Pular para o conteúdo principal

A PARANOIA DA CLASSE MÉDIA PELO LULISMO DOMESTICADO PELA "FARIA LIMA"

GERALDO ALCKMIN, LULA E O PRESIDENTE DA FIESP, JOSUÉ GOMES, EM DEBATE FEITO NA FEDERAÇÃO EMPRESARIAL, NA AV. PAULISTA, EM 09 DE AGOSTO DE 2022.

A classe média pequeno-burguesa não quer pagar o ônus de 2018. Depois de boa parte dela ter votado em Jair Bolsonaro, com tantas outras opções para os anti-petistas votarem, agora essas elites do atraso vêm com hipocrisia. Dizem não aguentar um minuto com Bolsonaro no poder, mas até que suportaram demais, senão, teriam feito protestos de rua em Brasília para derrubar o cara.

Agora essa pequena burguesia quer Lula de qualquer maneira, domesticado pelo neoliberalismo e atropelando as etapas da disputa democrática. Por mais favorito que seja, Lula terá que enfrentar não só Bolsonaro, mas outros candidatos. Não pode monopolizar seu favoritismo, porque isso é uma grande trapaça. Embora critique o "salto alto" dos outros lulistas, o próprio Lula é que se recusa a descer do salto altíssimo do seu elevado pedestal.

Daí que nossas elites, manipulando as narrativas da opinião pública, não aguenta mais ouvir que falta autocrítica em Geraldo Alckmin, que Lula se vendeu e vai renunciar boa parte de seu projeto progressista e que não vai haver volta das esquerdas no Brasil. A paranoia da classe média bem de vida pelo lulismo domesticado pela "Faria Lima", dominada pelo pretexto da "democracia", é preocupante.

"Democracia" virou desculpa para as contradições e equívocos serem postos debaixo do tapete. Se Geraldo Alckmin até agora não pediu desculpas aos moradores desalojados do bairro de Pinheirinho, em São José dos Campos, se o ex-governador de São Paulo também não fez o mesmo pedido para estudantes e trabalhadores que fizeram seus protestos na capital paulista, as "elites sedentas por democracia" não querem saber.

O ideal é passar pano nos erros do passado, sem uma prestação de contas com a sociedade. Passa-se pano para apagar memórias, mesmo se elas doem até hoje nos nervos de muita gente, como os antigos moradores de Pinheirinho, até hoje, dez anos depois, traumatizados por terem sido acordados, na manhã de domingo, por policiais violentos que cometeram abusos e truculências de toda espécie.

Infelizmente, temos uma elite assim, tomada de positividade tóxica. "O momento agora é de recuperar a democracia", ainda que seja uma "democracia" decidida de cima, do empresariado rico da Faria Lima e congêneres, do agronegócio, dos banqueiros, que agora bancam os bonzinhos mas têm nas mãos a decisão sobre se o povo pobre vai continuar ou não recebendo migalhas.

E aí Lula, a opção dessa gente cega e impaciente que não sabe que foi ela mesma a culpada direta ou indireta pela vitória de Bolsonaro em 2018, e que, desde o golpe político de 2016 sempre agiu de maneira feliz, sorridente e de bem com a vida nas redes sociais, se encontra com o empresariado para discutir seu programa de governo. Na bancada, Lula aparece entre Geraldo Alckmin e o presidente da FIESP, Josué Gomes, filho de José Alencar, o finado vice do petista nos dois mandatos anteriores.

Lula tenta encontrar um denominador comum que justificasse as contradições de seu projeto político, entre as promessas fantasiosas de ousadias políticas que extasiam os lulistas e as imposições realistas de uma direita moderada para fazer o empresariado e o setor financeiro dormir tranquilo.

Observando o discurso de Lula, querendo agradar o empresariado evitando decepcionar seus eleitores orgânicos - por sorte, até a esquerda orgânica sonha com o velho Lulão sindicalista renascendo em algum momento do governo - , noto que ele tenta dar a impressão de que quer avançar e recuar ao mesmo tempo.

