LULA SE ACHA O MENINO MIMADO DA HISTÓRIA, ACHANDO QUE O DESTINO TEM QUE ATENDER AS SUAS VONTADES E LHE DAR RAZÃO EM TUDO.
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, pode ser um tirano, a promover genocídios em Gaza. Mas vamos combinar que o Hamas também é um grupo terrorista e faz suas atrocidades dizimando outros inocentes. Não dá para fazer um Fla x Flu ideológico diante desse quadro de massacres chocantes.
Pouco importa se Lula está certo ou errado em suas posições. No contexto da atual situação, com um Brasil culturalmente devastado e precisando de uma reconstrução de verdade, Lula errou não só por enfatizar a política externa como em expor perigosamente o Brasil através das declarações impulsivas do presidente do nosso país.
Lula, portanto, está profundamente errado, fosse o que fosse sua opinião. Além disso, a polêmica causada por suas comparações de que o genocídio em Gaza se equipararia ao Holocausto nazista, gera interpretações dúbias e não é o momento de Lula expir essa opinião, mais adequada para ser expressa em conversas de bar, não numa cúpula internacional.
O que Lula fez acabou se tornando um "humanismo de proveta", produzindo um sensacionalismo político, expondo sem necessidade o Brasil numa situação perigosa. Por sorte hoje as relações geopolíticas são, digamos, relativamente equilibradas, mas se fosse em outros tempos, Netanyahu teria enviado mísseis para bombardear Brasília.
Portanto, a mídia de esquerda aposta numa carteirada opinativa, exaltando o suposto triunfalismo do presidente brasileiro que, supostamente, botou para fora o que estava preso nas gargantas dos oprimidos do mundo inteiro. Cria-se um círculo vicioso sob o qual se duela o maniqueísmo entre uma mídia reacionária e um presidente corajoso, num cabo-de-guerra ideológico que não vai para lugar algum.
A carteirada opinativa significa que, não importa o pretexto nem as prioridades, uma opinião correta dada em ocasião errada é sempre uma opinião certa no momento certo. Não é hora de Lula fazer tais comentários, diante de uma situação frágil do Brasil, mas a carteirada opinativa faz com que o presidente brasileiro, a pretexto de denunciar a opressão de Benjamin Netanyahu, esteja sempre oportuno na sua ocasião de opinar.
O presidente do Brasil prevenir um massacre em Gaza é até correto. Mas e a pobreza brasileira, dos pobres que destoam da prosperidade feliz das periferias de novela, dos pobres cada vez mais decepcionados com Lula, distante do Brasil, se preocupando mais com a política externa do que em cuidar do povo brasileiro?
Enquanto isso, a "sociedade do amor", prometendo justiça social e fim das desigualdades, só aprofunda a situação injusta. Os super-ricos, agora, tendem a acrescentar novos personagens, como empresários do entretenimento e os "novos ricos" premiados por loterias e outras promoções, ex-pobres hoje mergulhados no mesmo egoísmo burguês de ter demais para si e não repartir renda.
Nosso país está devastado culturalmente. Subcelebridades, música popularesca, valores retrógrados, obscurantismo religioso, fanatismo futebolista acima dos limites imagináveis. A reconstrução do Brasil que não passar pela remoção desses entulhos não merece ter esse nome.
Mas se o grande sucesso de Carnaval é "Macetando", com Ivete Sangalo retornando à axé-music depois de tanto investir numa "MPB de mentirinha", uma música que soa velha, como se fosse lançada 35 anos atrás, então não há como apostar na entrada do Brasil no clube dos países desenvolvidos. Até porque a elite do bom atraso sempre brincou de "país desenvolvido" mesmo sob as maldades de Temer e as perigosas traquinagens de Bolsonaro e sua "familícia".
Até o hábito caraterístico do Brasil colonial, o de inscrever os filhos em puberdade nas faculdades do exterior, sempre continuou acontecendo e, infelizmente, até setores das esquerdas apelam para essa solução fidalga, em vez de lutar pelo ensino público e pelo fortalecimento das universidades públicas do nosso país.
Mas as injustiças sociais se agravam no país. Nossas universidades, mesmo públicas, proíbem o pensamento crítico, ítem também bloqueado para o financiamento de filmes, sobretudo os documentários. O mercado de trabalho não quer gente talentosa, mas gente ao mesmo tempo jovem, experiente e "divertida". Como apostar no desenvolvimento do Brasil com tais restrições?
É por isso que a declaração de Lula foi um fogo de palha e um grave erro, pois serviu de cortina de fumaça para os problemas brasileiros. Lula só fez empolgar a pequena burguesia de esquerda, bem de vida, com filhos estudando no exterior.
Fora da bolha lulista, pouco importa se Lula tem razão ou não. No contexto do Brasil, o Oriente Médio é outro mundo. A mania das esquerdas médias brasileiras tratar a Palestina como se fosse um bairro da Zona Leste de São Paulo é lamentável e não tem relação direta com o combate à fome do povo pobre brasileiro.
Não vamos botar o carro na frente dos bois e tomar como prioridade coisas que apenas influem de maneira indireta com o cotidiano dos brasileiros. Que o problema palestino tem sua relevância, isso é indiscutível. Mas é um problema de um lugar distante, não podemos tomar como um problema local brasileiro. Se o problema palestino influi no nosso país, é sempre de maneira indireta.
Portanto, pouco importa se Lula está certo ou não. Se o problema não é Lula falar o que não devia, sem dúvida é o de falar quando não devia, tirando o foco da reconstrução do Brasil que não sabemos agora quando realmente vai começar. Portanto, no conjunto da obra, Lula errou feio e oferece querosene para a fogueira perversa dos seus opositores.
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