Ontem o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo negou o pedido do ex-juiz Sérgio Moro de mudança, dele e de sua esposa Rosângela Moro, de domicílio eleitoral do Paraná para São Paulo, devido ao indício de irregularidades na iniciativa do casal. Com isso, Sérgio Moro, mesmo que ainda quisesse concorrer a um cargo político, está proibido de exercê-lo.
Correto. Sérgio Moro, desde que atuou como juiz do caso Banestado, cometeu abusos e irregularidades cujo destaque foi uma atuação seletiva que beneficiou o tucanato e a mídia corporativa, agindo muitas vezes ao arrepio da Lei e do Direito e se enriquecendo por conta de sua carreira e do seu prestígio, junto a parceiros como o procurador Deltan Dallagnol.
No entanto, por ironia do destino, Lula, que havia sido vítima de acusações infundadas e de pretensas investigações plantadas em falsas denúncias e nenhuma prova de corrupção, agora sentou-se no colo dos golpistas de 2016, os mesmos que montaram seu camarote político na farra impulsionada pela Operação Lava Jato.
Ver Lula agora falando numa frente ampla demais, se aliando com os golpistas de 2016 que, entre outras coisas, promoveram a privataria, a reforma trabalhista, o teto de gastos e a reforma previdenciária, é constrangedor.
Mas o mais assustador é que Lula, agora, recorre aos mesmos artifícios do ex-juiz que o condenou à prisão e quase foi seu rival na corrida presidencial. Atropelando toda uma logística de campanha presidencial, que obrigaria Lula a aceitar enfrentar a Terceira Via, o petista prefere transformar o primeiro turno eleitoral num arremedo de segundo turno, com ele e Jair Bolsonaro polarizando e os demais concorrentes reduzidos a figurantes.
Ver os lulistas atuando como os valentões da escola, humilhando e depreciando concorrentes antes da corrida presidencial, no objetivo de fazê-los desistir da competição, é ainda mais humilhante e mostra o quanto Lula agora adota o mesmo pretexto de "excepcionalidade" de Sérgio Moro na Operação Lava Jato.
A "excepcionalidade" agora é o tal "movimento de recuperação da democracia e reconstrução do Brasil", que se torna muito estranha na medida em que Lula prioriza alianças com forças divergentes de seu projeto político, sob a desculpa de estabelecer um "diálogo democrático", mesmo sob o preço de sacrificar pautas muito caras à causa progressista.
É triste ver Lula neste papel, ficando no colo dos neoliberais que, quatro anos atrás, vibraram com sua prisão. É lamentável ver o petista perdido entre revogar reforma trabalhista e teto de gastos públicos e depois dizer que apenas irá alterá-los.
A notícia de ontem sobre Lula é que ele, ao ver que seu favoritismo celebrado por supostas pesquisas eleitorais se estabilizou, supostamente consagrando o petista junto ao eleitorado popular, decidiu que abrirá sua agenda política para receber empresários e banqueiros.
A decisão vem depois da apresentação de um esboço de um programa de governo elaborado em conjunto com os demais partidos que, com o PT, formam a chapa eleitoral, incluindo a colaboração do candidato à Vice-Presidência da República, Geraldo Alckmin.
O esboço incluiu propostas aparentemente voltadas à esquerda, como a revogação da reforma trabalhista e do teto de gastos, o empenho para cancelar as futuras privatizações (como Eletrobras e Petrobras) e promessas de uma atuação mais forte do Estado no atendimento ao interesse público.
No entanto, esse programa ainda depende de uma aprovação conjunta dos partidos envolvidos e também de uma condensação de conteúdo. E o risco pior é quando o programa for apresentado para o empresariado e o setor financeiro, assim que Lula entrar em contato com estas elites. Aí é que vamos ver como passará o projeto progressista do PT por meio do filtro neoliberal de seus novos aliados.
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