Note alguns dos argumentos usados, nos últimos discursos de Lula:

- Aumentar o valor do salário mínimo acima da inflação, que será baixinha. Ou seja, o salário terá o ritmo baixo de crescimento, algo entre R$ 120 e R$ 140 por ano, sempre inferior aos padrões salariais analisados pelos técnicos do DIEESE;

- Revogar o teto de gastos mas alegar que irá gerir os investimentos públicos de forma "responsável", como um eufemismo para um investimento limitado, já que a influência de Alckmin, que em muitos momentos será o presidente em exercício, poderá impulsionar a medida das parcerias público-privadas;

- Recuperar os direitos dos trabalhadores e zelar por eles, mas ao mesmo tempo garantir os lucros dos empresários e banqueiros, alvo de queixas dos movimentos sindicais.

Lula, que retomou o comício nas ruas, na qual encenará o personagem do sindicalista que hoje é coisa do passado, e fará com Alckmin a pantomima do discurso aos trabalhadores das fábricas, reuniu-se ontem com seu vice com empresários, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, ontem de manhã, mediado pelo presidente da entidade, Josué Gomes, filho de José Alencar. Mais uma vez a Faria Lima foi para a Paulista ouvir Lula defendendo os interesses das elites.

Devemos lembrar que, desde o governo Michel Temer, o teto de gastos públicos foi instituído como uma pretensa ação disciplinadora dos investimentos públicos, supostamente associada à ideia de moralidade e transparência administrativa. O teto de gastos públicos foi adotado sob a falácia de que o poder público "gastava demais".

Tudo parece equilíbrio, mas é uma contradição. Mas para que dizer isso se a classe média pequeno-burguesa confunde contradição com equilíbrio, pensando até que contradição é um "equilíbrio temperado com versatilidade", como se ser uma coisa e ser outra fosse sinônimo de "quebra de rotina". 

Grande estupidez. E vemos que o governo Lula é que mais se aproxima das diretrizes de Geraldo Alckmin. O ex-governador de São Paulo saiu do PSDB, mas o PSDB não saiu dele. Pode ser um tucano que agora é tingido de vermelho, mas é um tucano de todo jeito.

E o governo Lula tende a ser o mais fraco dos três, por causa dessa aliança com a direita moderada. Lula diz que não quer fracassar, mas o fracasso será certo, por conta das pressões extremas das forças envolvidas, até porque a "festa da democracia" terá o seu preço, as esquerdas não poderão "pendurar" a conta.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

A PRISÃO DE MC POZE E O VELHO VITIMISMO DO “FUNK”

A prisão do funqueiro e um dos precursores do trap brasileiro, o carioca MC Poze do Rodo, na madrugada de ontem no Rio de Janeiro, reativou mais uma vez o discurso vitimista que o “funk” utiliza para se promover. O funqueiro, cujo nome de batismo é Marlon Brandon Coelho Couto Silva, e que já deixou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes para ir a um presídio no bairro carioca de Benfica, tem entre o público da Geração Z e das esquerdas identitárias a reputação que Renato Russo teve entre o público de rock dos anos 1980, embora o MC não tenha 0,000001% do talento, pois se envolve em um ritmo marcado pela mais profunda precarização artístico-cultural. No entanto, MC Poze do Rodo foi detido por acusações de apologia ao crime organizado, ao porte ilegal de armas e à violência. Em várias vezes, Poze aparecia com armas nas fotos das redes sociais, o que poderia sugerir um funqueiro bolsonarista em potencial. A polícia do Rio de Janeiro enviou o seguinte comunicado:: “De acordo com as inves...

