LULA DANÇANDO A "SARRADINHA" COM JOVENS EM SALVADOR - NO BRASIL DISTÓPICO, SUA CAMPANHA CONTRADITÓRIA TEM A SORTE DE CONTAR COM UM APELO "POP" QUE ESTIMULA SEU FAVORITISMO.
Ontem, o presidente Jair Bolsonaro surtou, ao ser informado por seus aliados que até levantamentos do governo admitem o favoritismo de Lula na campanha presidencial. De início Bolsonaro caiu na risada, mas depois surtou e, nervoso, reafirmou ser "impossível" o extremo-direitista não ser reeleito e defendeu a causa da "auditoria" das urnas eletrônicas.
Certo. Jair Bolsonaro decai, mas é insólito que as esquerdas médias não tenham se empenhado em derrubar o presidente antes, tendo que deixar ele aumentar os preços dos combustíveis, reajuste que mexe na cadeia de produtos e serviços, que dependem de veículos diversos, de motos a caminhões, passando por automóveis e ônibus, para serem realizados.
Afinal, a situação surreal se reflete até em Lula, cujo favoritismo obsessivo ganhou tons de arrogância. Um exemplo disso é o tratamento que os lulistas dão à Terceira Via, que lembra muito as humilhações que os valentões da escola fazem contra os mais fracos.
Sou de esquerda, mas esse triunfalismo em torno de Lula me causa tristeza e constrangimento, vendo que o petista hoje virou um "ursinho de pelúcia" dos neoliberais, e sua campanha, em que pese o carisma do presidenciável entre os diversos segmentos populares, incluindo os jovens, e a memória do mito do antigo sindicalista, que virou coisa do passado mas reside no imaginário de seus seguidores e adeptos. Lula consegue se vender como um "ícone pop" e é isso que empolga os lulistas.
Apesar de todo esse imaginário popular sugerir que o "Lulão dos sindicatos" é que presidirá o país, transformando o Brasil numa Suécia num passe de mágica no prazo de apenas quatro anos, por trás de tudo isso há uma realidade cruel de que Lula não irá realizar tudo que promete, até porque ele está aliado a forças neoliberais, que divergem de seu projeto político, e o petista não tem a obstinação de um Leonel Brizola para impor agendas progressistas até para os sisudos magnatas da Faria Lima.
Um artigo publicado no UOL - é irônico que a mídia corporativa agora começa a produzir textos realistas, enquanto a mídia progressista trata Lula como um herói de contos de fadas - , o colunista José Luiz Portella escreveu um texto, disponível para assinantes, avisando que Lula, pela natureza de sua aproximação ao chamado "centro", não vai fazer o que diz em sua campanha.
Em outras palavras, podemos resumir o que Portella escreveu sobre Lula, para quem não quer pagar uma assinatura: Lula, por ser negociador e conciliador, tende a ceder de suas pautas progressistas, e sua aproximação ao "centro" irá comprometer muito do que ele promete, sacrificando justamente a parte progressista de seu programa de governo.
Taxação de ricos, cancelamento de privatizações, revogação da reforma trabalhista e do teto de gastos públicos. Tudo isso Lula promete, mas não vai cumprir. Ou, quando muito, criará artifícios que irão criar medidas de fachada.
Alguns exemplos. As estatais serão formalmente mantidas, mas haverá a PPP (parceria público-privada), na qual uma empresa privada atuará no setor correspondente da estatal. A reforma trabalhista será formalmente revogada, mas uma nova legislação irá aproveitar os pontos da lei anterior que agradem as elites empresariais. Já se fala em manutenção parcial do teto de gastos, para certos setores da Economia.
Quanto à taxação de ricos, Lula poderá criar um atenuante que livrasse os "super-ricos" da tributação, que é o envolvimento em ações filantrópicas, como se observa na Fundação Bradesco e na Fundação Roberto Marinho (pretexto para a sonegação fiscal dos irmãos donos da Rede Globo) e nos investimentos que a britânica Shell concede à cultura brasileira. Ou seja, se os empresários e banqueiros investirem no "social", ganham, ao menos, algum abatimento no Imposto de Renda.
Lula não tem condições de realizar todo o projeto progressista que faz a plateia petista e a mídia progressista cair em êxtase. Ele está comprometido com forças políticas divergentes do projeto político progressista. Nem Geraldo Alckmin com sua cara de paisagem diante da exposição de pautas ousadas do parceiro irá consentir com tais propostas.
Alguém em sã consciência vai achar que o tucanato histórico, convidado a dar um apoio informal a Lula enquanto apoia oficialmente a emedebista Simone Tebet - a ser lançada candidata à Presidência da República hoje - , tradicionalmente privatista e defensor do Estado Mínimo, irá aceitar que o petista implante em sua agenda um Estado forte e mantenha estatizadas a Eletrobras, a Petrobras e os Correios?
Não. Lula tende a decepcionar aqueles que agora ficam com expectativas em dimensões estratosféricas sobre o progresso do Brasil. Isso é absolutamente certo, porque os aliados neoliberais, hoje, podem fazer cara de paisagem e fingirem aceitar as pautas progressistas do presidenciável, mas eles irão impor limites.
É da natureza do escorpião picar o sapo, como diz a fábula, e as elites não vão aceitar ousadias políticas, como investimentos públicos ilimitados para Saúde e Educação, aumentos salariais reais e manutenção de empresas estatais e posse do pré-sal pelo poder público federal.
Mesmo se Lula falar para o empresariado que é "pelo povo brasileiro, pela democracia e pelo crescimento econômico", as elites não vão aceitar, porque é da natureza delas pensar mais nos interesses privados. É a realidade, estúpido!
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