Depois de participar do congresso ambiental COP 27, no Egito, o presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva foi se reunir, em Portugal, com o primeiro-ministro Antônio Costa. Durante essa viagem, Lula teve que enfrentar, por meio de suas declarações, a repercussão negativa de suas opiniões a respeito de furar o teto de gastos para garantir benefícios como o Bolsa Família.
Em outra polêmica, Lula também está enfrentando a indignação das Forças Armadas, porque o petista faz questão de que o Ministério da Defesa tenha como titular um civil. Os militares, evidentemente, são contra este critério.
Lula está tentando negociar a respeito do teto de gastos e até agora não há uma posição definitiva. Aparentemente, a PEC da Transição, que trata de uma extrapolação do limite em R$ 198 bilhões, foi enviada para apreciação por deputados e senadores no Congresso Nacional. Se o assunto ficar fechado em janeiro, será menos mal.
Até que ponto Lula irá avançar ou não nas propostas progressistas, ou como se entende como tais, isso não se sabe. Seus projetos sociais nem esquerdistas são. Mas se estabelecer aumentos do salário mínimo em índice pequeno de 8,8% e o próprio benefício do Bolsa Família ser de R$ 600, já causam dificuldades de implantação, o que dizer se Lula tivesse que avançar com valores financeiros maiores?
Lula tem consigo um apoio aparentemente fiel de setores do neoliberalismo ligados ao tucanato clássico, como o próprio vice Geraldo Alckmin e os "pais" do Plano Real, Armínio Fraga, Pedro Malan e Pérsio Arida. Com limites, esses aliados passaram a se inclinar ao apoio de medidas sociais.
O governo Lula enfrenta problemas mesmo sendo o mais moderado de todos os governos considerados progressistas, desde que a Revolução de 1930 deu início à Era Vargas. É certo que o conflito de Lula com o "mercado" não pode ser supervalorizado, pois não é o maniqueísmo entre um líder sindical e o empresariado da Faria Lima, mas antes um novo-rico que se tornou Lula e seus vizinhos da Faria Lima (o petista e sua Janja moram em Pinheiros, aqui em Sampa) em eventuais desavenças.
Lula também disse, em entrevista, que se Jair Bolsonaro tivesse responsabilidade, teria cedido um avião para Lula, em vez dele viajar no jato particular de José Seripieri Filho, dono do Qualicorp e amigo do petista.
Vemos que Lula está vendo a conta que está sendo dada por uma frente ampla demais, pois não é tão simples assim e o termo "democracia" fica muito vago se os conflitos de interesses se tornam evidentes. E Lula, que é impulsivo e indisposto à autocrítica, não consegue acertar nas decisões que ele insiste em manter, e às vezes se sente forçado pelas circunstâncias a dizer coisas como a que foi dita em Portugal: "Sei ouvir conselhos, e, se fizer sentido, segui-los".
Ficaremos observando como será a coisa quando Lula propuser, se é que terá coragem para tanto, a cobrança de taxas para os mais ricos. Boa parte dos ricos é apoiadora do petista, e será uma ingratidão se estes tiverem que pagar impostos e, ainda por cima, mais caros. Infere-se que a coisa será mais amena e Lula terá que trocar os impostos caros por facilidades fiscais para empresas que apostarem na chamada "responsabilidade social". Mas aí é esperar e ver depois.
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