Depois de uma semana em que o lançamento da Carta pela Democracia se seguiu ao estranho contato do "hacker de Araraquara", Walter Degatti - que vazou conversas de Deltan Dallagnol e Sérgio Moro no caso da Vaza Jato, com bolsonaristas - , o bolsonarismo se mostra como ameaça real.
Mas o problema maior está nos lulistas, cujo desespero faz Lula e seus seguidores serem reféns dos próprios erros. Depois que Lula cometeu, pelo menos, três gigantescos erros - entrar em clima de festa num cenário de distopia brasileira, se aliar com a direita moderada mas elitista e não querer competitividade na corrida presidencial buscando uma vitória na marra - , o petista vê, na melhor das hipóteses, a chance de encarar o segundo turno se aproximar cada vez mais.
Diz-se a melhor das hipóteses, pois a pior é a vitória de Jair Bolsonaro, mais estratégico, com a habilidade de lidar e contornar situações em que poderia cair em vergonhosa desvantagem. A atuação da esposa de Jair, Michelle Bolsonaro, ao lado de evangélicos neopentecostais também faz a maioria silenciosa sair da toca, mostrando que a rejeição ao Lula é ainda bastante expressiva.
O preço de uma frente ampla demais foi o de que Lula está agora abrindo mão de ousadias políticas. Já sinaliza restringir os investimentos públicos, mesmo com o fim oficial do teto de gastos. Sinaliza também dar índices menores de aumentos salariais e de benefícios como Bolsa Família e Auxílio Emergencial, que risivelmente será "permanente".
Segundo o jornalista Ricardo Kotscho, através de um depoimento de um profissional do mercado eleitoral que não quis se identificar, as chances de Lula vencer as eleições em primeiro turno caíram, entre julho e agosto, de 25% para 6%.
E Lula designou o vice de chapa, Geraldo Alckmin, para entrar em contato com representantes do MDB e do PDT para pedir a desistência das candidaturas de Simone Tebet e Ciro Gomes, para facilitar a vitória do petista em primeiro turno.
Isso é um erro de dimensões estratosféricas, pois Lula, que fala tanto em querer recuperar a democracia, insiste em romper com o processo democrático da competitividade eleitoral. Ele quer uma "democracia" para si mesmo. Em vez de conquistar a verdadeira democracia, pelo natural debate de ideias e pelo enfrentamento da concorrência, ele impõe a sua "democracia", usando a falácia da "eleição plebiscitária".
Trata-se de uma atitude de quem está em desespero. Lula está desesperado, tem medo de ser derrotado. Ele cometeu erros sérios, a aliança com seus opositores vai impor um custo muito pesado para seu projeto político, e já dizem rumores que Geraldo Alckmin é que governará o Brasil, mesmo de forma indireta, com Lula apenas mexendo em projetos de sua grife, como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e outros sob a marca do PT.
E esse desespero contagia os seguidores. Num comentário bastante grosseiro, o historiador Fernando Horta declarou que "qualquer voto que não seja em Lula é um voto em Bolsonaro". Não se deve forçar a barra dessa forma. Ninguém é obrigado a votar em Lula. O ideal é Lula buscar se prevalecer pelas ideias e não pela imposição de uma "democracia" de uma pessoa só, sob a desculpa de que só Lula contrapõe, nesse maniqueísmo eleitoral, ao golpismo ameaçador de Bolsonaro.
Isso é desespero. Lula não pode ser considerado "a via única". Ele tem que enfrentar os candidatos em vez de sabotar a campanha eleitoral querendo ser praticamente o único candidato a encarar Bolsonaro. Isso pode fazer Lula se dar mal, como já começa a ocorrer. E o favoritismo de Lula está caindo, por conta dos próprios erros do candidato que até reclama do "salto alto" de seus seguidores, mas deveria verificar o seu próprio "salto alto".
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