AO EMBARCAR PARA A CHINA, LULA MAIS UMA VEZ ENTREGA O COMANDO DO BRASIL AO VICE, GERALDO ALCKMIN.
O governo Lula é um caso complicado de um país complicado. Campanha eleitoral que prometia recuperar a democracia, mas que rompeu com a regra democrática da competitividade eleitoral, ao apostar na "democracia de um só candidato". Apoiadores de Lula que confundem as coisas, creditando (e acreditando) que opinar, propor e prometer são sinônimos de agir.
Lula faz um comentário sobre o brasileiro comum na fila do açougue, dizendo que ele não merece levar osso, mas carne de primeira para ele e sua família. Isso é opinião. Lula anuncia que vai implantar projeto de redistribuição de renda. Isso é promessa. Lula pretende tributar os mais ricos, pelo menos aqueles alinhados com Bolsonaro, pois duvido que os amigos da frente ampla demais possam ser taxados. Isso é proposta.
Opiniões, promessas e propostas não são ações. Elas reinam no campo do virtual, da possibilidade. Agir é a certeza de materialização de uma ideia. Opinar, prometer e propor são apenas exposição de ideias, que podem virar realidade, mas não são a realidade.
Infelizmente, a "boa" sociedade brasileira, que precisa avaliar seus conceitos todos, e seus "bons" preconceitos naturalizados, como tratar o povo pobre como um bando de animais domésticos e achar que pessoas com mais de 50 anos não podem arrumar emprego, precisam ser contestados. Está tudo errado no nosso Brasil, com uma "democracia" apegada a muitos paradigmas culturais, sociais, esportivos e religiosos próprios dos tempos da ditadura militar.
Nesse Brasil ainda cheirando a mofo tóxico, movido pela arrogante ilusão de que atingirá o Primeiro Mundo com um culturalismo brega, místico, beato e bairrista, ninguém consegue esclarecer se o nosso país vai ser reconstruído, se ele está sendo reconstruído, ou então se o Brasil ainda começará em breve a ser reconstruído.
Lula fala em "reconstruir o Brasil" mas nota-se o desprezo dele a essa necessidade. Quando ele mencionava, na campanha eleitoral, que o Brasil "estava pior do que em 2002", ele mais parecia mencionar um ato de Jair Bolsonaro do que um diagnóstico do nosso país. Seu desprezo se dava pelo estranho clima de festa que realizou em sua campanha e que, na posse, deixou ocorrer um tal Festival do Futuro, num horário que deveria ser para posse de ministros e começo dos trabalhos da "reconstrução".
Por isso, temos uma disparidade de um Brasil idealizado por Lula e um Brasil real. O Brasil real ainda é herdeiro das convulsões sociais e da violência sistematizada consequentes das jornadas de junho de 2013 e dos períodos golpistas de Michel Temer e Jair Bolsonaro. Ataques em escolas, feminicídios e até assassinatos cometidos por praticantes de poluição sonora em festas caseiras na madrugada são ilustrativos desse clima de ódio.
Mas há um Brasil idealizado que parece pronto. O próprio Lula não consegue aliar os dois Brasis. Num dado momento, ele admite que o Brasil está socialmente péssimo, mas em outro ele fala que já vivemos em clima de prosperidade social. Lula não se decide em levar a reconstrução do Brasil a sério ou argar tudo para viajar, supostamente para "botar o Brasil no protagonismo mundial".
Lula se contradiz, mas também teima em decidir tudo conforme seus instintos e de achar que a realidade é sua vassala. Fisicamente envelhecido, Lula no entanto tem a teimosia de criança ao achar que o mundo neoliberal pode lhe fazer todos os favores. Lula não parece realista, sonha demais e, do contrário de gente como Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas, o atual presidente da República não vê contextos nem condições para realizar ou querer realizar seus atos.
O que vemos é um espetáculo de muito discurso, muitos artifícios e muitas ações que nem deveriam ocorrer agora. Lula deveria esperar dez meses para começar a viajar. Mas, já em janeiro, Lula viajou em vez de dar início à tão alardeada "reconstrução". Lula chorou muito e puxou muito o tapete para ganhar votos com o discurso do "combate à fome" que esta causa só apareceu em março, terceiro mês de governo. Pode-se deixar esperar pelo combate à fome, uma "prioridade" adiada para uns 60 e tantos dias?
E aí, ontem, Lula foi viajar para a China. E, animado, Lula, ignorando que não tem saúde física para tudo isso, quer viajar para Portugal e Espanha, só cancelando à ida para a coroação do Rei Charles III, mandando o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para representá-lo.
Não é hora para isso. Se o Brasil precisa ser reconstruído, seria necessário Lula ficar só no Brasil durante os primeiros dez meses e não fazer viagens nem desviar o foco do "cuidado das pessoas". Para contatos políticos no exterior, Lula já tem seus ministros para representá-lo. A única "utilidade" de Lula ficar viajando o tempo todo para o exterior é o fetiche politico que o petista representa na comunidade internacional.
Primeiro é necessário melhorar o Brasil por dentro. Ainda há fortes vestígios do bolsonarismo, que por sinal rendeu um grande número de votos e foi derrotado por Lula apenas por uma margem pequena de dois milhões de eleitores de diferença. Que o Brasil se conserte por dentro, depois Lula pode passear para falar com os amigos lá de fora. Não dá para o Brasil liderar a tal multipolaridade política se ainda está mal-reconstruído.
O governo Lula só está maravilhoso para uma elite de brasileiros abastados e com ampla atividade nas redes sociais e no cotidiano aparente. Para essa elite, que se julga "a humanidade", se acha dona da verdade, julga ter "Pós-PhD em Tudologia", "PhD em Pobrismo" e "Mestrado em Futurologia", está tudo bem. Esse 30% de privilegiados acha que, através de Lula, o mundo estará em suas mãos, com Anitta, Ivete Sangalo, MC Bin Laden e Michael Sullivan tomando as rédeas do culturalismo mundial.
Do alto de seu pedestal, Lula pede para seus adeptos descerem do pedestal. Lula, não. Ele que fique no seu pedestal, como um pequeno príncipe achando que o mundo é seu quintal, que o petista tem que ter seus pedidos atendidos, como se a História lhe fosse um poço de desejos e o Destino, o gênio da lâmpada.
Daí que o atual governo Lula expressa o cenário sociopolítico mais confuso da História do Brasil. A realidade não está tão bem como se imagina, o legado do golpe de 2016 continua intato em muitos aspectos, assim como o culturalismo da Era Geisel, agora "ressiginficado" como pretensa coisa boa. É um reflexo de um sistema educacional e de valores sociais cheio de problemas e que produziu uma sociedade confusa que não consegue entender a diferença de promessas, propostas e opiniões com ações. Vamos nos tornar potência do Primeiro Mundo assim? Nem sonhando!
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