Quando se criticou a inatividade dos primeiros meses do atual governo Lula, muita gente não gostou. Textos que criticavam os desvios de foco, como as desnecessárias viagens internacionais de Lula, eram boicotados. Tudo o que Lula fazia, mesmo por impulso, era visto como "certo". Até se Lula for descansar na praia de Saint Tropez, na França, com sua Janja, seus adeptos vão considerar que o presidente está "dando duro" para reconstruir o Brasil.
Mas quem não houve verdades dolorosas e, na sua zona de conforto, só leem o que lhes agrada, acaba avisado de notícias desagradáveis. Pois nos primeiros três meses do atual governo Lula, não se evitou que o desemprego aumentasse, segundo dados do IBGE, no índice de 8,8%.
Segundo o instituto, o dado representou um aumento de 0,9 ponto percentual (p.p.) em relação ao trimestre anterior, de outubro a dezembro de 2022 (7,9%), fim do governo Jair Bolsonaro. No entanto, houve um recuo de 2,4 p.p. ante o mesmo período em 2021.
Vários detalhes aparecem na matéria do portal IG Economia. A subida do desemprego poderia muito bem ter sido evitada se o governo Lula tivesse como prioridade o combate à pobreza, à fome e o desemprego, que eram as maiores bandeiras de sua campanha eleitoral e as bases fundamentais para a reconstrução do país.
Em vez disso, Lula preferiu e ocupar com dois eventos que dispensam sua participação direta. O desmonte do bolsonarismo, com a CPMI dos Atos Anti-democráticos, poderia ser acompanhado apenas pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. Viagens internacionais para estabelecer acordos de parcerias com outros países podem ser feitos por três membros da equipe de governo: o vice Geraldo Alckmin, como Ministro do Desenvolvimento Econômico, Fernando Haddad, como ministro da Fazenda, e o presidente do BNDES, Aloízio Mercadante.
Lula tinha que ficar os primeiros meses no Brasil, comandando a reconstrução do país, articulando sua base de apoio no Legislativo e monitorando os trabalhos de sua equipe para recuperar o emprego, a moradia, os salários e criar medidas para baixar os preços dos produtos. Não havia motivo para Lula, logo no começo, realizar viagens internacionais.
Fazer o Brasil "voltar ao cenário mundial" se pode esperar. Aliás, não é coerente mostrar o Brasil para a comunidade internacional sem obter os primeiros resultados da tal reconstrução. Lula errou muito, realizou o supérfluo Festival do Futuro, um evento que nem repercutiu muito e depois caiu no esquecimento. No lugar do evento, deveria ter feito a cerimônia de posse dos ministros para imediatamente começar os trabalhos de recuperação do Brasil.
É lamentável que Lula só comece a criar medidas concretas para recuperar o emprego no quinto mês de seu atual mandato. Tudo para mais um clima de festa, que é o maior erro de Lula. O Primeiro de Maio será cheio de pompa, com aumento do salário mínimo de R$ 1.302 para R 1.320 e reajuste salarial dos servidores públicos em 9%, um terço do valor reivindicado pela categoria, de 26,94% mais aumentos dos valores dos benefícios.
Os trabalhadores ficaram sem aumentos reais de salários durante o governo de Jair Bolsonaro. Os preços dispararam ao longo dos governos golpistas de Michel Temer e Jair Bolsonaro. Quanto aos benefícios do atual governo Lula, o consolo é a isenção do Imposto de Renda para quem ganhar até dois salários mínimos, ou seja, R$ 2.640.
Ainda é pouco. Como a redução dos preços da carne em 2%, que mal dá para abastecer o almoço familiar. Enquanto isso, Lula aprova aumentos generosos para os Três Poderes, incluindo o salário dele próprio, e já se fala em "comprar" apoio da Câmara dos Deputados para aprovação de medidas do governo.
Enquanto isso, as classes trabalhadoras tiveram que esperar cinco meses para que se anuncie alguma futura luz no fim do túnel. Não são eles a classe média que usa muito a Internet e tem atividade intensa nas redes sociais, a "boa" sociedade formadora de opinião que acredita que Lula "trabalha duro" até fazendo turismo pela Europa, Ásia e EUA. Os "sem Instagram" vivem uma realidade dura que os "bons" opinadores das redes, presos nos seus solipsismos, fingem perceber mas não percebem.
O Primeiro de Maio de Lula deveria ter sido o Primeiro de Janeiro. Antes do Brasil voltar a ter cartaz mundial, o país deveria melhorar por dentro. Até agora, ainda temos fortes resíduos do Brasil de Bolsonaro, e os prejuízos não foram reparados.
Está certo que vai demorar um pouco para o Brasil ter algum benefício, mas as ações deveriam ter sido mais imediatas e diretas, em vez de Lula cometer as gafes de se limitar a propostas, promessas e opiniões. E a classe média abastada deveria saber de certas verdades, em vez de boicotar, com medo, textos que critiquem os erros do atual governo Lula, porque nem toda crítica é lavajatista. A realidade também é feita de cobranças, deveres e responsabilidades.
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