SERGIO MORO E LULA: QUASE ALIADOS?
Ironias do destino existem trazendo surpresas para a humanidade. No dia do aniversário de 50 anos do ex-juiz e virtual candidato ao Senado pela União Brasil (partido resultante da fusão do DEM e do outrora bolsonarista PSL), Sérgio Moro, eis que a referida sigla partidária anunciou, há poucos dias, apoio à candidatura de Lula, através da desistência do presidente do partido, Luciano Bivar, de ser candidato ao cargo presidencial.
O alargamento exagerado da frente ampla proposta por Lula, e que eu denomino como "frente ampla demais" pelo seu caráter heterogêneo que já está cobrando um preço caro ao projeto político do petista, chegou à ironia de atingir a borda do golpe político de 2016.
Não bastasse Lula ser aliado de políticos que derrubaram a presidenta Dilma Rousseff através do golpe político de 2016, a ponto de escolher como vice de sua chapa seu antigo rival da corrida presidencial de 2006, Geraldo Alckmin - que falava lavajatês em 2018 e celebrava a prisão do seu hoje parceiro - e de flertar com a Faria Lima, agora o favorito da corrida presidencial enfrenta uma situação inusitada.
Sérgio Moro, algoz de Lula desde que o então juiz plantou acusações sem provas na sua tendenciosa e traiçoeira Operação Lava Jato, como candidato a senador pela União Brasil, poderá atuar como um virtual apoiador da sua antiga vítima, o que é bastante irônico, diante da rivalidade que juiz e político passaram a ter pelas circunstâncias há muito conhecidas. Isso se Moro não decidir sair do partido.
Sim, Sérgio Moro ter que fazer sua campanha apoiando Lula, já que seu partido tem esta postura. E isso tornou-se um efeito irônico para a obsessão que o petista tinha em juntar para si forças divergentes, sob a desculpa de estar fazendo "um grande movimento pela democracia".
Não bastasse Lula ter que adaptar seu programa de governo a demandas da direita moderada - o que significa sacrificar antigas pautas, como a regulação da mídia, a defesa do aborto e a reversão da privatização da Eletrobras - e de ter que relativizar propostas como a reforma trabalhista e o teto de gastos públicos, antes alvos de revogação, agora objetos de revisão, o petista terá que ter um dos algozes na sua base de apoio.
Não é a primeira vez que isso acontece. Entre 2005 e 2006, Fernando Collor, rival de Lula na campanha presidencial de 1989, virou seu aliado. Jair Bolsonaro era da base de apoio do governo Lula, então fazendo parte do Partido Progressista (PP). E Geraldo Alckmin, contra o qual Lula disputou o segundo turno da corrida presidencial de 2006, é hoje vice e parceiro da chapa do antigo concorrente.
A situação virou uma grande bagunça e a tal "festa da democracia", como é conhecida a campanha de Lula para derrotar o bolsonarismo, não só vai comprometer boa parte do projeto original de Lula - que agora terá que adaptar sua causa a propostas que agradem os neoliberais - como vai colocá-lo frente a frente com um dos personagens precursores do golpe político de 2016.
Resta saber, portanto, como será o custo dessa "festa da democracia", que fez Lula, tão obcecado em atrair para si forças divergentes, ter chance de ter em sua base de apoio justamente aquele que ordenou sua prisão. A festa deve ser bonita e alegre, até o começo do ano que vem. Mas depois o custo desta festa será muito caro e aí Lula terá que resolver as dívidas políticas com os aliados, não bastasse a dificuldade de tentar reconstruir um país degenerado que é o Brasil de hoje.
Comentários
Postar um comentário