sullivan como "vanguarda" e tratar a versão de Chitãozinho & Xororó para "Evidências" de José Augusto como se fosse uma gema cult. Coisa de fazer careca arrancar os cabelos e mudo sair por aí gritando por socorro.
Mas não estamos falando do hit-parade estrangeiro como ele é visto lá fora. Falo do hit-parade estrangeiro que é apreciado por aqui, que não permite que os brasileiros estejam a par do que realmente acontece lá fora, apenas acolhendo 99% dos listões da Billboard e similares por conta de um filtro de representantes brasileiros da indústria do entretenimento.
São representantes de editoras musicais, profissionais de rádio, produtores fonográficos, jornalistas da grande mídia, executivos do entretenimento, entre outros agentes que filtram a penetração da música estrangeira no gosto médio dos brasileiros. E não bastasse a mesmice que são as paradas de sucesso difundidas aqui no Brasil, mesmo nas rádios de "boa música", temos agora a grande mentira que é espalhada nas redes sociais: o hit-parade como "vanguarda", como "relíquia vintage ou cult".
Independente de julgar se o grande sucesso é uma boa canção ou não, isso é um acinte. Porque o critério que se leva em jogo é a superioridade de uma meia-dúzia de executivos do entretenimento comercial estrangeiro que sempre são vistos como "certos" e "com razão". Fazer sucesso musical fica mais parecendo um esporte olímpico e todos os louvores se voltam para esses executivos, que são os "cartolas" da parada (de sucessos).
Se bem que, no Brasil, o viralatismo transforma qualquer cantor estrangeiro em "deus". É vergonhoso ver os internautas nas redes sociais com verdadeira vassalagem cultural, sem medir realmente se o cantor ou grupo são talentosos ou medíocres. Esses internautas parecem um zumbis, soam como se estivessem num transe hipnótico, por acharem que aqueles sucessos musicais "de todos os tempos" lhes conduzem a um universo de sonho e de fantasia.
E isso faz com que disparates sejam dados como "verdades absolutas". Como o fato de Michael Jackson ser considerado "o maior gênio da música mundial". Nem chega perto. Michael teve virtudes no começo da carreira, era talentoso e coisa e tal, mas sucumbiu a um pretensiosismo e uma vergonha de ser negro que o fez forçar a barra como pseudo-roqueiro, como falso rebelde, desenvolvendo uma carreira bastante irregular, suficiente para desmerecer todo o carnaval que se faz em torno do finado "Rei do Pop".
Enquanto até mesmo muito crítico competente fica passando pano nos defeitos de Michael Jackson e o classificam de "gênio indiscutível" - há caso constrangedor de um tiozão roqueirão da linha "jaqueta de couro" (apesar do visual sempre de camiseta) reconhecer essa falsa atribuição de Michael - , lá fora a coisa é muito diferente. Afinal, chamar Michael Jackson de "gênio" no Brasil é tão provinciano e fora da realidade quanto o Dia Mundial do Rock lançado por uma FM farialimer metida a roqueira.
E aí os internautas metidos a "donos da verdade" agora partem para a insanidade de creditar o hit-parade como "vanguarda", assim como o comercialismo de sempre como "não-comercial". Basta um ídolo da pisadinha cantar versos como "Ela terminou comigo pelo Zap-Zap" que o idiota de plantão - que sofre efeitos psicológicos preocupantes da Síndrome de Dunning-Kruger - dirá que a música é "não-comercial" porque "fala do nosso dia a dia".
"Comerciais" são músicos de rock clássico dos anos 1970 que disputam nome da banda, ou, no Brasil, os coitados do Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá que disputam o uso do nome e do legado da Legião Urbana com o filho de Renato Russo, Giuliano Manfredini. É triste que Renato Russo agora é visto como um "chato de plantão", enquanto muito nome do pop popularesco nacional, tipo Luíza Sonza e Pabblo Vittar, é glorificado por nada.
Imaginem se o pessoal tratar os bancos de investimentos como organizações não-governamentais e chamar as ONG's de "mercenárias"? É o que se está fazendo. E o Supremo Tribunal do Umbigo, instância nas redes sociais que se julga maior do que o Supremo Tribunal Federal e que possui um "Tribunal de Internet" para linchar quem discorda do "estabelecido", aposta nesta inversão de valores.
Grande engano. Hit-parade é hit-parade, filmes comerciais são filmes comerciais. Não dá para creditar como "vanguarda", "clássico", "alternativo" ou "vintage" algo que agrada os instintos de alguém. Que a pessoa vá gostar, por exemplo, dessas balas coloridas que se vende em pacotes nas lojas de doces, esteja à vontade. Mas que ninguém se arrogue em achar que essas balas são nutritivas, só porque elas descem gostoso no paladar. Na música, é a mesma coisa. Vamos parar de salto alto e encarar a realidade como é e não como se gostaria que fosse.
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