LÉO LINS E A DECADÊNCIA DE HUMORISTAS E INFLUENCIADORES

LÉO LINS, CONDENADO A OITO ANOS DE PRISÃO E MULTA DE MAIS DE R$ 300 MIL POR CONTA DE PIADAS OFENSIVAS. Na semana passada, a Justiça Federal, através da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou o humorista Léo Lins a oito anos de prisão, três deles em regime inicialmente fechado, e multa no valor de R$ 306 mil por fazer piadas ofensivas contra grupos minoritários.  Só para sentir a gravidade do caso, uma das piadas sugere uma sutil apologia ao feminicídio: "Feminista boa é feminista calada. Ou morta". Em outra piada machista, Léo disse: "Às vezes, a mulher só entende no tapa. E se não entender, é porque apanhou pouco". Léo também fez piadas agredindo negros, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com HIV, indígenas, evangélicos, pessoas com deficiência, obesos e nordestinos, entre outros. O vídeo que inspirou a elaboração da sentença foi o espetáculo Perturbador, um vídeo gravado em 2022 no qual Léo faz uma série de comentários ofensivos. Os defensores de Léo dizem qu...

O ATRASO CULTURAL OCULTO DA GERAÇÃO Z

Fico pasmo quando leio pessoas passando pano no culturalismo pós-1989, em maioria confuso e extremamente pragmático, como se alguém pudesse ver uma espessa cabeleira em uma casca de um ovo. Não me considero careta e, apesar dos meus 54 anos de idade, prefiro ir a um Lollapalooza do que a um baile de gala. Tenho uma bagagem cultural maior do que mimha idade sugere, pelas visões de mundo que tenho, até parece que sou um cidadão mediano de 66 anos. Mas minha jovialidade, por incrível que pareça, está mais para um rapazinho de 26 anos. Dito isso, me preocupa a existência de ídolos musicais confusos, que atiram para todos os lados, entre um roquinho mais pop e um som dançante mais eroticamente provocativo, e no meio do caminho entre guitarras elétricas e sintetizadores, há momentos pretensamente acústicos. Nem preciso dizer nomes, mas a atual cena pop é confusa, pois é feita por uma geração que ouviu ao mesmo tempo Madonna e AC/DC, Britney Spears e Nirvana, Backstreet Boys e Soundgarden. Da...

ELITE DO BOM ATRASO PIROU NAS REDES SOCIAIS

A BURGUESIA DE CHINELOS NÃO QUER OUTRO CANDIDATO EM 2026. SÓ QUER LULA. A elite do bom atraso, a “frente ampla” social que vai do “pobre de novela” - tipo que explicaremos em outra postagem - ao famoso muito rico, mas que inclui também a pequena burguesia e a parcela “legal” da alta burguesia, enlouqueceu nas redes sociais, exaltando o medíocre governo Lula e somente desejando ele para a Presidência da República na próxima eleição. Preso a estereótipos que deixaram de fazer sentido na realidade, como governar para os pobres e deixar a classe média abastada em segundo plano, Lula na prática expressa um peleguismo que é facilmente reconhecido por proletários, camponeses, sem-teto e servidores públicos, que veem o quanto o presidente “quer, mas não quer muito” trabalhar para o bem-estar dos brasileiros. Lula tem como o maior de seus inúmeros erros o de tratar a reconstrução do Brasil como se fosse uma festa. Esse problema, é claro, não é percebido pela delirante elite do bom atraso que, h...

