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EGOÍSMO DISFARÇADO DE GENEROSIDADE

"É SÓ CONFIAR EM DEUS QUE VOCÊ SAI DESSA", DIZEM OS EGOÍSTAS COM LÁBIOS DE MEL.

Há um hábito, entre as pessoas que estão bem de vida e ganham demais sem necessidade, de, ao verem outra pessoa sofrendo dificuldades extremas, de dar uma sugestão seca dizendo para a pessoa "confiar em Deus e ficar orando".

O que pode parecer uma generosidade é, na maior parte das vezes, uma perversidade, que é bem caraterística dos tempos em que uma pequena elite de bem-nascidos, a elite do bom atraso, vive o momento de protagonismo tendencioso que os faz fingirem ser "mais povo que o povo".

É aquela coisa: "o pobre, coitado, não tem tempo para ter consciência de si mesmo nem tem formação escolar para isso. Eu, que sou a pessoa mais legal do mundo, embora gente como a gente, tenho diploma, carro bacana, vou aos melhores lugares na minha cidade, aprecio culinária exótica e tenho milhões de seguidores no meu Instagram, então eu me acho no direito de julgar o que o pobre deve ouvir, acreditar, apoiar, adorar e, acima de tudo, desejar".

Pura combinação de juízo de valor com arrogância, não é mesmo?

A "sociedade do amor", na prática sem medo e sem amor, é composta por gente que, aos poucos, pulou fora dos navios ultraconservadores em naufrágio: os da ditadura militar, os da Era Collor, os da Era FHC e, agora, do combo golpista de Temer e Bolsonaro.

É uma linhagem que, num passado relativamente recente, bradou pela queda de João Goulart em 1964 e reivindicou o AI-5 para "botar ordem no país", mas nos últimos anos, sem demonstrar verdadeiro remorso com tais posturas, agora se considera "democrática" ou mesmo "de esquerda", jurando de pés juntos que seu santo de devoção agora é Ernesto Che Guevara.

Esse pessoal nunca deixou de lado sua extravagância burguesa, como nos tempos em que eram os únicos beneficiários do "milagre brasileiro". Ficam festejando a "certeza" do Brasil sob Lula "chegar finalmente ao Primeiro Mundo", mas a verdade é que essa elite do bom atraso sempre viveu seu primeiro mundinho na sua bolha de privilégios nababescos, agora tornados flexíveis pela aparente aproximação aos hábitos populares.

Daí esse pessoal que, de tanto privatizar tudo o que veem pela frente, se achando "donos" da verdade, do povo pobre, do futuro, do bom senso e, agora, do mundo, decidiu agora defender o fortalecimento do Estado, supostamente por ter aprendido a importância das políticas públicas para a melhoria da sociedade, através da Educação, Saúde, Infraestrutura etc. 

Balela: a conversão desta elite ao apoio do Estado é conversa para boi dormir e textão para lacrar a Internet. Na verdade, o "reconhecimento" da importância do Estado forte pela burguesia "democrática" é uma desculpa para essa elite ganhar mais dinheiro, recebendo generosas "gorjetas" do presidente Lula para, assim, usar as verbas estatais para as obrigações e deixar as riquezas, já abusivas e desmerecidas, para a diversão privada dessa aristocracia bronzeada.

Posando de "moderna", essa elite do bom atraso não consegue esconder seu conservadorismo, marcado por uma religiosidade medieval e por uma meritocracia social que seus bermudões, seus chapéus panamás, seus sapatênis, sandálias e suas camisetas de algodão fino não conseguem esconder.

Daí que, quando alguém pede socorro, essas versões "macetando" do amigo dedicado do conto de Oscar Wilde fecham a cara, mas para evitar a associação aos surtos bolsonaristas, controlam o mau humor e vão logo dizendo, com falsa benevolência: "Creia em Deus que você vai sair dessa". Quantas omissões de socorro não são dissimuladas por frases tão falsamente benevolentes?

Isso é um grande artifício não só para as pessoas bancarem as "boazinhas", como também é um meio dessa gente egoísta se esconder sob a capa da fé religiosa, endeusando pretensos filantropos, mesmo quando nem eles sequer ajudaram o próximo, mas servem de "símbolos" daquilo que os mãos-de-vaca de plantão não desejariam fazer, mergulhados na satisfação de seus privilégios abusivos.

O aflito pode acumular as dívidas e ter problemas gravíssimos na Justiça. A "boa" sociedade é que não pode ficar sem sua viagem para Bariloche, sua festinha na laje. O jornalista sem emprego pode naufragar no lodo da amargura, enquanto o comediante que rouba seu emprego consegue enganar o recrutador falando que tem 45 anos de vida e "50 de jornalismo", com uma fingida seriedade que esconde que a "longa experiência" não passou de uma lorota, uma pegadinha para enganar o empregador.

O lulismo atual, infelizmente, virou um milharal a atrair os pombos e corvos que mal se recuperaram da digestão farta do grande banquete golpista servido por Sérgio Moro, Michel Temer e Jair Bolsonaro, e do qual essa "boa" sociedade comeu com muita gula e prazer, para depois reclamarem de barriga cheia do golpismo que nunca os incomodou de verdade. Agora esses hipócritas bancam os "progressistas" para não pagarem o ônus do golpismo. Mas como em toda farsa, a máscara não consegue se fixar para sempre e um dia cai.

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