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LULA NÃO GRAVA REUNIÃO COM EMPRESÁRIOS. POR QUE SERÁ?

LULA É MAIS CONSERVADOR DO QUE MUITOS IMAGINAM.

A decepção que este blogueiro que lhes escreve sente por Lula é profunda e definitiva. Como eu costumo juntar peças soltas de quebra-cabeças, afinal esta é a função de um jornalista que apura fatos, vejo o quanto Lula se tornou conservador e sepultou de vez o antigo líder sindical, num caminho sem volta.

Daí que não acredito nesse papo de "ou Lula ou nada", até porque isso é conversa mole de uma classe média que nunca se sentiu incomodada por Michel Temer e Jair Bolsonaro. Alegam seus indivíduos que não suportam mais Bolsonaro um dia no poder, mas nunca lutaram para tirá-lo do poder ou mesmo de evitar que ele fosse eleito. Mas diremos isso com mais detalhes depois.

O que falamos aqui é que Lula se tornou pior do que um candidato de Terceira Via, seja qual for. E por que essa constatação? É porque Lula, inicialmente, encheu os corações e mentes dos brasileiros com mil expectativas, com promessas mirabolantes que até são bem intencionadas, mas não medem contextos nem obstáculos que a realidade distópica do Brasil impôs.

Querendo fazer o "governo de todos os sonhos", Lula no entanto está recuando aos poucos de suas propostas mais ousadas. Deixou de lado o aborto e a regulação da mídia, e tudo indica que Lula substituirá a revogação da reforma trabalhista e do teto de gastos públicos pela revisão da primeira e pela reformulação dos últimos.

As privatizações mais desejadas do governo Bolsonaro começam a ocorrer. A Eletrobras hoje é empresa pivada. A Petrobras, ou o que restou dela, segue o mesmo caminho. Lula não tem o temperamento de Brizola para reverter privatizações, e, além do mais, Geraldo Alckmin não irá deixar e, havendo apenas a flexibilização de teto de gastos, com que dinheiro Lula vai comprar ações das estatais privatizadas? Da iniciativa privada?

Daí que é mais honrado um nome da Terceira Via começar medíocre e surpreender com algumas melhorias positivas do que ver Lula cheio de promessas maravilhosas que vão se perdendo no caminho, como areia de um caminhão com a caçamba furada.

Em outras palavras, alguém que não promete nem parece fazer grandes realizações pode de repente fazer mais do mesmo, porém em algum momento pode adotar uma atitude admirável e surpreender com esse ponto positivo. Acaba ganhando algum ponto positivo nessa. E Lula, prometendo coisas das mais brilhantes, ser forçado a desistir delas pela pressão dos atuais aliados das forças divergentes vai causar mais vergonha e constrangimento do que qualquer terceiro-viável supostamente sem carisma.

Lula vai pagar a conta de ter se aliado com forças divergentes. Isso é tão certo quanto o nascer do Sol. Nenhum empresário vai estar realmente encantado porque Lula defende o fortalecimento do Estado e a taxação dos ricos porque "é crucial para o progresso do povo brasileiro". Eles ficam quietos, fingem que aplaudem, mas em dado momento seus corações neoliberais vão lhes fazer saltar da cadeira e gritar: "reestatizar empresas privatizadas, isso não!".

O mais insólito disso tudo é que Lula não tem suas reuniões com o empresariado gravadas. Isso é muito estranho. Afinal, com que acordos Lula estabelece com as elites para que elas o ajudem a ser eleito? Será tudo tão simples, o empresariado doando dinheiro para Lula e o PT "combaterem a fome" e sorrindo quando o petista fala que não vai deixar a Petrobras ser privatizada?

São contradições grandes demais para que se aceite a falácia do "é Lula ou nada". Infelizmente, a maioria dos críticos da guinada neoliberal de Lula, mesmo assim, não rompem com ele e acreditam na fantasia de que o antigo Lulão dos sindicatos retornará pleno em algum momento do governo, por iniciativa de alguma iluminação divina.

Na prática, porém, o Lulão dos sindicatos não volta mais. Lula assumiu compromissos fortes com o empresariado que renderão dívidas políticas intensas e irreversíveis. Isso significa que as propostas originalmente progressistas de Lula serão sacrificadas, e restará a ele apenas cuidar de seus projetos de grife, como Bolsa Família, Fome Zero, Mais Médicos, Cotas Universitárias, Minha Casa Minha Vida.

Quanto a medidas como cancelar a privatização da Eletrobras e realizar cobranças de impostos para os mais ricos, é bom desistir. Temas assim contam com o repúdio dos atuais aliados de Lula, os que divergem de seu projeto político, uma vez que Lula está agora ligado aos apóstolos do Estado Mínimo e do rentismo que se intensificou durante os anos golpistas pós-2016 e a tragédia da pandemia.

As elites podem até aplaudir Lula quando ele fala que não vai tomar fábricas e que vai promover o desenvolvimento econômico através do reajuste fiscal, do estímulo ao consumo e do incentivo à indústria e ao setor financeiro. Mas nunca iriam aceitar que Lula tire a Eletrobras da iniciativa privada, mesmo que seja para levar luz a regiões distantes e pobres do nosso país. Temos que nos lembrar que os neoliberais não são progressistas e a burguesia nacional não é de esquerda.

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