GOVERNO LULA AGRAVA SUA CRISE

INDICADO POR LULA PARA O BANCO CENTRAL, GABRIEL GALÍPOLO PREFERIU MANTER OS JUROS ALTOS "POR MUITO TEMPO". Enquanto o governo Lula limita gastos mensais com universidades federais, a farra das ONGs nas ditas “emendas parlamentares” é de R$ 274 milhões. Na viagem para a China, Lula é acusado de gastar café com valor equivalente a R$ 56 e de conprar um terno no valor equivalente a R$ 850. Quanto às universidades públicas, a renomada Academia Brasileira de Ciências acusa o governo Lula de desmontar as instituições de ensino superior público através desses cortes financeiros. Lulistas blindam Janja quando ela quebrou o protocolo da conversa entre o marido e o presidente chinês Xi Jinping, para falar de sua preocupação com o Tik Tok. Em compensação, Lula não cumpriu a promessa de implantar o Plano Nacional de Transição Energética, que iria tirar o Brasil da dependência de combustível fóssil. Mas o presidente ainda quer devastar a Amazônia Equatorial para extrair mais petróleo. Lul...

QUANDO A CAPRICHO QUER PARECER A ROCK BRIGADE

Até se admite que o departamento de Jornalismo das rádios comerciais ditas “de rock” é esforçado e tenta mostrar serviço. Mas nem de longe isso pode representar um diferencial para as tais “rádios rock”, por mais que haja alguma competência no trabalho de seus repórteres. A gente vê o contraste que existe nessas rádios. Na programação diária, que ocupa a manhã, a tarde e o começo da noite, elas operam como rádios pop convencionais, por mais que a vinheta estilo “voz de sapo” tente coaxar a palavra “rock”. O repertório é hit-parade, com medalhões ou nomes comerciais, e nem de longe oferecem o básico para o público iniciante de rock. Para piorar, tem aquele papo furado de que as “rádios rock” não tocam só os “clássicos”, mas também as “novidades”. Papo puramente imbecil. É aquela coisa da padaria dizer que não vende somente salgados, mas também os doces. Que diferença isso faz? O endeusamento, ou mesmo as passagens de pano, da imprensa especializada às rádios comerciais “de rock” se deve...

A ILUSÃO DE QUERER PARECER O “MAIS LEGAL DO PLANETA”

Um dos legados do Brasil de Lula 3.0 está na felicidade tóxica de uma parcela de privilegiados. A obsessão de uns poucos bem-nascidos em parecer “gente legal”, em atrair apoio social, os faz até manipular a carteirada para cima e para baixo, entre um sentimento de orgulho aqui e uma falsa modéstia ali, sempre procurando mascarar a hipocrisia que não consegue se ocultar nas mentes dessas pessoas. Com a patrulha dos negacionistas factuais, “isentões” designados para promover o boicote ao pensamento crítico nas redes sociais, a “boa” sociedade que é a elite do bom atraso precisa parecer, aos olhos dos outros, as mais positivas possíveis, daí o esforço desesperado para criar um ambiente de conformidade e até de conformismo, sobretudo pela perigosa ilusão de acreditar que o futuro do Brasil será conduzido por um idoso de 80 anos. Quando ouvimos falar de períodos de supostas regeneração e glorificação do “povo brasileiro”, nos animamos no primeiro momento, achando que agora o Brasil será a n...

APOIO DAS ESQUERDAS AO "FUNK" ABRIU CAMINHO PARA O GOLPE DE 2016

MC POZE DO RODO, COM SEU CARRO LAMBORGHINI AVALIADO EM TRÊS MILHÕES DE REAIS. A choradeira das esquerdas médias diante da prisão de MC Poze do Rodo tenta reviver um hábito contraído há 20 anos, quando o esquerdismo passou a endossar o discurso fabricado pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo para "socializar" o "funk", um dos ritmos do comercialismo brega-popularesco que passou a blindar por uma elite de intelectuais sob inspiração do antigo IPES-IBAD, só que sob uma retórica "pós-tropicalista". A revolta contra a prisão do funqueiro e alegações clichês como "criminalização da cultura" e "realidade da favela" feita por parlamentares e jornalistas da mídia esquerdista se tornam bastante vergonhosas e, em muitos casos, descontextualizada com a real preocupação com as classes pobres da vida real, que em nenhum momento são representadas ou se identificam com o "funk" ou o trap. O "funk" e o trap apenas falam sobre o ...