A neurose dos que aceitam alguém que fala demais cria uma paranoia que transforma a carteirada opinativa de Lula não só num ciclo vicioso , mas também numa obsessão doentia na qual toda crítica é demonizada por essa elite que adora um balé das palavras.
A intromissão de Lula na pauta do Oriente Médio tornou-se uma obsessão tão grande que seus apoiadores não permitem críticas. A cortina de fumaça que abafa uma reconstrução do Brasil que não se sabe se vai ocorrer ou se já se concluiu - afinal, o clima de festa sugere que o Brasil "já está bem" - não pode ser apagada, sob pena de os bombeiros do bom senso serem demonizados em seus questionamentos.
A vereadora Liana Cirne Lins, do PT pernambucano, fez um comentário que soa como uma pressão psicológica contra quem fizer um pio contra a obsessão de Lula em discursar, no caso em relação à pauta, fabricada no contexto brasileiro, do conflito de Israel contra os palestinos:
"No meu entendimento ou você é a favor da fala de Lula ou você é a favor do genocídio. Não tem meio termo. Quem está contra Lula está a favor do genocídio étnico do povo palestino. Quem é contra o que disse Lula apoia o genocídio étnico do povo palestino. Ou você está com Lula ou você está a favor do genocídio", declarou a vereadora.
É lógico que reprovamos os massacres de Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelense, contra o povo palestino, que de forma generalizada é alvo da pretensa operação contra o terror, representado apenas por grupos como o Hamas. Mas precisa tratar a Palestina como se fosse um bairro da Zona Leste de São Paulo e encarar o problema do Oriente Médio como se fosse um problema diretamente relacionado ao Brasil?
Na verdade, Lula é criticável não porque seu projeto estaja desprovido de boas ideias ou intenções, mas porque Lula adota procedimentos equivocados, alternando astúcia e ingenuidade, peleguismo e populismo, e prefere apostar em longos discursos enquanto cria artifícios para mascarar seu governo medíocre com aparatos de falsa grandeza.
Canetadas, relatórios, promoções de temporárias quedas de preços, rituais e cerimônias nos eventos de medidas do governo, dados estatísticos de supostas pesquisas de popularidade do presidente, tudo isso indica muita propaganda, muito espetáculo, em que o que está realmente em jogo é a campanha da promoção pessoal de Lula.
É como se Lula não saísse do palanque, que ele está em campanha e por isso, precisa discursar longamente como se belas ações dependessem do excesso de palavreado. Não se pode criticar Lula, o único que, mesmo errando, está sempre certo. E cometer erros pela teimosia, mas obter resultados supostamente positivos é visto sob o eufemismo de "estratégia".
Vivemos a "democracia do eu sozinho" de Lula: ele decide e os brasileiros vão festejar. É o culto da personalidade de um presidente que faz pouco, mas realiza muita propaganda. Ele faz poucas ações e seus progressos, se existem, são poucos e frágeis. Mas Lula sempre dá um jeito de criar artifícios para mascarar a mediocridade política de seu mandato atual, como os acima citados e a "estratégia" de criar uma "movimentação política" com uma sucessão de viagens, opiniões e rituais. Tudo para dar uma movimentação de notícias, dando a impressão de um falso dinamismo. Até as viagens de Lula dão a falsa impressão de que ele não fica parado, além de fazer os brasileiros crerem de que o presidente é o "cidadão do mundo".
Vivemos a supremacia de uma elite que, só ela, pensa ser "o Brasil", "a humanidade", e sempre desejou a "democracia de Primeiro Mundo" só para ela. É a elite do bom atraso, a antiga elite do atraso que defendeu o golpe contra João Goulart e foi beneficiada pelo "milagre brasileiro" e que, agora, repaginada, se autoproclama "de esquerda" e não aceita que o pensamento crítico seja exercido no nosso país.
É essa elite que gosta do culto à personalidade de alguém, que adora um palavreado, que mede a grandeza humana pela coreografia de frases de impacto, que "tocam" na emoção das pessoas. Os atos são só um detalhe, o balé das palavras é o que importa para essa elite bem de vida que se acha dona do mundo. O problema é que ninguém mata a fome com o balé das palavras, mesmo quando elas pedem para matar a fome do povo.
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