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DOIS NOVOS EQUÍVOCOS DE LULA E UM ANTIGO


Com exclusividade, este blogue faz críticas a Lula sem soar como um antipetismo doentio e mentiroso. Criticamos Lula pelos erros que ele realmente comete, sem no entanto investirmos num discurso raivoso e cego. As críticas residem no terreno da objetividade e de análises que, em contrapartida, inexistem entre a grande parte da esquerda midiática, que deixou a objetividade de lado.

Lula comete erros diversos, desde que passou a admitir, apenas da boca para fora, que o Brasil está numa situação degradante, prometendo reconstruir o país não com o espírito cauteloso diante de um cenário distópico, mas com um clima de festa, como se Lula prometesse não recuperar o nosso país, mas construir um misto de Suécia com Mônaco.

Esses erros o põem em situação desconfortável, como ter ido à praia com sua esposa Rosângela da Silva, a Janja, no Ceará, meses atrás, que o coloca em posição incômoda para criticar os passeios de jet-ski e motocicleta de Jair Bolsonaro.

Da mesma forma, Lula também quer atropelar o processo eleitoral, querendo ganhar na marra o primeiro turno sob a desculpa de "recuperar a democracia". Só que Lula investe no processo antidemocrático de não querer enfrentar a Terceira Via nem ter a humildade necessária para confrontar suas ideias com as de seus rivais, por piores que estas pareçam ser.

Falta sutileza para Lula levar vantagem. Falta cautela, falta prudência, falta autocrítica. Ele poderia ser menos festivo nas suas promessas de recuperar o país, mais cauteloso nas alianças no sentido de só acolher quem se afinasse às suas ideias e aceitar enfrentar, pacientemente, os mais diversos rivais para assim poder se sobressair no debate de ideias.

Em vez disso, Lula cometeu erros diversos em sua pré-campanha, que este blogue com exclusividade alerta ao definir como a mais contraditória e equivocada das campanhas presidenciais. E isso com a ajuda de seguidores arrogantes e iludidos, com pressa em transformar o Brasil num paraíso.

Vejamos dois novos erros de Lula. Um deles corresponde a um comentário banal sobre os banqueiros, não bastasse a contradição do petista em querer atrair para si as elites conservadoras, para depois se recudar a negociar com as mesmas. 

Vejamos o que Lula disse, durante o evento de lançamento do livro Querido Lula: Cartas a um presidente na prisão (Boitempo Editorial), sobre as cartaz que o petista recebeu na prisão, que contou com a presença de famosos no Teatro Tuca, em Perdizes, aqui em São Paulo:

"Eles (os banqueiros) nunca me perguntaram se as pessoas tão com fome, passando dificuldade. Eles só perguntam: ‘e o teto fiscal? Vai manter ou não vai manter? E a dívida pública?’ Sabe o motivo? Eles só querem saber do dinheiro que vai reverter para eles. Eles não pensam nos recursos para o povo. Não é possível".

Isso é óbvio. Os banqueiros só querem saber de lucro. Lula comenta isso como se fosse uma "novidade", mas não é. Lula anda fazendo mais comentários e opiniões do que propostas, e ainda estabelece alianças que impedirão ele de realizar medidas como o fim do teto dos gastos públicos e da reforma trabalhista.

Lula anda sendo muito criticado, mesmo pela esquerda, pela falta de propostas concretas, pela falta de um programa de governo definido e pela falta de uma análise mais técnica dos problemas do país. E aí entra mais um erro de Lula, através desta frase, dada numa entrevista à Rádio Bandeirantes de Porto Alegre, cidade visitada por Lula em nova fase de sua campanha, onde participa hoje, com o vice Geraldo Alckmin, de um ato em defesa da soberania:

"ão estou pedindo cheque em branco porque eu tenho um legado. É só você pegar o que nós fizemos no Rio Grande do Sul que você vai perceber que eu não tenho que ficar fazendo promessa de coisa que eu não sei se vou conseguir fazer. Sou muito realista. Quando eu tomei posse em 2003, eu disse: se quando eu terminar meu mandato cada brasileiro estiver almoçando, jantando e tomando café, eu terei realizado a obra da minha vida. E nós conseguimos fazer isso".

Isso lembra muito um erro relativamente antigo, que Lula cometeu quando deu entrevista para a revista Time, nos EUA, que rendeu até capa com o petista: "Em vez de perguntar o que eu vou fazer, apenas olhe para o que eu fiz". A frase vem de um depoimento mais completo:

"Sou o único candidato com quem as pessoas não devem se preocupar, porque já fui presidente duas vezes. Não discutimos políticas econômicas antes de vencer as eleições. Primeiro, você tem de ganhar as eleições. Em vez de perguntar o que eu vou fazer, apenas olhe para o que eu fiz".

Essa declaração é a maior contradição de Lula, que fala tanto em futuro, em "olhar para a frente", em esquecer as rivalidades do passado e pensar na reconstrução do país e na recuperação da democracia. No entanto, Lula não quer mostrar o que pretende fazer, até porque cometeu o grave erro de entregar a elaboração de seu programa de governo para a frente ampla, nem sempre afinada com as ideias do petista.

Além do mais, fala-se em esquecer o passado das rivalidades com o vice, Geraldo Alckmin, agora um "aliado fiel" de Lula. E aqui vem uma pergunta muito difícil: será que a pergunta que Lula propõe também serve para o seu "amigo vice", com o qual o petista quer governar junto em constante parceria?

Será que vale, para Alckmin, a recomendação de que "em vez de perguntar o que será feito, deve-se olhar ao que se fez"? Esquema de desvio de verbas da merenda, repressão e destruição de Pinheirinho (bairro de São José dos Campos), corrupção na licitação de metrô e trem, violência policial contra protestos de trabalhadores e estudantes e descaso com os problemas que favoreceram o crescimento da Cracolândia e da população sem moradia aqui em São Paulo?

Infelizmente, Lula acabou colecionando uma série de erros e equívocos em sua campanha. Se não fosse a desinformação de seus seguidores apaixonados, da mesma forma que seu sentimentalismo, Lula estaria sob risco iminente de uma grande derrota. Mas mesmo se ele vencer as eleições seu governo corre o risco de ser um grande desastre, diante do quadro de alianças que, em janeiro de 2023, irá fazer cobranças que prejudicarão seriamente o projeto petista. É esperar para ver.

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