Pular para o conteúdo principal

O "HUMANISMO DE RESULTADOS" E A "PAZ" QUE EU NÃO QUERO


Está em decadência um tipo de religiosidade conservador, dissimulado pelo discurso manso, pela aparente emotividade piegas e pelo tom conciliador e tolerante de seu discurso, além de um pretenso ecumenismo. Essa dissimulação durante muito tempo tentou se passar por "progressista", pelas promessas de "vida melhor", "paz mundial", "salvação divina pelo sofrimento" etc.

É o "humanismo de resultados" que envolve os clichês mais conhecidos de uma religiosidade brega de tão sentimentalista: apreço a "histórias lindas" de pessoas que perdem tudo e só ficam com a fé religiosa, "frases lindas" de obscurantistas religiosos e a adoração a pretensos filantropos que se promovem alojando doentes e órfãos ou distribuem pequenos pacotes de donativos a famílias pobres numerosas.

É aquele papo da pessoa que entra nas redes sociais e despeja uma das "frases lindas" de um ídolo religioso do momento para "alegrar o dia". Como num tumor maligno, surgem perfis religiosos nas redes sociais, como Facebook, Instagram e YouTube, com mensagens pseudo-filosóficas - afinal, seu compromisso com a verdade é nulo - e algumas até levando como crédito personalidades mortas, como um falso Paulo Gustavo falando em "cura gay" e um suposto Cláudio Cavalcânti (ator da novela Irmãos Coragem) falando de "colônias espirituais" como se fosse a vida na Barra da Tijuca.

O "humanismo de resultados" e sua lógica da "paz sem voz" mostra o quanto a elite do atraso, que se recusa a ser assim reconhecida senão desaba em lágrimas copiosas, tem uma religiosidade obtusa, um espiritualismo aparentemente eclético, marcado por todo um verniz de mansidão, positividade por sinal tóxica e uma obsessão em parecer, senão perfeito ou iluminado, um simpatizante da paz e da fraternidade.

O escândalo do atual detentor do título de Dalai Lama, Tenzun Gyatso, beijando um adolescente na boca e, dizem, de língua, é mais um escândalo que desafia as mentes acostumadas em contestar religiões quando elas usam a linguagem do raivismo e se servem de intolerância e apreço a personalidades como Jair Bolsonaro e Donald Trump.

Anos atrás, o jornalista inglês Christopher Hitchens definiu Madre Teresa de Calcutá como "anjo do inferno" e denunciou maus tratos dessa cosplei da "Bruxa do Mar" (Seahag no original, a vilã do desenho do Popeye) aos alojados de suas "casas de caridade". Madre Teresa também está associada a ideias ultraconservadoras, voltadas à Teologia do Sofrimento (espécie de "holocausto do bem") e à complacência com magnatas abusivos e políticos tiranos. 

De origem albanesa, Madre Teresa recebeu um prêmio em 1985 nas mãos do presidente dos EUA Ronald Reagan, então empenhado em patrocinar genocídios cometidos por grupos paramilitares e esquadrões da morte em Guatemala, com o objetivo de exterminar qualquer foco de movimentos populares no país centro-americano.

Apesar disso, e apesar do jeito claramente ranzinza de Madre Teresa, e apesar das denúncias consistentes de Hitchens, confirmadas por pesquisas universitárias sérias no Canadá, os brasileiros, mesmo os de esquerda, continuaram e ainda continuam passando pano na terrível beata, iludidos com a imagem de "bondosa" construída pelo jornalista Malcolm Muggeridge, um catolico conservador inglês.

Pelo menos os beatos de Madre Teresa, que virou santa com a ajuda de uma intoxicação alimentar tendenciosamente creditada como um "câncer terminal", deveriam canonizar Malcolm Muggeridge, por ter promovido o milagre de transformar uma mentira em verdade absoluta, produzindo uma fantasia para fazer as pessoas emocionalmente mais vulneráveis dormirem tranquilas.

Esse imaginário das pessoas do Ocidente, principalmente no Brasil, são um engodo que mistura práticas e algumas lições do pensamento oriental, misturadas com conceitos do Catolicismo medieval, como a Teologia do Sofrimento e sua falácia de "combater o inimigo de si mesmo". São dogmas que se vendem como "modernos", "progressistas" e até "futuristas", mas seu obscurantismo não é muito diferente do ideário bolsonarista e é tão "humanista" quanto Nelson Piquet, Cássia Kis e Regina Duarte nos modos bolsonaristas dos últimos anos.

