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O SOFRIMENTO DOS TRABALHADORES QUE A "BOA CASA GRANDE" NÃO MOSTRA

AMBULANTE DORME NA RUA DURANTE O CARNAVAL DE SALVADOR 2024.

A chamada "sociedade do amor" está no auge, sob o comando de um Lula convertido em mascote da Faria Lima e buscando a autoconsagração no Carnaval de Salvador, que recebeu generosas quantias do Ministério da Cultura, cuja titular é a cantora baiana Margareth Menezes, apesar do evento poder viver somente de anunciantes privados, inclusive estrangeiros.

É a supremacia da elite do bom atraso, os descendentes da Casa Grande que pensam ser senzala mas tentam imitar os quilombos. A burguesia de chinelos, invisível a olho nu, gente que ganha dinheiro demais sem necessidade, ávida em atingir o topo do alpinismo social e que, no Carnaval de Salvador, já escolheu a fantasia que, aliás, utiliza 365 ou 366 (é o caso de 2024) dias por ano: a de "gente simples", pronta para renegar suas raízes aristocráticas e elitistas em "invertidas" disparadas nas redes sociais.

Graças a essa burguesia que acredita num "socialismo de butique e de boteco" - espécie de neoliberalismo festivo e identitário que se fundamenta no artifício cool da falsa pose esquerdista - , vive-se o sonho lulista de um Brasil que não se sabe se já foi reconstruído ou se ainda começará sua reconstrução. Porque, se houvesse reconstrução, não haveria festa, ninguém iria comemorar um trabalho árduo que nem começou.

Se o pessoal comemora, é porque tem coisa estranha. As nossas "boas" elites agora botam 524 de seis males na conta de Jair Bolsonaro - que, no grosso, só poderia responder pelos males que ele e sua turma cometaram, pelo menos, entre 2018 e atualmente - e, saindo de fininho, agora temos a "burguesia mais boazinha do mundo" (embora esta elite, lembremos, não se assume burguesa). Gente "civilizada" que joga comida fora, põe frases de "médium" picareta para "alegrar as manhãs" e fala portinglês.

Esse pessoal que se acha "progressista e democrático" vive seu hedonismo supérfluo, ganhando demais através de concursos, promoções, entrevistas de emprego, loterias etc, tirando a vez de quem precisa de dinheiro para pagar as contas e melhorar a alimentação. E quer viver a ilusão da  positividade tóxica nas redes sociais, aproveitando que Lula deu o sinal verde: só ele decide e o povo brasileiro que vá festejar e brincar.

A festa lulista do "Brasil único" mostra pessoas que não podem ser tão "únicas" assim. Fora da bolha petista eu vejo gente sofrida, miserável, triste. Gente sem vez e sem voz, diferente dos "pobres" da propaganda de Lula, que repetem os estereótipos obedientes das novelas e comédias da TV.

No Carnaval de Salvador, há gente vivendo o pesadelo oculto pelo sonho folião, a exemplo do que ocorreu também em eventos como o Lollapalooza, em que houve denúncias de trabalho escravo, uma vergonha se percebermos que o evento é uma franquia de um festival cuja origem remete à cultura alternativa.

Uma matéria de Weslley Neto no UOL, que escreveu e fotografou o drama dos ambulantes contratados para vender produtos - sobretudo bebidas e lanches - no Carnaval de Salvador deste ano, mostra os detalhes desse sofrimento.

Ambulantes têm que pagar R$ 15 em marmitas e R$ 7 para tomarem banho em estabelecimentos próximos. Mas eles são obrigados, também, a gastar dinheiro para recarregar celular, comprar gelo para refrigerar as bebidas, além de tantas humilhações. 

Os ambulantes têm que dormir nas ruas, em local próximo do circuito carnavalesco, e em dias de chuva são forçados a dormir sentados para não molhar plásticos, papelões e cobertores utilizados como camas improvisadas. Quem não tem lona disponível para se proteger usa o guarda-sol da barraca para evitar ser molhado pela água da chuva.

Em outra matéria, do portal G1, ambulantes têm que dormir na rua a espera de um cadastramento para vender seus produtos nos megablocos do Carnaval da Bahia. Sofrendo de desinformação quanto ao limite de vagas, os trabalhadores ainda têm que passar por esse sufoco burocrático.

Outro problema é a violência. Na Barra, um jovem ambulante chamado Yuri foi agredido por dois homens, sem motivo aparente. Um bateu na cabeça do rapaz e outro lhe deu um soco. O ambulante saiu com sangramento e os dois agressores fugiram quando a polícia se aproximava.

Tudo isso é o lado oculto da festa que, nas redes sociais, mostra o sonho dourado de um Brasil "próspero" e "pronto para atingir o Primeiro Mundo". Mas essa elite do bom atraso sempre viveu seu "primeiro mundinho" mesmo sob o signo ao AI-5 ditatorial, sempre na sua ganância festiva, voltada ao consumo neurótico do supérfluo, e tirando a voz, a vez e a grana de quem necessita, apenas, ter uma vida com um mínimo de dignidade possível.

E ver que uma grande maioria de trabalhadores vive o pesadelo de trabalhar para o sonho dos que estão bem de vida é muito triste. Ainda mais quando os que estão bem de vida se tornaram a "nata" dos lulistas.

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