O governo Lula inaugurou a "República do Instagram", o Brasil do faz-de-conta, com o presidente agindo mais como um competidor de gincanas escolares do que deum governante ou gestor. Não se vê um trabalho realde reconstrução do Brasil, pois o clima de festa está precipitado e, pelo jeito, não vai sobrar champanhe para disparar no fim desta corrida. A "boa" sociedade já bebeu o champanhe que seria para a ocasião da vitória.
Lula está com uma performance muito inferior àquela que desempenhou nos dois mandatos anteriores. Mesmo com seu projeto político muitíssimo moderado - tímido, se comparado a Vargas, Brizola e Jango - , notava-se em Lula nesta época um fôlego de gestor, hoje substituído por ações de marketing.
Despindo de paixões políticas, nota-se que Lula sucumbiu ao estrelismo, deitando na cama depois de obter a fama e o prestígio. Lula tornou-se um pelego, porque, por mais que jure governar priorizando os pobres e os oprimidos, ele estabelece alianças estranhas e conciliatórias com a burguesia, vide a "frente ampla", o Centrão e a Faria Lima, com a qual o petista exerce uma "rivalidade" na linha Emilinha Borba x Marlene.
Daí que, fora da bolha lulista, o povo trabalhador sente-se abandonado pelo petista. É certo que a narrativa mentirosa da Operação Lava Jato difundida pela mídia influiu muito, mas o próprio Lula contribui, com seus erros, sua falta de autocrítica e o fato de não ter esclarecido a respeito das supostas acusações de corrupção. E vemos que Lula andou passando pano no governo Temer, apenas prometendo retirar os aspectos mais extremamente negativos, sem romper com o conjunto do pacote de maldades.
Quem se empolga com o governo Lula é a pequena burguesia que se acha "esclarecida" e que se alterna entre o direitista "convertido" e o esquerdista "domesticado", ambos inseridos no pretexto da "democracia" lulista e que são a base de engajamento da elite do bom atraso. São pessoas bem de vida com mania de, se não declaradamente se achar dona da verdade, luta para ficar sempre com a palavra final.
É um pessoal de considerável poder aquisitivo, mas se acha "pobre" porque não se enquadra nos ritos formais dos ricos tradicionais. Mas também é um pessoal com mania de fazer juízo de valor aqui e ali, com a pretensão de, conforme suas convicções de classe, achar que pode julgar os desejos, vontades e necessidades do povo pobre. Daí o papelão que a intelectualidade "bacana", no "eterno verão" do "combate ao preconceito" em prol da bregalização cultural, causou ao glorificar a precarização sociocultural a partir da defesa, dotada de vitimismo e arrogância, da música popularesca.
Portanto, não há como desmentir que os trabalhadores estão desapontados com Lula. O que eu não canso de ver é trabalhador falando mal de Lula. Eu ando pelas ruas, já percorri subúrbios e bairros nobres. Os lulistas ficam nas suas bolhas sociais, julgam o mundo conforme sua linearidade ideológica, que os faz acreditar ser "impossível" um trabalhador se sentir traído e decepcionado com o Lula.
É um pessoal que não pensa fora de sua caixa, de sua bolha. Não conseguem compreender a complexa realidade em que vivemos. Se os lulistas não têm um apetite de produzir fake news à maneira dos bolsonaristas, em compensação também se recusam a ver a realidade conforme ela é, fora do pensamento desejoso dos apoiadores do atual presidente.
Por isso são eles que ficam empolgados com as viagens de Lula ao exterior, com as canetadas e as cerimônias de suas medidas governamentais, com relatórios de supostas realizações do seu governo e supostas pesquisas apontando sua popularidade, ações cujo tom de espetáculo compensa o caráter paliativo e medíocre de muitas medidas hoje tomadas.
Também existe a empolgação pelos discursos de Lula, com suas opiniões previsíveis, com as encenações de "pobres" aparecendo nas cerimônias do governo, no presidente diante de uma plateia extasiada. Lula parecendo um animador de auditório em vez de um governante.
Mas o Brasil-Instagram é isso: a realidade escravizada pelas narrativas da "sociedade do espetáculo", pelos juízos de valor de quem tem mais de mil seguidores nas redes sociais. A realidade crua pouco importa. O que importa é o pensamento desejoso de uns poucos bacanas que lutam pela posse da palavra final. E que, para eles, tanto faz Lula parecer um competidor de gincanas do que um governante. Os lulistas estão bem de vida, para eles tudo é lucro.
Fora da bolha lulista é que as coisas diferem, com os trabalhadores seguindo suas vidas tristes aborrecidos e revoltados e se sentindo traídos pelo Lula.
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