O "humanismo de resultados" mistura o trigo com o joio. Do trigo, temos a apreciação de pessoas como Anne Frank, Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Nelson Mandela e Charles Chaplin, que se misturam a figuras duvidosas como o farsante Sai Baba, o atual Dalai Lama e Madre Teresa de Calcutá, e no Brasil com os chamados "médiuns espíritas" cujo escândalo recente envolveu um deles, um baiano tido como "maior defensor da paz", apoiando as violentas invasões na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em oito de janeiro último.

Mas quem se informa das coisas sabe que outro "médium", falecido em 2002 e que usava peruca e terminou a vida como cosplei do Eustáquio de Coragem, O Cão Covarde (Courage, the Cowardly Dog), atuante nas suas últimas décadas em Uberaba, tem pontos sombrios contra ele, que, num país menos ingênuo, teriam ferido de morte o mito que ainda goza no imaginário de muitos brasileiros.

O "médium da peruca" tem tantos pontos contra ele, incluindo um exame médico divulgado pela renomada revista Realidade em novembro de 1971, mostrando a farsa de sua "mediunidade" (o exame concluiu que tudo não passava de alucinação mental) e "fogos amigos" de uma escritora "espírita" que, sem querer, divulgou que o "médium" fazia fraudes literárias e um fotógrafo que registrou o "médium" apoiando a farsante Otília Diogo, como se fosse cúmplice e até orientador dela, que a passagem de pano que o blinda em niveis surreais mostra a burrice de quem apoia o Espiritismo no Brasil.

Vemos um semiólogo capaz de desvendar as maiores complicações semióticas de filmes poloneses e sul-coreanos e identificar nuances manipulativas do discurso religioso evangélico norte-americano, mas brocha diante do "médium de peruca" de Uberaba, a ponto de definir a fictícia cidade de Nosso Lar, de um livro plagiado de uma obra britânica do reverendo George Vale Owen, como "descrição científica" de uma "cidade espiritual que realmente (sic) existe". Se o tal semiólogo age dessa forma, então estamos perdidos.

Tudo tem que vir de fora. O Me Too, movimento de mulheres atrizes denunciando abusos cometidos por homens poderosos do cinema estadunidense, teve que ser feito para que, no Brasil, se fizesse o mesmo com atrizes brasileiras denunciando abusos sexuais de diretores, produtores e outros técnicos da dramaturgia. Não fosse o caso Harvey Weinstein, antes o "deus" do cinemão dos EUA, tudo permaneceria no Brasil como se nada de ruim ocorresse, num país em que mulher-objeto é considerada "feminista".

Dalai Lama é símbolo do budismo e o atual titular, Tenzin Gyatso, sempre se revelou uma personalidade conservadora, adotando posturas machistas. É um líder budista que, no entanto, chega a ser mais apreciado pelos "humanistas" de fachada, por setores conservadores enrustidos de nossa sociedade, defensores ferrenhos de uma religiosidade e um espiritualismo mofados.

O escândalo do Dalai Lama ainda vai refletir em escândalos religiosos brasileiros, já aos poucos denunciando farsantes "espiritualistas" ou mesmo "espíritas" acusados de falsidade ideológica e envolvidos em casos de assédio sexual e desvio de dinheiro da caridade para seu enriquecimento ilícito.

O caso de Dalai Lama e do "médium" bolsonarista de Pau da Lima, Salvador, Bahia (que, no auge de sua carreira, usava o dinheiro da caridade para fazer turnês pela Europa e EUA), revelam que os escândalos religiosos já começam a sair do perímetro do raivismo histriônico dos neopentecostais, os únicos que no Brasil, ao lado de alguns setores levianos do Catolicismo, eram alvo de contestações e repúdios da opinião que se define como pública, a "opinião que se publica".

Esses escândalos já chegam, como o tsunami da Indonésia de 2004 entrava "serenamente" pelas casas, inundando e matando por afogamento muita gente, ao terreno do não-raivismo dessa religiosidade conservadora, ameaçando a supremacia dos "humanistas" de redes sociais. Ainda se falará do reacionarismo de Madre Teresa, mas também se revelará um dado muito macabro e verídico envolvendo o ultra-blindado "médium da peruca" de Uberaba.

