Pular para o conteúdo principal

TRAGÉDIA DE DOM PHILLIPS E BRUNO PEREIRA MOSTRAM QUE O BRASIL NÃO ESTÁ BEM


Infelizmente, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips estão mortos. São mais duas vítimas das represálias que o poder sem lei do Norte do Brasil, neste caso relacionado ao garimpo, à pesca predatória e o desmatamento ilegal que não obstante resolvem também invadir áreas indígenas, prejudicando a vida dos povos remanescentes das antigas tribos que viveram no Brasil.

Bruno Pereira era o mais visado. Ele era um dos mais conceituados indígenas dos últimos tempos, e era funcionário licenciado da FUNAI. Ele sofreu ameaças de morte há muito tempo, porque combatia garimpeiros, traficantes de drogas e pescadores que prejudicavam a região do Vale do Javari, onde há uma reserva com várias tribos indígenas. Como Dom Phillips acompanhava Bruno na reportagem sobre a situação, ele acabou sendo morto.

Dois suspeitos foram presos, Amarildo da Costa Oliveira, o "Pelado", e seu irmão Oseney da Costa Oliveira. Há um terceiro suspeito com mandado de prisão. Há outros dois suspeitos em investigação, que segue em segredo de Justiça, com uma hipótese de haver algum mandante entre o total de cinco suspeitos. Também não foi divulgada a motivação exata do crime.

Dois "remanescentes humanos" foram encontrados no interior do Amazonas, a cerca de três quilômetros de onde foram encontrados pertences pessoais: de Bruno, um cartão de saúde, um par de chinelos, um par de botas e uma calça preta. De Dom, uma mochila com roupas pessoais e um par de botas. Amarildo confessou ter matado, com a ajuda de Oseney, o jornalista e o indigenista, e teria queimado os corpos. Amarildo e Bruno já haviam se desentendido antes.

Os dois restos mortais, supostamente dos dois, foram levados para Brasília para perícia onde hoje começam a ser analisados através do exame de DNA pelo Instituto Nacional de Criminalística, do Setor Policial Sul. Os caixões com os respectivos restos mortais foram levados por uma aeronave da Polícia Federal que chegou na capital federal ontem, às 18h34.

O caso repercutiu no mundo inteiro. Dom Phillips era não só um jornalista dedicado, como era também um pesquisador de música eletrônica e, quando esteve em Salvador, na Bahia, deu aula de inglês numa comunidade carente no subúrbio ferroviário.

A situação no Brasil não está bem. O interior é uma terra sem lei, um "faroeste brasileiro" que faz com que estas áreas permaneçam atrasadas, tamanho o poder abusivo de vários grupos, desde latifundiários a traficantes de drogas, passando por exploradores ilegais de madeira, pedras preciosas e pesca. Quem se encoraja a denunciar esses abusos corre o risco de ser morto.

É triste ver o Brasil-Instagram indiferente aos dramas humanos, preso na positividade tóxica que fez uma atriz da Rede Globo recorrer a um "médium" charlatão e reaça e sua mensagem sobre "espalhar alegria", pouco depois da mesma estrela ter postado um protesto contra a morte de Kathlen Romeu, em Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro. Não seria bonito espalhar "sinal de alegria" para famílias enlutadas, não é mesmo?

Nesse antro de mediocridade cultural e deslumbramento político, no qual Lula se torna um pseudo-fenômeno ao trair sua essência original compactuando com os golpistas de 2016, o Brasil da ilusão entra em choque com a realidade dramática e triste, vista na Cracolândia, nas favelas cariocas, nos morros de Petrópolis e Recife, em Atalaia do Norte e no Vale do Javari, e por aí vai.

