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DEFESA DA MÚSICA POPULARESCA FICOU MAIS SELETIVA

GUSTTAVO LIMA E ZÉ NETO E CRISTIANO - Ídolos "sertanejos" que se desgastam devido a escândalos e posições reacionárias.

1999-2001. Neste período, a crítica especializada, indignada com o crescimento sem freio dos fenômenos popularescos que invadiam espaços que eram da MPB e do Rock Brasil, manifestava suas críticas enérgicas, estimulada pelos questionamentos trazidos por veteranos como Arnaldo Jabor e José Ramos Tinhorão, além do especialista em Bossa Nova, Ruy Castro. O jornalista do Estadão, Mauro Dias, chegou a definir o crescimento da música brega-popularesca como "massacre cultural sem precedentes".

Com a onda desses questionamentos, que inspiraram também gozações que refletiam até na MTV, através dos Piores Clipes do Mundo, o mercado da música popularesca começou a ruir, o que fez com que os empresários de entretenimento investissem num lobby que dura até hoje, com críticos musicais, acadêmicos e até mesmo antropólogos, sociólogos e cineastas passando o pano na mediocridade dos ídolos popularescos, herdeiros de uma linhagem inaugurada pelos ídolos cafonas do passado.

Em 1998, já houve a "MPB de mentirinha" através do truque feito pelas emissoras das Organizações Globo (Rede Globo, Multishow, GNT), que nos especiais sobre MPB ou sobre homenagens musicais - como comemoração da fundação da cidade de São Paulo, por exemplo - se enfiavam os ídolos do "sertanejo", da axé-music, do forró-brega e do "pagode romântico" entre os medalhões da MPB.

Esses ídolos popularescos, os neo-bregas, hoje se passam por "sofisticados" e a cosmética visual e técnica que obtiveram graças a uma boa estrutura empresarial os fez ter uma pretensa respeitabilidade, gozando de prestígio na alta sociedade e na imprensa cultural considerada "isenta", em que ter senso crítico torna-se pouco recomendável.

Eles gravaram covers de MPB que soaram forçados, sem conhecimento de causa e que só mostravam sua canastrice musical, hoje aceita à custa de muita passagem de pano. Chitãozinho & Xororó cantando "Disparada", por exemplo, é uma amostra desse ridículo, pois a dupla, proprietária de uma grande fazenda, não tem a mínima ideia de como o tema da música de Geraldo Vandré vai contra justamente a classe dos grandes proprietários de terras, aliados e patrocinadores da carreira dos dois paranaenses.

Para neutralizar as críticas à música popularesca que eclodiram no fim dos anos 1990, o lobby armado em defesa do brega-popularesco se ancorou na falácia do "combate ao preconceito" - descrita no meu seminal livro Esses Intelectuais Pertinentes... - conseguiu convencer as pessoas através dessa propaganda vitimista e a música popularesca seguiu tranquila no seu crescimento, para o bem de seu empresariado a enriquecer nesse faz-de-conta da mediocridade musical gourmetizada.

Mas, como lembrou Raul Seixas junto ao seu parceiro Marcelo Nova, o problema é muita estrela e pouca constelação. O mercado de ídolos popularescos incha e não dá para acolher todo mundo. A gourmetização que faz de Michael Sullivan o "Tom Jobim" desse viralatismo cultural enrustido teve que expulsar a MPB de seus próprios espaços, pondo no lugar os bregas mais antigos, dos anos 1990 para trás.

E o popularesco, como um todo? Não tem lugar para todo mundo. Como a campanha do "combate ao preconceito" desmobilizou as classes populares - que, tratadas de maneira infantilizada, foram "brincar" de trenzinho no "funk", entre outras barbaridades consumistas - e abriu caminho para o golpe de 2016 e para Jair Bolsonaro, agora a coisa tem que ser seletiva, principalmente em relação ao "sertanejo", dando fim aos tempos em que gente como Pedro Alexandre Sanches perguntava se esse gênero poderia simbolizar uma "reforma agrária na MPB".

Com Bolsonaro, vários ídolos deixaram cair a máscara, a partir de Zezé di Camargo & Luciano. Até mesmo um genérico do Odair José, o cantor Amado Batista, virou "vidraça" por conta do seu apoio a Bolsonaro. Nomes como Leonardo, Latino, Netinho (axé-music), Belo, Wesley Safadão, Nego do Borel, e boa parte do "sertanejo universitário" passaram a ser malvistos por setores influentes da chamada opinião pública, devido ao vínculo com o reacionário governante.

E isso chega a níveis como os que vemos agora, com Zé Neto, da dupla Zé Neto & Cristiano, implicando com uma tatuagem íntima da cantora Anitta, e Gusttavo Lima sendo financiado com dinheiro que seria para Educação e Saúde públicas, em várias prefeituras no interior do país.

Tinha que haver uma seletividade, já que não cabe todo mundo nessa chuva de flanelas infinitamente maior do que a recente chuva de meteoros que foi aquém das expectativas. E dentro da decadência do governo Bolsonaro, o fenômeno Lula precisa criar um novo imaginário culturalista para sepultar os símbolos do bolsonarismo, e aí, no plano musical, entram funqueiros, "pagodeiros" tipo Péricles e ídolos como Odair José.

É necessário agora, para o establishment de intelectuais, jornalistas, cineastas e famosos, atuar de forma mais seletiva no acolhimento da música brega-popularesca, principalmente para evitar que a ciranda financeira caia sobre músicos abertamente reacionários, neste duelo entre o legado da Lei Rouanet (agora com derivados chamados Lei Paulo Gustavo e Lei Aldir Blanc) e os financiamentos de prefeituras coronelistas do interior.

Dessa forma, vemos que o comercialismo da bregalização musical, estimulado pelo discurso do "combate ao preconceito" de anos atrás, cresceu tanto que não tem lugar para todo mundo. O mercado inchou e é hora de descartar alguns nomes mais problemáticos, aproveitando o vínculo com uma figura política decadente que é Jair Bolsonaro. É a alma do negócio, estúpido!!!!

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