Em 09 de agosto de 1958, um jornal de Minas Gerais e a revista Manchete publicaram denúncias do sobrinho do "médium", Amauri Pena, que era forçado a realizar as mesmas atividades do tio, produzindo literatura fake que, usando nomes de mortos, fazia pregações religiosas medievais combinadas com um perigoso ufanismo que, na condição de "Pátria do Evangelho", faria do Brasil uma teocracia fascista.

Manchete adiantou que Amauri sofria ameaças de morte pelo "meio espírita", e é surpreendente que a causa da morte também era adiantada: envenenamento. Três anos após a matéria, Amauri faleceu supostamente por hepatite alcoólica, com 28 anos incompletos. O "movimento espírita" fingiu pesar pelo falecimento, mas há suspeitas de que foi um dirigente, que tutela o "médium de peruca" como uma espécie de "empresário", o mandante do crime.

Li numa fonte que a suspeita teria ocorrido a partir de possíveis fatos: Amauri foi alvo de campanha difamatória, único detalhe confirmado, acusado de "ladrão" e "alcoólatra". Acusações soltadas ao vento, feitas com o único objetivo de destruir a reputação de Amauri, uma campanha caluniosa e odiosa vinda dos "espíritas" que juram serem "contra qualquer ato de calúnia, difamação e ódio até ao pior dos inimigos".

Outros dados, que merecem investigação, teriam vindo a seguir: internado num sanatório de Sabará, Minas Gerais, Amauri teria sido vítima de maus tratos e agressões de funcionários. Saindo do sanatório, ele teria sido assediado por um falso amigo, que, convidando o jovem a tomar cerveja e conversar, teria aproveitado a distração do rapaz para botar veneno na sua bebida. Excelente pauta para um jornalismo investigativo corajoso.

O "médium da peruca" não foi mandante nem mentor do crime, mas "lavou as mãos" e viu na morte do sobrinho a vantagem de continuar usando os mortos como trampolins para sua "escadaria para o céu", seguindo com suas farsas "mediúnicas" sustentadas por uma fajuta "caridade de fachada", com distribuição de precários pacotes de donativos que mal conseguiam fazer famílias pobres sobreviverem por mais de dois dias. Uma "caridade" que blinda o pretenso benfeitor e faz pouco pelo próximo é um vexame!

O "médium" defendeu abertamente a ditadura militar e, felizmente, fez com que um texto que chegou a ser publicado num portal de esquerda há poucos dias fosse retirado, tamanhas as brigas violentas que adeptos e críticos do "médium" de Uberaba travam nos últimos nos nas redes sociais, no esforço de tentar acabar com a imagem glamourizada do farsante que usurpou a memória de Humberto de Campos e enganou um dos herdeiros do escritor. Uma imagem construída no auge da ditadura militar que o suposto "médium dos descamisados" defendeu com mais entusiasmo que Cabo Anselmo.

Há coisas ainda tenebrosas no Espiritismo brasileiro. Um outro "médium", pintor falsário que em suas palestras, frequentadas pela elite do atraso de Salvador (os herdeiros da Casa Grande escravocrata que vivem nos prédios de luxo do Corredor da Vitória e se divertem em Villas do Atlântico), faz piadas contra sogras, pessoas gordas e mulheres louras (inclusive as "oxigenadas"), é acusado de trancar crianças em alojamentos e explorar adolescentes como flanelinhas na instituição localizada no bairro de Pituaçu.

Numa religião como o Espiritismo brasileiro, em que eu mesmo pude testemunhar entrevistadores do "auxílio fraterno" sorrindo de alegria quando ouvem uma pessoa aflita falar de seus pesados dramas pessoais, há coisas sombrias que não são denunciadas porque muitos que poderiam investigar são abduzidos pelo "bombardeio de amor" dos apelos afetuosos dos charlatães da paranormalidade, dissimulados pela imagem associada ao suposto socorro de crianças pobres. Mas se até Jim Jones, de trágica lembrança, pôde aparecer ao lado de crianças pobres...

No caso do Dalai Lama, muitos alegam que se trata de uma "saudação cerimonial" que o titular do título religioso fez com o menino ao beijar seus lábios. Mas nada impede que seja um ato de pedofilia, como ocorreu também com muitos religiosos que, por trás do voto de celibato, também assediavam sexualmente crianças e adolescentes.

