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A PRÓSPERA ELITE DO ATRASO, SUA CONFUSÃO E SEU MEDO

ISSO É TRANSFORMAR VIDAS?

A elite do atraso que não quer ser conhecida por este nome porque senão ela chora está feliz com os 100 dias do governo Lula. A visão de altruísmo dessa classe média é confusa e a combinação de vida frenética, escolaridade artificialmente desenvolvida e uma indisposição ao senso crítico, demonstra o quanto essa "boa" sociedade é conduzida pela confusão e pelo medo.

Vendo o discurso de Lula sobre os 100 dias de governo, o atual presidente, numa performance aquém dos mandatos anteriores, tenta embolar as coisas. Quem entende de Comunicação, de linguagem e exige o rigor dos fatos e das ações em detrimento de ideias especulativas, sabe que os 100 dias do atual governo só ficaram na promessa, nas propostas e opiniões. Ações, apenas esboços.

Os tais "40 anos em 4" não decolaram. Alguma coisa positiva aqui e ali é proposta, mas devemos nos lembrar: propostas, promessas e opiniões não são sinônimos de ações. Em janeiro último, Lula se esqueceu de que teria que reconstruir o Brasil primeiro, e não viajar para o exterior. Se Lula fosse um pouco mais prudente, primeiro ele passaria os dez primeiros meses do atual governo trabalhando internamente, reconstruindo o país e cuidando das pessoas, para depois, a partir de outubro, viajar para o exterior.

Primeiro o Brasil tinha que se recuperar internamente, para depois promover sua imagem externa. A política externa veio até antes da política interna, com o risco da Ucrânia ser recuperada antes do Brasil. Em janeiro, não se falou em combate à fome, tema que só veio a partir do terceiro mês de governo.

Mas nossa "boa" elite do atraso confunde as coisas. Não consegue entender a diferença entre prometer, propor ou opinar com agir. Em janeiro passado, Lula só produziu fatos políticos, deu a falsa impressão de movimentação governamental que fez as pessoas acreditarem que o presidente começou "governando muito". Como uma cena de ação num filme, com herói e vilão brigando sobre um vagão de trem parado, mas se "movimentando" diante de um filme, recurso chamado de back projection.

Prometer significa "pretendo fazer". Propor significa "gostaria que algo fosse feito". Opinar significa "eu acho que isso pode ser feito mas aquilo não, por tal motivo". Agir significa "eu faço", "eu estou fazendo". Mas juntando a ignorância da "boa" sociedade com a vida frenética nas redes sociais, as promessas, propostas e opiniões acabam valendo como "ações".

Lula misturou as coisas em seu longuíssimo discurso. Misturou o supostamente feito com o que pretende fazer. Falava como se quisesse fazer uma retrospectiva dos mandatos anteriores, mas ao mesmo tempo se empolgou demais em alegar que o Brasil será um país desenvolvido, sem que haja um preparo necessário para isso. E, a julgar pelos atos diversos, como o massacre em uma escola de Blumenau e o ato racista contra uma professora no supermercado Atacadão em Curitiba, nota-se que nosso país ainda está longe de sorrir de novo.

Mas para a "boa" sociedade, a elite do atraso que se recusa a ser conhecida por este nome, ela não pode ser criticada. A "boa" sociedade que não suportava Dilma Rousseff, que vivia feliz sob Temer e Bolsonaro, apenas se incomodando pessoalmente com suas figuras horrendas - mas vamos combinar que se sentir incomodado não é o mesmo que se sentir prejudicado - , e agora acha que Lula está governando mesmo preferindo fazer discursos e viagens.

Essa "boa" sociedade não tem um senso de discernimento. Daí que ela sente medo de textos como um que foi publicado há poucos dias, sobre o fato da caridade, como carteirada, ser ridícula e inútil na ajuda ao próximo. Ficam com medo de ficar sem a idolatria ao "filantropo de plantão", por acharem sem graça uma caridade que focaliza mais os mais necessitados do que o suposto benfeitor. 

Para quem tem os vidros fumê de seus carros refrigerados fechados para evitar o assédio de pedintes, é necessário um ídolo que "faça a caridade" que as pessoas não querem fazer. Ainda que a caridade esteja no padrão de esmolas paliativas, confundidas com "atos que transformam vidas", até porque as vidas dos pobres não foram transformadas, a dor da miséria é que foi parcialmente aliviada. E ainda que o ídolo nem faça caridade, mas os devotos que pagam ou arrumam os mantimentos, como formigas a fazer o serviço que depois renderá louvores à cigarra que não trabalhou.

A confusão da "boa" sociedade vai neste sentido. Não há discernimento entre a ação das formigas e o prestígio ocioso da cigarra. Para a "boa" sociedade, a cigarra é que se doou para o próximo, e as formigas se esquecem que forneceram o material filantrópico, que já é precário, pois são pacotes de mantimentos de uso provisório, mas cuja comemoração pelas instituições religiosas é mais duradoura. A tal "caridade" é festejada por meses, mesmo quando a fome já retornou de viagem para voltar a morar com as famílias pobres.

Há um medo de admitir isso. Daí que textos assim repercutem pouco. Senso crítico todos dizem defender e apoiar, mas raros são os que o encaram na sua natureza mais crua. Muitos são os que falam deu um senso crítico mais "equilibrado", que de tão contido mais parece um ato de complacência do que de manifestação de um pensamento crítico.

Há muita confusão e medo, neste contexto em que o Brasil, longe de perseguir a insanidade de atingir o Primeiro Mundo, com um cenário social e cultural devastados, e muita gente não se compromete a ler textos mais críticos, que causem incômodos em suas convicções estabilizadas há 50 anos.

Por isso mesmo, as pessoas preferem misturar as coisas e as ideias, que trazem sossego para suas zonas de conforto perceptivas. A "boa" sociedade vai dormir tranquila depois de ver Lula prometendo, propondo e opinando e as elites acharem que ele está "agindo" (se Lula age, ele age muito pouco, preferindo falar demais). 

Da mesma forma, as elites paternalistas compram seus mantimentos de qualidade precária para a caridade paliativa que somente parcialmente resolve a pobreza extrema. E imaginam que foi seu ídolo religioso que fez tudo, embora ele não tivesse doado um centavo nem uma gota de suor pelos mais necessitados. E imaginam também que essa suposta caridade "transforma vidas" e ai de quem contestar isso. Sai cancelado na hora, pela sociedade que fecha os olhos para a verdadeira pobreza.
 

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