Na região do acima citado "médium" - cujos 20 anos de morte, no fim deste mês, renderão desmerecidas exaltações à sua fraudulenta figura - , o Triângulo Mineiro, Lula fez um discurso em Uberlândia, numa rápida aparição. Afinal, poucos admitem, mas o Triângulo Mineiro, sobretudo Uberaba e Uberlândia, são fortes redutos bolsonaristas em Minas Gerais, a ponto de um drone, antes do discurso de Lula, ter jogado fezes e urina como advertência.

É verdade que Jair Bolsonaro, com seu pouco empenho em relação ao caso de Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira, esteja se desgastando completamente e aparentemente esteja sucumbindo ao isolamento político, temperado com brigas entre seus filhos Carlos e Flávio. Mas Bolsonaro não está politicamente morto e ele nunca demonstrou que estava definitivamente derrotado.

Seria necessário, sim, uma vigilância e uma agilidade das instituições para evitar brechas para a volta por cima de Jair Bolsonaro. Mas, independente dele ser o maior perigo, a verdade é que sua ascensão se deu pela decadência de valores estruturais na sociedade brasileira, que envolvem cicatrizes ainda permanentes desde a ditadura militar, fruto de valores culturais ao mesmo tempo populistas e reacionários, que incluem do coronelismo à bregalização da cultura popular, que ganharam até mesmo a complacência ou mesmo o apoio das esquerdas no Brasil.

Foi esse "eterno verão" do tal "combate ao preconceito" - abordado pelo meu audacioso livro Esses Intelectuais Pertinentes... - que criou condições para a ascensão de Jair Bolsonaro, como um efeito inesperado por parte das esquerdas festivas que achava que a bregalização e o mito da "pobreza linda" (a miséria como "estilo de vida" e não como problema) iriam trazer a Revolução Bolivariana no território brasileiro.

Grande engano. A bregalização, defendida e até gourmetizada pela retórica do "fim do preconceito", só fez o povo pobre abandonar o ativismo político, preferindo rebolar o "funk", o tecnobrega e similares, enquanto o poder coronelista se mantinha forte, assim como outras forças criminosas que no Brasil são capazes de matar Marielle Franco, Dom Phillips e Bruno Pereira. A "diversão feliz" da música popularesca abafa o barulho das espingardas, metralhadoras e revólveres que dizimam camponeses, negros, índios e pobres em geral.

Temos que ver que o Brasil não atingiu o paraíso. E o próprio Lula caiu na armadilha de prometer reconstruir o país em clima de festa. Não dá para ter esse clima, e a "felicidade" tão prometida para os brasileiros ainda demorará a vir, pois os sorrisos dos esquerdistas infantilizados e seus adeptos da "onda Lula" se atropelam com a dor daqueles que não vivem a doce vida do Brasil-Instagram. Devemos perceber que o Brasil não está bem e ver a realidade do nosso país exige cautela e realismo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

A PRISÃO DE MC POZE E O VELHO VITIMISMO DO “FUNK”

A prisão do funqueiro e um dos precursores do trap brasileiro, o carioca MC Poze do Rodo, na madrugada de ontem no Rio de Janeiro, reativou mais uma vez o discurso vitimista que o “funk” utiliza para se promover. O funqueiro, cujo nome de batismo é Marlon Brandon Coelho Couto Silva, e que já deixou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes para ir a um presídio no bairro carioca de Benfica, tem entre o público da Geração Z e das esquerdas identitárias a reputação que Renato Russo teve entre o público de rock dos anos 1980, embora o MC não tenha 0,000001% do talento, pois se envolve em um ritmo marcado pela mais profunda precarização artístico-cultural. No entanto, MC Poze do Rodo foi detido por acusações de apologia ao crime organizado, ao porte ilegal de armas e à violência. Em várias vezes, Poze aparecia com armas nas fotos das redes sociais, o que poderia sugerir um funqueiro bolsonarista em potencial. A polícia do Rio de Janeiro enviou o seguinte comunicado:: “De acordo com as inves...