Há também uma simbologia desse assédio com outras que religiões como o Espiritismo brasileiro fazem, que é o assédio a ateus, agnósticos e céticos em geral, na tentativa de atrai-los para a conversão religiosa, sob a desculpa que estes leigos da fé seriam "virgens de crença". Exemplo disso é a conversão do ator Danton Mello ao obscurantismo da chamada "fé espírita", como um triunfo que este Catolicismo medieval de botox faz a muitos "sem religião" que cometem o papelão de sentirem fascinação por "médiuns" feiosos e rabugentos.

O que mais surpreende é que este episódio não está associado a pastores e bispos que, com camisas de colarinho, extorquem dinheiro dos fiéis através de um discurso marcado pela raiva e pelo alarmismo odioso. Está associado àquele "espiritualismo ecumênico", o mesmo que promove até o assistencialismo-ostentação de José de Paiva Netto na tendenciosa Legião da Boa Vontade, mas é também marcado pela idolatria a pretensos filantropos, cuja "caridade" mais parece ajudar esses falsos benfeitores, na medida em que o povo pobre continua sendo pobre.

Esse é um diagnóstico básico deste "humanismo de resultados" e da "paz" que eu e toda pessoa, com um mínimo de dignidade, não querem seguir. Uma "paz sem voz", do oprimido que aceita quieto os abusos dos opressores, enquanto farsantes religiosos enganam multidões com seus artifícios de palavras suaves que não têm serventia alguma para as vidas das pessoas. 

Se as pessoas quiserem mesmo lições de vida, que vão trabalhar e extraiam lições de sua própria experiência, não de farsantes do pretenso espiritualismo ecumênico! 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

DENÚNCIA GRAVE: "MÉDIUM" TIDO COMO "SÍMBOLO DE AMOR E FRATERNIDADE" COLABOROU COM A DITADURA

O famoso "médium" que é conhecido como "símbolo maior de amor e fraternidade", que "viveu apenas pela dedicação ao próximo" e era tido como "lápis de Deus" foi um colaborador perigoso da ditadura militar. Não vou dizer o nome desse sujeito, para não trazer más energias. Mas ele era de Minas Gerais e foi conhecido por usar perucas e ternos cafonas, óculos escuros e por defender ideias ultraconservadoras calcadas no princípio de que "devemos aceitar os infortúnios e agradecer a Deus pela desgraça obtida". O pretexto era que, aceitando o sofrimento "sem queixumes", se obterá as prometidas "bênçãos divinas". Sádico, o "bondoso homem" - que muitos chegaram a enfiar a palavra "Amor" como um suposto sobrenome - dizia que as "bênçãos futuras" eram mais dificuldades, principalmente servidão, disciplina e adversidades cruéis. Fui espírita - isto é, nos padrões em que essa opção religi...

CRISE DA MPB ATINGE NÍVEIS CATASTRÓFICOS

INFELIZMENTE, O MESTRE MILTON NASCIMENTO, ALÉM DE SOFRER DE MAL DE PARKINSON, FOI DIAGNOSTICADO COM DEMÊNCIA. A MPB ainda respira, mas ela já carece de uma renovação real e com visibilidade. Novos artistas continuam surgindo, mas poucos conseguem ser artisticamente relevantes e a grande maioria ainda traduz clichês pós-tropicalistas para o contexto brega-identitário dos últimos tempos. Recentemente, o cantor Milton Nascimento, um dos maiores cantores e compositores da música brasileira e respeitadíssimo no exterior por conta de sua carreira íntegra, com influências que vão da Bossa Nova ao rock progressivo, foi diagnosticado com um tipo de demência, a demência de corpos de Lewy. Eu uma entrevista, o filho Augusto lamentou a rotina que passou a viver nos últimos anos , quando também foi diagnosticado o Mal de Parkinson, outra doença que atinge o cantor. Numa triste e lamentável curiosidade, Milton sofre tanto a doença do ator canadense Michael J. Fox, da franquia De Volta para o Futuro ...

