O Brasil nem começou a ser reconstruído e a "boa" sociedade, a elite do atraso que não quer ser conhecida por este nome porque senão ela chora, tem a sensação de que está tudo bem no nosso país e não entende por que há críticas ao atual governo Lula, que, para seus adeptos "sempre acerta, mesmo errando".
Não custa repetir. Essa "boa" sociedade sempre viveu no conforto e em suas zonas, seja sob as tempestades políticas de Michel Temer e Jair Bolsonaro, seja agora pelo solzinho do atual governo Lula. Descontando ameaças bolsonaristas nas ruas, aqui e ali, a "boa" elite sempre viveu bem, mesmo quando assistia aos tenebrosos ventos políticos de 2016-2022 comendo picanha com feijão e arroz importados e tomando vinho europeu.
Por isso temos que explicar certas coisas. O Brasil não está bom, as ameaças bolsonaristas estão aí, por todos os cantos, e os riscos de atentados nas escolas são o prenúncio de uma catástrofe que precisa ser prevenida a tempo. Não é clima para otimismo, mas para realismo.
E aí Lula decepciona e o pessoal não entende. Isso porque os 30% que votaram em Lula, em grande maioria composto pela classe média identitária e por neoliberais flexíveis, estão satisfeitos com o atual governo, que no entanto confunde as formas verbais "vou tentar fazer", "pretendo fazer" e "gostaria de que isso fosse feito" com "estou fazendo".
A reconstrução do Brasil exige que o titular da Presidência da República permanecesse no Brasil e, em primeiro lugar, cuidasse dos brasileiros, em vez de se atrever a querer "desenhar a nova ordem mundial", interferindo em medidas que poderiam ser feitas por outras personalidades ou instituições, como a Organização das Nações Unidas no caso dos acordos pelo fim da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Lula não é o presidente da ONU. É o presidente do Brasil. E sem que o Brasil colhesse resultados concretos da alegada reconstrução que não sabemos se começou ou se já foi concluída, Lula é anunciado pela revista Time como uma das cem personalidades mais influentes do mundo. Cem personalidades, não se fala cem lideranças políticas.
Até mesmo negociações importantes a serem tratadas com o governo chinês poderiam ser adiadas, ou, se não for o caso, há representantes do governo Lula para a missão, como os ministros Geraldo Alckmin e Fernando Haddad e o presidente do BNDES, Aloísio Mercadante. Não há necessidade de Lula sair do país.
Segundo dados divulgados há poucos anos, 33 milhões de brasileiros sofrem de fome. 65 milhões vivem situação de insegurança alimentar, 9 milhões estão desempregados e 20 milhões, subempregados. Como tudo isso se resolveu da noite para o dia, a ponto do governo Lula entrar em clima de festa no primeiros meses de mandato?
Além disso, Lula não teve cuidado de economizar dinheiro público para comprar sofás, cama conjugal e poltronas para substituir os móveis destruídos pelo vandalismo de Oito de Janeiro. Foi um gasto avaliado em R$ 196 mil, dos quais R$ 65 mil foram para o sofá e R$ 42 mil, para a cama de Lula e sua Janja. Não foi feita licitação, por ser considerada uma substituição de emergência. Mas se Lula está o tempo todo viajando, não teria problema uma licitação que demorasse semanas e desse vantagem para a oferta mais barata.
É necessário ter muita calma nessa hora e evitar a empolgação. Mas Lula, lá do seu pedestal, fala para seus seguidores descerem de seus pedestais. Lula não percebe que ele é o primeiro a se achar feliz no conforto do pedestal. Sem deixar o Brasil em ordem, Lula se acha o "líder da multipolaridade", ao qual se atribui o "novo desenho da nova ordem mundial".
Lula busca protagonismo em tudo, fica falando demais e se sente ainda no seu pedestal-palanque, com suas frases de efeito e seus choros eventuais que, de tão repetidos, começam a trazer desconfiança de quem tem um mínimo de senso crítico. Não é por se tratar de Lula que vamos acreditar que ele acerta todas, mesmo errando. Se Lula erra, é porque ele está errado em tais atitudes.
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