LÉO LINS E A DECADÊNCIA DE HUMORISTAS E INFLUENCIADORES

LÉO LINS, CONDENADO A OITO ANOS DE PRISÃO E MULTA DE MAIS DE R$ 300 MIL POR CONTA DE PIADAS OFENSIVAS. Na semana passada, a Justiça Federal, através da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou o humorista Léo Lins a oito anos de prisão, três deles em regime inicialmente fechado, e multa no valor de R$ 306 mil por fazer piadas ofensivas contra grupos minoritários.  Só para sentir a gravidade do caso, uma das piadas sugere uma sutil apologia ao feminicídio: "Feminista boa é feminista calada. Ou morta". Em outra piada machista, Léo disse: "Às vezes, a mulher só entende no tapa. E se não entender, é porque apanhou pouco". Léo também fez piadas agredindo negros, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com HIV, indígenas, evangélicos, pessoas com deficiência, obesos e nordestinos, entre outros. O vídeo que inspirou a elaboração da sentença foi o espetáculo Perturbador, um vídeo gravado em 2022 no qual Léo faz uma série de comentários ofensivos. Os defensores de Léo dizem qu...

O ATRASO CULTURAL OCULTO DA GERAÇÃO Z

Fico pasmo quando leio pessoas passando pano no culturalismo pós-1989, em maioria confuso e extremamente pragmático, como se alguém pudesse ver uma espessa cabeleira em uma casca de um ovo. Não me considero careta e, apesar dos meus 54 anos de idade, prefiro ir a um Lollapalooza do que a um baile de gala. Tenho uma bagagem cultural maior do que mimha idade sugere, pelas visões de mundo que tenho, até parece que sou um cidadão mediano de 66 anos. Mas minha jovialidade, por incrível que pareça, está mais para um rapazinho de 26 anos. Dito isso, me preocupa a existência de ídolos musicais confusos, que atiram para todos os lados, entre um roquinho mais pop e um som dançante mais eroticamente provocativo, e no meio do caminho entre guitarras elétricas e sintetizadores, há momentos pretensamente acústicos. Nem preciso dizer nomes, mas a atual cena pop é confusa, pois é feita por uma geração que ouviu ao mesmo tempo Madonna e AC/DC, Britney Spears e Nirvana, Backstreet Boys e Soundgarden. Da...

ELITE DO BOM ATRASO PIROU NAS REDES SOCIAIS

A BURGUESIA DE CHINELOS NÃO QUER OUTRO CANDIDATO EM 2026. SÓ QUER LULA. A elite do bom atraso, a “frente ampla” social que vai do “pobre de novela” - tipo que explicaremos em outra postagem - ao famoso muito rico, mas que inclui também a pequena burguesia e a parcela “legal” da alta burguesia, enlouqueceu nas redes sociais, exaltando o medíocre governo Lula e somente desejando ele para a Presidência da República na próxima eleição. Preso a estereótipos que deixaram de fazer sentido na realidade, como governar para os pobres e deixar a classe média abastada em segundo plano, Lula na prática expressa um peleguismo que é facilmente reconhecido por proletários, camponeses, sem-teto e servidores públicos, que veem o quanto o presidente “quer, mas não quer muito” trabalhar para o bem-estar dos brasileiros. Lula tem como o maior de seus inúmeros erros o de tratar a reconstrução do Brasil como se fosse uma festa. Esse problema, é claro, não é percebido pela delirante elite do bom atraso que, h...

