Com muita exclusividade, nosso blogue está publicando críticas severas a Lula de maneira que faz com que muita gente evite ler algumas postagens, com medo da realidade. Acham que um menor distanciamento à suposta necessidade de Lula ser eleito presidente seria uma forma de compactuar com Jair Bolsonaro.
Não, não é. Aliás, é hipocrisia dessa "classe média de Oslo", que nunca sofreu de verdade na vida, vivendo na doce vida da memecracia desde a derrubada de Dilma Rousseff. Essa despreocupação é tanta que ninguém lutou, de verdade, pelo "Fora Temer" ou pelo "Fora Bolsonaro". Até mesmo a suposta revolta com desmatamento na Amazônia, incêndios no Museu Nacional e na Cinemateca e os assassinatos de Marielle Franco, Dom Phillips e Bruno Pereira, eram mais para fazer lacração.
Daí que não levo a sério essa de que "só tem que ser Lula" nessas eleições presidenciais que mais parecem ereções, dentro do clima de "já ganhou" que fez os lulistas crescerem mais pelo salto alto do que por algum tipo de grandeza pessoal.
Quem fica bancando um bando de valentões esculhambando os concorrentes de Lula na corrida ao Planalto só merece uns pêsames. Por pior que seja a Terceira Via, por piores que fossem os nanicos da corrida presidencial, eles merecem respeito. Lula teria que enfrentá-los com humildade e consideração, se fosse realmente um estrategista, e aceitasse cada passo do rito legal para conquistar o Palácio do Planalto.
Ver que Lula não está agindo assim é lamentável, constrangedor e muito, muito triste. E Lula se distanciou definitivamente de suas raízes populares. Quando muito, Lula às vezes atua como um arremedo, quase uma paródia do antigo sindicalista que foi e do qual não resta mais do que uma lembrança afetiva dos seus seguidores. Nem o saudoso Bussunda chegaria a tanto.
Recentemente, Lula recebeu uma doação de mais de R$ 2 milhões do empresariado, em reunião recente em São Paulo. Essa reunião, com empresários e advogados aplaudindo o candidato petista, desmitificou um artigo que o Brasil 247 - um portal antes admirável que ultimamente se tornou panfletário, merecendo ser chamado de "Lula 247" - havia publicado, alegando que "oligarcas e rentistas brasileiros criticam plano de governo de Lula e Alckmin".
Me lembro de um antigo ramo da Matemática, que aprendi no primeiro grau (ensino fundamental), que é a Teoria dos Conjuntos, e um dos cálculos era a Interseção, que buscava qual o elemento comum entre dois conjuntos diferentes. E aí vejo nas duas matérias do 247 um nome em comum. Vejamos:
A matéria sobre os "oligarcas" citou os seguintes indivíduos: Pedro Passos (acionista da Natura), Ricardo Lacerda (presidente e fundador do banco de investimentos BR Partners) e Bernardo Parnes (sócio-fundador da assessoria financeira Investment One Partners). Ao que parece, três executivos, que não são necessariamente "oligarcas", embora fossem realmente da elite rentista.
Já a matéria sobre os "empresários que aplaudem Lula", vejamos os nomes: Beto Sicupira (sócio da AB Inbev, dona da Ambev), Fábio Barbosa (presidente da Natura), Frederico Trajano (CEO do Magalu), Horácio Lafer Piva (integrante do Conselho de Administração do grupo Klabin), Pedro Moreira Salles (presidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco), Pedro Passos (cofundador da Natura) e Sérgio Rial (CEO do Santander).
Opa, opa, opa! Nos dois textos, um crítico e outro elogioso do "Lula 247", nota-se um nome em comum: Pedro Passos, da Natura, por sinal um apoiador de Simone Tebet mas que estava na reunião com Lula.
Já é insólito que uma reunião de empresários com a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, tivesse ocorrido na casa do dono da Esfera Brasil, João Camargo, que, como um dos donos da suposta rádio rock 89 FM, contribuiu para a formação cultural do "roqueiro de direita". E a Faria Lima, ao que parece, é apenas apoiadora formal de Simone Tebet, pois, diante de um Lula domesticado que temos hoje, o que se vê é que o petista, agora agarrado a Geraldo Alckmin, é que virou o candidato dos bilionários.
Sim. Lula é o candidato dos bilionários, da Faria Lima. E isso faz uma diferença bastante negativa. Dentro de um processo no qual a chapa agora se chama "Lula-Alckmin", com Geraldo Alckmin se comportando como um canastrão político bajulando sindicalistas e membros do MST, o petista abriu mão de sua liderança e de seu projeto político original, o que seus seguidores deveriam perceber com mais atenção.
A cegueira e a arrogância dos lulistas e até mesmo o "apoio crítico" do "voto útil" de Lula contra Bolsonaro desconhecem que o antigo sindicalista extinguiu seus últimos suspiros em 2021. Quando Lula prometeu "reconstruir o Brasil" com clima de festa e criando milhões de expectativas prometendo realizar "tudo de tudo", e enfatizou sua aliança com forças divergentes ao seu projeto político, isso sepultou de vez o antigo líder sindical que mereceu meu voto até 2020.
O projeto progressista está sendo sacrificado e descartado um a um. De tal forma que a parte técnica de um possível novo governo Lula será de responsabilidade exclusiva de Geraldo Alckmin, já que Lula cuidará apenas dos projetos de grife: Bolsa Família, Fome Zero, Mais Médicos, Minha Casa Minha Vida, Cotas para Universidades. Nada muito revolucionário, dentro de um projeto político que se demonstra ser mais neoliberal do que a encomenda da Faria Lima.
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