Depois da tragédia dos assassinatos de Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira, outro episódio desgasta o cenário político dominado pelo presidente Jair Bolsonaro. Desta vez é a prisão do ex-ministro da Educação do atual presidente, Milton Ribeiro, e dos pastores neopentecostais Arilton Moura e Gilmar Santos, acusados de desviar dinheiro do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação para favorecer aliados políticos e instituições neopentecostais com propinas e tráfico de influência.
Moura e Santos não tinham funções públicas nem cargos de confiança, mas agiam junto a Ribeiro no esquema de corrupção, ainda em processo de investigação. Ribeiro, também pastor, ligado à Igreja Prebisteriana, foi ministro da pasta entre 10 de julho de 2020 e 28 de março de 2022. Os dois pastores são ligados à Assembleia de Deus Cristo para Todos.
Ribeiro era blindado por Bolsonaro, que afirmou certa vez que "botava a cabeça no fogo pelo ministro". A escolha do ministro foi indicação da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e Ribeiro tinha as mesmas bandeiras ultraconservadoras já conhecidas, inclusive homofobia e tudo o mais.
A prisão causou impacto no governo Bolsonaro, num contexto em que o Brasil esteve em polvorosa. Em Santa Catarina, reduto bolsonarista, a juíza do Tribunal de Justiça estadual, Joana Ribeiro Zimmer - sem parentesco com o ministro preso - , lotada em Tijucas, na Grande Florianópolis, e fazendo Doutorado em Direito na UFSC com especialidade em infância, foi promovida depois que recusou-se a fazer aborto legal de uma menina de 11 anos que estava em 22ª semana de gravidez depois que foi estuprada.
Embora a promoção tenha sido feita por "merecimento", Joana agiu contra a lei, pois a Constituição de 1988 permite que condições específicas autorizem o aborto. No caso da menina de 11 anos, além da experiência traumatizante do estupro, é sua formação corporal prematura, que, quando enfrenta uma gravidez, pode representar risco de morte à gestante precoce, cuja estrutura física não suporta aguentar o peso de um bebê.
O Ministério Público Federal recomendou que a Justiça catarinense autorize o aborto da menina. O Conselho Nacional de Justiça recebeu quatro denúncias contra a juíza, que pode ser afastada do cargo. Em contrapartida, o filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, elogiou a decisão que impediu o aborto da gestante mirim.
Houve procurador-geral espancando a colega em Registro, no Sul de São Paulo, homem que, num bar de São Vicente, jogou uma cadeira sobre uma mulher que havia beijado a namorada, num evidente ataque homofóbico, e um homem armado com faca atacou e matou três passageiros em um ônibus de Piracicaba. Isso são só os fatos principais.
Será que a prisão de Milton Ribeiro e dos seus parceiros pastores é o ocaso do Bolsonarismo? Pode causar impacto, mas até que ponto Bolsonaro consegue resistir a mais um desgaste, como um "tardígrado" político? Num país com explosões de violência reacionária, aqui e ali, estamos longe de atingir o paraíso do "Brasil-Instagram" que considera um Lula domesticado e virado mascote do neoliberalismo num "salvador da Pátria".
A grande preocupação é se o país piorar de vez, com tantos atos reacionários desta natureza, com as convulsões sociais extremas que só podem aumentar no caso de Lula sair vencedor, o que irá irritar os bolsonaristas que nunca se acham derrotados. Daí que Lula não ser pacificador que muita gente diz, indiferente ao antipetismo que continua firme fora das bolhas esquerdistas.
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