GOVERNO LULA AGRAVA SUA CRISE

INDICADO POR LULA PARA O BANCO CENTRAL, GABRIEL GALÍPOLO PREFERIU MANTER OS JUROS ALTOS "POR MUITO TEMPO". Enquanto o governo Lula limita gastos mensais com universidades federais, a farra das ONGs nas ditas “emendas parlamentares” é de R$ 274 milhões. Na viagem para a China, Lula é acusado de gastar café com valor equivalente a R$ 56 e de conprar um terno no valor equivalente a R$ 850. Quanto às universidades públicas, a renomada Academia Brasileira de Ciências acusa o governo Lula de desmontar as instituições de ensino superior público através desses cortes financeiros. Lulistas blindam Janja quando ela quebrou o protocolo da conversa entre o marido e o presidente chinês Xi Jinping, para falar de sua preocupação com o Tik Tok. Em compensação, Lula não cumpriu a promessa de implantar o Plano Nacional de Transição Energética, que iria tirar o Brasil da dependência de combustível fóssil. Mas o presidente ainda quer devastar a Amazônia Equatorial para extrair mais petróleo. Lul...

QUANDO A CAPRICHO QUER PARECER A ROCK BRIGADE

Até se admite que o departamento de Jornalismo das rádios comerciais ditas “de rock” é esforçado e tenta mostrar serviço. Mas nem de longe isso pode representar um diferencial para as tais “rádios rock”, por mais que haja alguma competência no trabalho de seus repórteres. A gente vê o contraste que existe nessas rádios. Na programação diária, que ocupa a manhã, a tarde e o começo da noite, elas operam como rádios pop convencionais, por mais que a vinheta estilo “voz de sapo” tente coaxar a palavra “rock”. O repertório é hit-parade, com medalhões ou nomes comerciais, e nem de longe oferecem o básico para o público iniciante de rock. Para piorar, tem aquele papo furado de que as “rádios rock” não tocam só os “clássicos”, mas também as “novidades”. Papo puramente imbecil. É aquela coisa da padaria dizer que não vende somente salgados, mas também os doces. Que diferença isso faz? O endeusamento, ou mesmo as passagens de pano, da imprensa especializada às rádios comerciais “de rock” se deve...

A ILUSÃO DE QUERER PARECER O “MAIS LEGAL DO PLANETA”

Um dos legados do Brasil de Lula 3.0 está na felicidade tóxica de uma parcela de privilegiados. A obsessão de uns poucos bem-nascidos em parecer “gente legal”, em atrair apoio social, os faz até manipular a carteirada para cima e para baixo, entre um sentimento de orgulho aqui e uma falsa modéstia ali, sempre procurando mascarar a hipocrisia que não consegue se ocultar nas mentes dessas pessoas. Com a patrulha dos negacionistas factuais, “isentões” designados para promover o boicote ao pensamento crítico nas redes sociais, a “boa” sociedade que é a elite do bom atraso precisa parecer, aos olhos dos outros, as mais positivas possíveis, daí o esforço desesperado para criar um ambiente de conformidade e até de conformismo, sobretudo pela perigosa ilusão de acreditar que o futuro do Brasil será conduzido por um idoso de 80 anos. Quando ouvimos falar de períodos de supostas regeneração e glorificação do “povo brasileiro”, nos animamos no primeiro momento, achando que agora o Brasil será a n...

APOIO DAS ESQUERDAS AO "FUNK" ABRIU CAMINHO PARA O GOLPE DE 2016

MC POZE DO RODO, COM SEU CARRO LAMBORGHINI AVALIADO EM TRÊS MILHÕES DE REAIS. A choradeira das esquerdas médias diante da prisão de MC Poze do Rodo tenta reviver um hábito contraído há 20 anos, quando o esquerdismo passou a endossar o discurso fabricado pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo para "socializar" o "funk", um dos ritmos do comercialismo brega-popularesco que passou a blindar por uma elite de intelectuais sob inspiração do antigo IPES-IBAD, só que sob uma retórica "pós-tropicalista". A revolta contra a prisão do funqueiro e alegações clichês como "criminalização da cultura" e "realidade da favela" feita por parlamentares e jornalistas da mídia esquerdista se tornam bastante vergonhosas e, em muitos casos, descontextualizada com a real preocupação com as classes pobres da vida real, que em nenhum momento são representadas ou se identificam com o "funk" ou o trap. O "funk" e o trap apenas falam sobre o ...