BURGUESIA ILUSTRADA QUER “SUBSTITUIR” O POVO BRASILEIRO

O protagonismo que uma parcela de brasileiros que estão bem de vida vivenciam, desde que um Lula voltou ao poder entrosado com as classes dominantes, revela uma grande pegadinha para a opinião pública, coisa que poucos conseguem perceber com a necessária lucidez e um pouco de objetividade. A narrativa oficial é que as classes populares no Brasil integram uma revolução sem precedentes na História da Humanidade e que estão perto de conquistar o mundo, com o nosso país transformado em quinta maior economia do planeta e já integrando o banquete das nações desenvolvidas. Mas a gente vê, fora dessa bolha nas redes sociais, que a situação não é bem assim. Há muitas pessoas sofrendo, entre favelados, camponeses e sem-teto, e a "boa" sociedade nem está aí. Até porque uma narrativa dos tempos do Segundo Império retoma seu vigor, num novo contexto. Naquele tempo, "povo" brasileiro eram as pessoas bem de vida, de pele branca, geralmente de origem ibérica, ou seja, portuguesa ou...

A HIPOCRISIA DA ELITE DO BOM ATRASO

Quanta falsidade. Se levarmos em conta sobre o que se diz e o que se faz crer, o Brasil é um dos maiores países socialistas do mundo, mas que faz parte do Primeiro Mundo e tem uma das populações mais pobres do planeta, mas que tem dinheiro de sobra para viajar para Bariloche e Cancún como quem vai para a casa da titia e compra um carro para cada membro da família, além de criar, no mínimo, três cachorros. É uma equação maluca essa, daí não ser difícil notar essa falsidade que existe aos montes nas redes sociais. É tanto pobre cheio da grana que a gente desconfia, e tanto “neoliberal de esquerda” que tudo o que acaba acontecendo são as tretas que acontecem envolvendo o “esquerdismo de resultados” e a extrema-direita. A elite do bom atraso, aliás, se compôs com a volta dos pseudo-esquerdistas, discípulos da Era FHC que fingiram serem “de esquerda” nos tempos do Orkut, a se somar aos esquerdistas domesticados e economicamente remediados. Juntamente com a burguesia ilustrada e a pequena bu...

NEGACIONISTA FACTUAL E SUAS RAÍZES SOCIAIS

O NEGACIONISTA FACTUAL REPRESENTA O FILHO DA SOCIALITE DESCOLADA COM O CENSOR AUSTERO, NOS ANOS DE CHUMBO. O negacionista factual é o filho do casamento do desbunde com a censura e o protótipo ilustrativo desse “isentão” dos tempos atuais pode explicar as posturas desse cidadão ao mesmo tempo amante do hedonismo desenfreado e hostil ao pensamento crítico. O sujeito que simboliza o negacionista factual é um homem de cerca de 50 anos, nascido de uma mãe que havia sido, na época, uma ex-modelo e socialite que eventualmente se divertia, durante as viagens profissionais, nas festas descoladas do desbunde. Já o seu pai, uns dez anos mais velho que sua mãe, havia sido, na época da infância do garoto, um funcionário da Censura Federal, um homem sisudo com manias de ser cumpridor de deveres, com personalidade conservadora e moralista. O casal se divorciou com o menino tendo apenas oito anos de idade. Mas isso não impediu a coexistência da formação dúbia do negacionista factual, que assimilou as...

A IMPORTÂNCIA DE SABERMOS A LINHA DO TEMPO DO GOLPE DE 2016

Hoje o golpismo político que escandalizou o Brasil em 2016 anda muito subestimado. O legado do golpe está erroneamente atribuído exclusivamente a Jair Bolsonaro, quando sabemos que este, por mais nefasto e nocivo que seja, foi apenas um operador desse período, hoje ofuscado pelos episódios da reunião do plano de golpe em 2022 e a revolta de Oito de Janeiro em 2023. Mas há quem espalhe na Internet que Jair Bolsonaro, entre nove e trinta anos de idade no período ditatorial, criou o golpe de 1964 (!). De repente os lulistas trocaram a narrativa. Falam do golpe de 2016 como um fato nefasto, já que atingiu uma presidenta do PT. Mas falam de forma secundária e superficial. As negociações da direita moderada com Lula são a senha dessa postura bastante estranha que as esquerdas médias passaram a ter nos últimos quatro anos. A memória curta é um fenômeno muito comum no Brasil, pois ela corresponde ao esquecimento tendencioso dos erros passados, quando parte dos algozes ou pilantras do passado r...