A EXEMPLO DE LULA, O MOVIMENTO DOS SEM-TERRA SE VENDEU PARA O NEOLIBERALISMO.
O líder nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) e um dos principais coordenadores de campanha de Lula, João Paulo Rodrigues, cometeu um grande equívoco, ao defender que as esquerdas devam se aproximar dos músicos "sertanejos", que em maioria estão alinhados com o governo decadente de Jair Bolsonaro.
Considerando que João Paulo não está falando da velha e autêntica canção caipira, hoje em vias de extinção, mas de uma linhagem de ídolos comerciais, a exemplo de Chitãozinho & Xororó - que em 2018 não convenceram com seu apoio tendencioso a Fernando Haddad, no segundo turno - , que deturpou e arruinou com o cancioneiro rural brasileiro, através de fórmulas comerciais que emulam o country estadunidense e diluições hollywoodianas dos boleros e dos mariachis texano-mexicanos.
E isso é um grande erro, porque nem quando parte do "sertanejo" fingia ser de esquerda - como Zezé di Camargo & Luciano em 2005, que escondia seu voto em Ronaldo Caiado através do apoio tendencioso a Lula - , seus apoiadores defendiam o MST e a reforma agrária, preferindo posar de "esquerda" com certos limites, manifestando um apoio sutil ao coronelismo latifundiário que eventualmente financia pistoleiros para dizimar lideranças camponesas, sindicais e até religiosas-progressistas.
Mesmo o mais canastrão do esquerdismo de resultados, que capricha no seu teatrinho "socialista" desde 2002 visando ganhar de Lula umas generosas gorjetas para suas atividades culturais, não se atreveu a exaltar o MST nem a reforma agrária, preferindo o silêncio a respeito disso. Um Eugênio Arantes Raggi (ver Esses Intelectuais Pertinentes...) elogiando João Pedro Stédile? Nem nos sonhos mais dourados, caros leitores e leitoras!
Durante anos o MST fazia papel de vidraça de tal forma que os pseudo-esquerdistas de 2005-2007 evitavam exaltar o imaginário do camponês de esquerda. Até porque era evidente que o agronegócio e o latifúndio sempre financiaram os músicos "sertanejos" e ritmos do interior como o "forró eletrônico", a pisadinha, o tecnobrega, muitos ídolos bregas de raiz (como Waldick Soriano e Alípio Martins, só para citar dois exemplos) e outras tendências que animam as roças e sertões distantes do nosso litoral.
Não fazia sentido o teatrinho pseudo-esquerda forçar a barra em defender manifestantes camponeses que paralisavam rodovias, invadiam fazendas improdutivas e sabotavam máquinas agrícolas de propriedade de fazendeiros magnatas. Tudo isso tem limites, porque os chamados "coronéis" eram os financiadores de muito do "popular demais" blindado por uma parcela de intelectuais festivos que atuam como porta-vozes informais do poderio midiático.
Mas hoje temos um novo contexto, que é o de que o Partido dos Trabalhadores e o Movimento dos Sem-Terra terem suavizado seu discurso e seus atos, compactuando com o neoliberalismo a partir da aliança de Lula com seu antigo rival eleitoral de 2006, Geraldo Alckmin.
O líder do MST, João Paulo Rodrigues, embora tivesse dúvidas sobre se Alckmin realmente mudou, ele fala que o ex-tucano "tomou um banho de povo" e passou a "se preocupar mais com os temas populares". Stédile também disse que "Alckmin entrou para o nosso (do MST) time".
As próprias esquerdas acabaram ficando domesticadas, perdendo sua essência original, daí que o conselho de Rodrigues para uma aproximação aos ídolos "sertanejos" - essa caricatura de música caipira mais focada em Nashville e Dallas do que nas roças brasileiras - pode funcionar, mas aí haverá um "abraço de afogados", entre os esquerdistas domesticados e os caipiras deturpados. Se as esquerdas tivessem um mínimo de seriedade, evitariam essa aproximação sugerida pelo líder do MST.
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